Chapéu de palha

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Ace perdeu tudo.

Sua casa, sua família, sua cidade. E acabou de perder sua dignidade. Porém foi de expressão vazia que buscou o dinheiro ao lado da cama, se ergueu vestindo suas roupas que mais pareciam trapos e saiu daquele quarto.

Conseguiu respirar um pouco mais vivo fora daquele lugar e de mãos tremulas guardou os yen no bolso da calça surrada.

Seu pensamento era um só, e fixado nessa ideia voltou para a casa do antigo amigo que estava o abrigando até conseguir seu próprio destino. Encontrou seu pedaço de felicidade e quem preenchia boa parte de seu vazio deitado em uma manta no chão todo enrolado e abraçando um travesseiro.

Ele era pequenininho, pouco mais de três anos e seu filho. Ace perdeu a noção do tempo que ficou naquela posição antes de arrumar as mochilas, buscar um pouco de comida dos armários e deixar algum dinheiro sobre a mesa. Seu amigo nunca pediu nada, nunca reclamou de sua presença com seu filho, mas Ace não achava certo e sempre preservou a decisão de pagá-lo um dia.

Olhou a mixaria que deixou brevemente e foi buscar seu filho. Não o acordou, somente se equilibrou com as duas mochilas e o garoto no colo escondido dentro da manta e saiu daquela casa.

Ace não queria estar vivo.

Ele foi quebrado, usado, humilhado e achava que já tinha tentado viver por tempo demais. Porém agora tinha um filho e precisava dar ao pequeno pelo menos uma chance.

Já era manhã quando conseguiu pegar o trem para longe daquele lugar, para nunca mais voltar. Queria tanto esquecer, apagar aquela cidade e pessoas de sua mente, mas quantas vezes ele já não desejou aquilo sem nunca conseguir?

Nada mudaria porque ele ainda estava ali. Ele era o problema, ele arruinava tudo o que tocava ou mesmo tudo que desejava. Era isso, ser um ser desejante o fazia errar. Então não queria desejar mais nada.

Olhou para o pequeno ainda em seu colo embrulhado em um sono profundo e não se permitiu chorar, mas as lágrimas vieram mesmo assim. Não tinha como não desejar mais nada, afinal ainda tinha Luffy.

Ele precisava ser forte. Pelo menos até o menino crescer e poder seguir com a própria vida. Com tantos pensamentos Ace nem notou que adormeceu, nem se lembrava mais a última vez que dormiu, mas quando voltou a acordar o trem estava parado e nada em suas mãos.

Pareceu um filme de terror em sua cabeça conturbada, mas durou segundos para levantar o rosto e chamar desesperado pelo filho.

Algumas pessoas se assustaram e Ace procurou por todos os bancos e cabines, pelas janelas do lado de fora, seu peito batia frenético e imaginou que logo teria um ataque de pânico o que só pioraria tudo.

Ninguém mandou dormir! Ele sempre causava algo horrível! Como Luffy poderia ter escapado de suas mãos e sumido naquele lugar?!

- Olá, você está procurando...

- M-meu f-filho! Por favor! Ele é só um bebê! – Ace nem olhou para a pessoa que tentava o arrancar algo de útil e correu para fora daquele trem desesperado atrás de Luffy.

Enquanto procurava alucinado por toda a estação, gritando aos quatro ventos e já, novamente, chorando avistou o trem partindo e correu assustado. Não pelas mochilas e sim pela chance de Luffy poder ainda estar ali. Aquilo só passou por sua cabeça, mas o fez correr e gritar para pararem o trem. Sabia que era em vão, mas tentou.

Foi nessa confusão toda que avistou o pequeno moreno. Não dentro do trem e sim saindo de uma loja de frente a estação do outro lado, nas mãos um grande chapéu de palha. Ace não pensou somente saltou e atravessou aqueles trilhos agarrando seu filho com força o erguendo do chão.

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