Dom Valentim

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Pedro parte em cima de seu cavalo, andando para o norte, passando por terras desconhecidas por ele até então, seguindo estradas abandonadas, passando por pequenas vilas, vendo criança e velhos trabalhando em lavouras, apenas com uma enxada em mãos, nem sequer um chapéu para proteger daquele sol que racha o chão, Pedro segue seu rumo, vendo que realmente o seu estado precisa de um salvador, após passar por uma floresta de eucaliptos ele avista de longe uma pequena vila, com três casas de madeira, um bar um pouco grande e o que mais chamava atenção, uma enorme igreja construída de pedras, Pedro já com fome decide parar nesse lugar, deixando seu cavalo escondido atrás da igreja, enquanto isso a pé ele anda na direção do bar, vendo pessoas passando a sua volta, até que enfim chega no bar, com as mãos no bolso conta suas últimas moedas, já pensando no que vai pedir, à medida que ele anda pelo bar, vê dois homens jogando truco, e mais longe um grupo todos pilchados em preto, com os revólveres bem a mostra, também vê um já bêbado dormindo por cima da mesa, Pedro passa por eles e chega na bancada, puxando uma cadeira e sentando, Pedro vê atrás do balcão um homem tomando um chimarrão, ao ver Pedro ele solta o chima das mãos e vai o atender.

Pedro:— me veja…

Pedro olha em volta, vendo os baguais tomando a mais forte bebida.

Pedro:— um copo de leite.

O deboche se inicia, os gaúchos ali presentes logo caem na gargalhada, "te afirma tchê!", "Assimmm não!!", "Esse é Taura", o homem que o atendia olha sério para Pedro, e solta um sorriso de deboche, mas atende seu pedido, pega logo um copo de vidro colocando em cima do balcão, dá dois passos para trás pegando uma garrafa cheia de leite, o logo o serve, Pedro pega o copo e olha no fundo dos olhos do homem.

Pedro:— E agora… uma manga, da mais verde que tu tiver.

O bêbado que estava dormindo chega a acordar assustado, os taura do truco perdem as cartas da mão, um dos gaúcho que ali estava não tira os olhos de Pedro, "a lenda… a lenda do leite com manga…", o homem que o atendia se assusta com o pedido, mas logo o serve, pegando uma manga bem verde, Pedro pega a manga com uma mão e o leite com a outra, dá uma baita mordida e engole com um gole do leite.

Pedro:— não tenho medo da morte. Mas vamo pro assunto mais sério… tu conhece um tal de Dom Valentim?!

O homem logo leva um dedo na boca, fazendo o sinal de silêncio, "shhhhhh! Não falamos esse nome por aqui."

Pedro:— mas tchê, por qual motivo?

Homem:— ele é o gaudério dessa região… podemos morrer se pronunciamos o nome dele assim…

Pedro:— ele mesmo que eu quero!

Homem:— mas tchê, ninguém… nenhum homem conseguiu vencer aquele taura.

Pedro:— Sorte minha… que eu não sou um homem.

O homem que o atendia dá um pulo para trás, e segura na guarda de seu facão

Homem:— mas que papo é esse tchê?!

Pedro:— não sou um homem. Sou um gaúcho!

O homem fica mais aliviado e surpreso com a resposta, ele solta a mão da faca e comprimenta Pedro.

Homem:— prazer… meu nome é Paulo, e do que tu precisa?

Pedro:— preciso saber aonde encontrar esse gaudério aí.

Paulo fala mais baixo.

Paulo:— Sabe essa igreja aqui do lado? Ele geralmente fica por lá…

Pedro levanta batendo no balcão, pega suas últimas moedas e paga.

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