Seria possível viver com um espaço em branco dentro do seu ser? Uma lacuna que parece dividir as duas metades da terra e tornar impossível criar novas sensações senão aquelas que remexem nossa alma? A resposta era simples e um tanto dolorosa vindo de mim que a pouco pensei ter encontrado a resposta para a charada que Johanna Mitchel estampava na testa acerca do seu mistério e das suas dores com relacionamentos anteriores fracassados que hoje a impediam de amar.
Eu estava perto de descobrir a resposta e sabia que poderia me machucar, é claro. Mas não mais do que ela aparentemente já estava machucada.
Por ser insegura e as vezes auto derrotista, a única maneira de conter a minha dor, era saber que eu não tinha feito nada de errado dessa vez — ao menos acreditava que não tinha feito. Mas, nem mesmo aquilo foi capaz de afastar a "culpa" que Johanna jogava sobre mim ao insistir que fiz algo tão terrivelmente errado que fez tudo o que vivemos, parecer um nada.
Durante um tempo, até recitei meus mantras para que não se sentisse verdadeiramente mal e os pensamentos terríveis voltassem a me assolar.
E isso foi a três semanas atrás.
Há 21 dias o vazio parecia criar um eco dentro da minha alma.
Ela não queria me ver. Ela não queria falar comigo já que todos os dias, a todo momento ela estava online nas redes sociais, mas sequer manifestava interesse em falar comigo. Pela manhã era comum que eu enviasse uma única mensagem, mas a cada uma que juntava era uma nova decepção. Após 21 delas (isso para ela não acabar me bloqueando e assim a corda que segura meus tornozelos enfim ganhar força e me puxar para o abismo), a minha esperança já estava sendo estrangulada por outra corda — dessa vez uma cheia de espinhos — e um suspiro percorreu pela minha garganta.
É possível que uma garota possa sentir rancor por tanto tempo e de forma tão intensa? Qual é, uma pessoa por mais errada que estivesse, deveria se dar a chance de corrigir o erro e ao menos explicar a situação caso esteja mesmo errado. Eu o fiz; A encarei de frente três dias após ela descobrir o mais profundo segredo do meu corpo, o que me tornava diferente se comparada as outras mulheres no mundo — bem, ELA me encarou de frente, mas ainda continuava sendo uma superação que eu julgava impossível.
Naquele momento a olhei tão profundamente nos olhos, insistente de que não era o que ela procurava; uma mulher completa, e quase a fiz desistir de mim, mas ela não o fez. Do contrário, correu de um extremo ao outro da cidade para me encontrar e eu me permitir falar e ser ouvida.
Ah, quando lembro de como falamos, das vezes em que os sentimentos falaram mais alto que a razão e ambas nos permitimos ser humanos.
No nosso primeiro beijo em Riverdale durante o ano novo:
"Esse era o meu maior desejo; te beijar quando um novo ano começasse".
No nosso primeiro encontro no restaurante chique:
"... Além de que, se não fossem esses três encontros, jamais teríamos chegado até aqui."
E no caminho do Motel onde fomos para cama pela primeira vez:
"... eu sai de casa muito cedo na tentativa de encontrá-la e não desistiria até que pudesse olhar em seus olhos mais uma vez."
Tudo aquilo tinha sido em vão? Uma única coisa foi realmente suficiente para que ela perdesse a confiança em mim de forma a praticamente me jogar no abismo e me esquecer?
Mas onde eu errei exatamente?
Assim como ela, eu iria até o fim do mundo para tentar explicar e saber realmente o que aconteceu. Não é assim que um amor morre e eu não me permito que ela vire as costas sem ao menos me dizer o motivo para me odiar tanto.
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Meu Indomável Prazer (Edição Definitiva) | Exclusivos Amazon!
RomanceSurpreendida com o repentino surto de Johanna Mitchel acerca de terríveis suspeitas, Cecilia sente-se culpada pelo rompimento da relação que construíam. Em busca de respostas, ela chega a tentar até mesmo medidas extremas para reconquistar o amor e...