Bar a beira-mar

2.4K 143 108
                                    

Ainda fazia pouco tempo que eu e Brasil tínhamos assumido nosso namoro quando fui visitar sua terra-natal, ele disse que eu precisava experimentar ficar em um bar a noite toda ouvindo música boa e bebendo cerveja com ele. Não me parecia uma proposta ruim, então aceitei.

Porém eu não imaginava que a conversa do bar era literal, pois no segundo dia que eu estava naquele país, Brasil me arrastou para um restaurante à beira-mar que não estava muito cheio, porém também não estava vazio.

O lugar era bonito, tinha apenas um muro baixo cercando o local, cerca de 1 metro de altura, várias mesas de 4 lugares espalhadas de forma desengonçada pelo salão. Porém o que mais chamou minha atenção foram as paredes, elas eram totalmente preenchidas com pichações sobre o país, com a bandeira do Brasil como foco de tudo, era uma bagunça, porém uma bagunça bonita de se olhar.

-Eu sei, é lindo não é? Foi por isso que te trouxe aqui, é um dos melhores bares que já fui e a música é boa também.

-É bonito mesmo, mas no entiendo nada que está nas paredes- Yo no mentí quando disse que era bonito, porém aparentemente só era compreensível para um brasileiro, pois as imagens e frases eram totalmente sem sentido.

-Demoraria um pouco explicar cada uma delas, mas no geral é só sobre a cultura do Brasil- ele disse isso enquanto chamava o garçom para pedir nossas bebidas.- O que você vai querer?

-Uma caipirinha de morango- Eu não estava muito a fim de me arriscar nos drinks naquela noite, uma caipirinha era uma escolha segura.

-Que sem graça- ele se virou para o garçom- Uma caipirinha de morango e uma Heineken por favor

-Que mierda é Heineken? Nome estranho- ele apenas deu uma risadinha e apoiou o queixo em uma das mãos

-É só uma marca de cerveja loirinho- levou sua outra mão ao meu cabelo e colocou uma mecha que caia no meu olho atrás de minha orelha.

-Depois minha caipirinha que é sem graça- revirei meus olhos, o que fez o moreno dar uma risada anasalada.

-Eu tô só começando princesa- Seus lábios se abriram em um sorriso malandro enquanto cantava as palavras.

////

Brasil já tinha bebido muito, e não posso dizer algo diferente de mim mesmo, porém o moreno é muito mais resistente a álcool do que eu, o que significa que enquanto eu já estava a alguns drinks de ficar 100% bêbado, Brasil poderia facilmente se passar por alguém que no había bebido nada.

Depois que terminou sua cerveja Brasil levantou e me puxou pela mão para o meio do salão, que estava sendo usado como uma pista de dança.

-Essa música é boa, tem que ter a experiência completa- O moreno tinha um sorriso de lado em seus lábios.

Brasil passou os braços pela minha cintura e apoiou seu queixo em meu ombro, cantando junto com música que tocava no bar, ela tinha um ritmo calmo e relaxante, quase como uma canción de ninar.

"O meu lugar, é caminho de Ogum e Iansã
Lá tem samba até de manhã
Uma ginga em cada andar"

A música parecia realmente carregada de sentimentos para os brasileiros, já que todos à nossa volta cantavam abraçados e com vozes calmas e carregadas de emoções.

"O meu lugar
É cercado de luta e suor
Esperança num mundo melhor
E cerveja pra comemorar

O meu lugar
Tem seus mitos e seres de luz
É bem perto de Osvaldo Cruz
Cascadura, Vaz lobo e Irajá"

Eu não estava entendendo quase nada que a música queria dizer, entendido las palabras, porém não seus significados. As pessoas começaram a sorrir e se balançarem mais, como se esperassem a melhor parte da música chegar.

"O meu lugar
É sorriso é paz e prazer
O seu nome é doce dizer
Madureira, lá laiá
Madureira lá laiá"

Senti cada pelo do meu corpo arrepiar quando todos praticamente gritaram os dois últimos versos da música, dizendo o nome "Madureira" como se fosse algo sagrado. Até mesmo Brasil havia me soltado e levantado os braços enquanto cantava com todo o ar que lhe era posible.

Olhei para os lados, prestando mais atenção nas pessoas à minha volta. Um grupo de pessoas, aparentemente amigos, todos com os braços passando pela lateral do corpo um do outro, alguns tinham lágrimas nos olhos, outros sorrisos enormes, porém todos cantavam alegremente.

Um casal jovem, uma menina de cabelos compridos e morenos, com uma canga amarrada de forma que parecia um vestido e um rapaz loiro, alto e bem definido apenas de bermuda e chinelo, os dois dançavam abraçados enquanto cantavam a música e vez ou outra depositavam beijos nas partes expostas da pele um do outro.

Uma mulher com um bebê no colo, ela segurava uma das pequenas mãos da criança um pouco mais afastadas e elevadas ao corpo, como se estivessem dançando uma valsa, e ficava balançando perdidamente para os lados, mas aquilo fazia o bebe gargalhar de uma forma extremamente satisfatória e isso só fazia a, talvez mãe da criança, sorrir mais e mais.

Um casal de idosos sentados em uma mesa perto da saída, afastados das outras pessoas, com as mãos dadas e pequenos sorrisos no rosto, apenas balançavam a cabeça para um lado e para o outro enquanto cantavam a música se entre olhando.

Uma garota perto do muro, de cabelos curtos, cacheados e volumosos, com uma camisa de botão preta aberta, revelando um biquíni verde-escuro por baixo, junto com um short branco que ia um pouco acima do meio da coxa, ela não devia passar de uns 13 anos. Mantinha os olhos fechados e as mãos apontavam para o alto enquanto esbravejava a música como se sua vida dependesse disso, ela balançava a cintura em ondas, de uma lado para o outro, de uma forma tão leve e que eu acho que só um brasileiro conseguiria reproduzir, a menina parecia incrivelmente contente apenas por estar ali cantando e dançando.

Passei meus olhos por todo o restaurante e percebi que todos pareciam felizes apenas por estarem cantando aquela música que se referia a tal da "Madureira", era algo lindo de se ver, era algo tão simples, mas que com certeza mexia com todos os brasileiros.

Me senti feliz apenas por presenciar aquele momento. Voltei meus olhos para o moreno a minha frente e ele estava olhando para mim com uma expressão quase que apaixonada, a julgar por seu rosto eu mesmo devia estar sorrindo enquanto olhava aquela multidão. Nem pensei duas vezes, ou talvez nem tenha pensado, quando levei minhas mãos para seu rosto e olhei nos olhos do moreno, antes de lhe dar um beijo leve e apaixonado. Suas mãos já estavam em minha cintura quando separei nossos lábios e sussurrei em seu ouvido.

-Em casa tienes que explicarme o que é essa tal de Madureira- Mesmo que eu tivesse entendido que a música mexia com os brasileiros, eu não tinha entendido nada da letra realmente.

Brasil apenas riu e concordou com a cabeça.

-Com todo o prazer corazón...

///////////////////////////

Ahhhh

Eu estava com essa ideia na cabeça a MUITO tempo e finalmente criei coragem e botei no papel realmente. Ficou meio sem sentido, porém eu gostei.

Desculpa se alguma palavra em espanhol estiver errada, tentei ao máximo usar palavras que fossem parecidas nas duas línguas para não dificultar a leitura, mas nunca se sabe né.

Votem no capítulo ai na moralzinha, ajudar a amiguinha aqui <3

Meu lugarOnde histórias criam vida. Descubra agora