O Velho sul
"Recarregue seu revólver e segure firme os butiá dos bolsos"
Em uma manhã no estado do Rio grande do Sul um senhor de idade, com uma barba bem branca e um chapéu marrom se senta em um sofá de frente a uma lareira das mais quentes, sua casa ficava no meio de uma mata, e ali perto ele criava porcos e galinhas, o velho estava prestes a fechar seus olhos, para puxar um ronco, até que uma pequena menina, que aparenta ter sete, oito anos, abre a porta do seu quarto em um ato de fuga, a menininha corria de seu cão enquanto dava risadas pela casa inteira, mas quando ela passa pela frente do velho, o senhor a segura tirando ela do chão e a erguendo para cima, "aaa! Te peguei."
O velho e a criança dão risadas juntos, até que ele solta a menina na frente da lareira, os dois e o cão ficam encarando o fogo, até que aquele senhor pega um livro de cima de uma mesa, livro esse todo preto com uma figura vermelha em sua capa, figura que simbolizava um gaúcho e seu lenço vermelho, o velho põem o livro no colo e abre na primeira página. "Mais uma de suas histórias, papai!?" O velho a olha e sorri "preste atenção nessa aqui" ela e o cão prestam atenção no livro que o senhor lê, no frio do inverno sobre o calor do fogo.
O Velho Sul
1818, Rio Grande do Sul, 24/04.
Um homem era conhecido por todo o pampa, seu nome era Leopoldo, e vinha lá da Itália, mas todos o conheciam apenas pelo seu sobrenome, Alcântra. Sua juventude foi invejável, ele e seu revólver apelidado de "bico de urubu" assaltavam dos ricos e dividia com os pobres, Alcântra criou a "resistência" que ia totalmente contra os planos do atual governo, e foi em Porto Alegre que uma revolução aconteceu, a resistência atacou diretamente o governo forçando os mesmos a se retirarem de lá abaixo de pau, Alcântra foi reconhecido como o líder dessa resistência, e nomeado por todos como "o Rei do pampa", o lenço vermelho em seu pescoço é sua coroa, todo o Rio Grande do Sul pertencia a ele, todos os peões eram mandados por ele, cada centímetro de terra era dele. Após isso Alcântra teve uma vida comum, se apaixonou por uma prenda chamada Tereza, os dois juntos tiveram dois filhos, mas, não importa o quão bom se é, ou o quão bom tu possas ser, você não vai conseguir fugir… do tempo, a idade caiu sobre seus ombros, por forçar muito mais um olho do que o outro para mirar ele acabou ficando cego de oitenta por cento do olho esquerdo, e o peso da vida caiu por suas costas, forçando o pobre homem a andar se apoiando em uma bengala, Alcântra sabia que a morte estava mais perto do que ele imagina, e mesmo a vida tirando tudo dele… ainda restou uma dúvida, uma questão.
Para quem vai… todas minhas terras?
Alcântra e Tereza tiveram dois filhos, o mais velho era Gaspar de Alcântra, ele tinha mais força que o irmão mais novo, mas sua cabeça fraca fazia com que o mesmo se desequilibrasse às vezes, em seus olhos, a chama da ganância queimava. O mais novo era Pedro de Alcântra, a paciência era sua maior virtude, por mais que seja mais fraco, sua mente não se perdia tão facilmente como a do seu irmão, Pedro quando criança observava tudo e todos, enquanto seu irmão se atirava no problema e tentava resolver o mais rápido possível. Os dois irmãos brincavam nas águas da Santa gruta, uma gruta onde as águas eram mais cristalinas que diamantes, Tereza os observava de perto, enquanto os irmãos se atiravam água um no outro, até que Alcântra chega até o local com uma escopeta em suas mãos, ele chama Gaspar que naquela época tinha 10 anos, os dois vão para a floresta que cercava a gruta, naquele dia Gaspar aprenderia como manusear uma arma, enquanto Pedro curioso quase escapou dos braços de sua mãe para ir de atrás do seu pai e seu irmão, Tereza e ele ficam com os pés dentro d'água, até que Tereza olha bem para seu filho.
"Pedro!... A luz em seus olhos, lembram os meus, enquanto você tiver com esse brilho, sempre terá forças… mas caso um dia esse teu brilho suma, encare seu reflexo nas águas da Santa gruta, ou olhe para o céu azul do Rio Grande do Sul… tenho certeza que isso renovará suas forças"
Pedro era uma criança, mesmo assim ele guardou aquelas palavras para sempre, acontece que o tempo voou e as crianças cresceram, Gaspar fazia seus 20 anos, enquanto Pedro estava com 17, e novamente a dúvida vinha na cabeça de Alcântra, já estava na hora dele decidir isso, e em uma manhã ele tem uma ideia, levantando da cama cedo, ele pega sua bengala e bate no quarto dos dois, os três vão para fora, o seu pai iria propor desafios para ambos os filhos, desafio esses que vão avaliar qual dos filhos está disposto a assumir todo o Riograndense, na prova de mira Gaspar se saiu bem, e na do gatilho melhor ainda, mas no terceiro desafio, Gaspar perde feio para Pedro, um desafio tão simples e o irmão mais velho não conseguiu se sair bem, dali em diante foi ladeira abaixo, afinal Gaspar havia perdido a cabeça. No final do dia Alcântra voltou para casa, se sentando sobre uma cadeira de frente a uma mesa, ele estava em dúvida, se desse o lenço vermelho a Gaspar ninguém no Sul o derrotaria, mas quando acontecesse um problema, menor que ele seja, Gaspar perderia a cabeça, e possivelmente iria tudo acabar… e se desse para Pedro teria habilidades na produção do Rio Grande, mas se houvesse algum duelo pelo lenço certamente Pedro perderia… com a cabeça cheias de dúvidas, o Rei do pampa toma sua decisão final, e na frente do mapa do Rio Grande do sul ele pegou um giz branco na mão e dividiu o mapa parcialmente em dois lados, cada irmão ficaria com uma parte daquela nação.
Pedro se armou com seu chapéu, deu um beijo na testa de sua mãe e um aperto de mãos no seu pai, sozinhos em uma sala, Alcântra com medo das fraquezas de Pedro resolve lhe dar um presente, seu pai puxa da cinta um velho revólver, denominado "bico de urubu" o revólver que ele e seus homens derrubaram o antigo governo, Pedro pega o revólver com um sorriso no rosto, e vai na sala da casa, mas…
Gaspar não estava contente com a situação, ele não queria somente metade do Rio Grande do Sul, Gaspar era ganancioso, ele queria ter o poder de seu pai, o poder de todo um estado, então seu plano se inicia, o irmão mais velho entra secretamente no quarto de seus pais, e falsifica uma carta, fazendo a letra de sua mãe, Tereza, Gaspar escreve uma carta alegando que sua própria mãe havia tido um caso com outro homem e nesse caso ele teve Pedro, mostrando que na verdade Pedro de Alcântra não era filho do poderoso Alcântra, e sim de um fruto de uma traição com outro homem, Gaspar deixa essa carta com algumas coisas de Tereza em cima da cama dos dois. Naquela noite chuvosa seu pai vai descansar finalmente, quando encontra as coisas de Tereza e ao retirar de sua cama acaba derrubando a carta em seus pés, Alcântra pega a carta e de curioso acaba lendo… a raiva o cega, Alcântra da de mãos em um chicote que na parede estava pendurado, e abre a porta brutalmente, o velho mesmo sem forças era movido pela raiva, Pedro estava em seu quarto quando ouve o barulho da primeira chicotada e logo após um grito de sua mãe, com seu pai complementando "desgraçada!" Pedro levanta rapidamente abrindo a porta de seu quarto, a cena que ele vê fica marcada em sua mente para sempre, sua mão ajoelhada no chão, com os braços sangrando, enquanto tenta defender seu rosto, seu pai carregando a próxima chicotada, Pedro corre segurando o braço de seu pai.
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O Velho Sul
ActionJá imaginou uma história estilo velho-oeste, mas se passando no sul do Brasil? Justamente no Rio grande do Sul, em meados de 1818, dois irmãos lutam por cada centímetro do pampa gaucho. Recarregue teu revólver e segure os butiá dos bolsos, acompanh...