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A inusitada dupla chegou em um campo aberto.
– Chegamos - disse a ruiva.
– Mas não há nada aqui!
De fato, não havia nada além de grama em um raio de pelo menos dois quilômetros, mas a realidade é apenas uma questão de percepção. Só vemos aquilo que queremos ver.
– A minha nave está logo ali – ela disse, apontando para o meio do nada.
Douglas forçou a vista.
– Não vejo nada.
A alienígena que parecia uma elfa sorriu.
– Este é exatamente o ponto. A nave está protegida por um campo POP.
– Um campo o quê?
– Um campo POP. Problema de Outra Pessoa. Vamos, não há tempo para explicações.
Avançou rapidamente pelo campo. Douglas ficou parado algum tempo, sem reação. O dinossauro fungou em seu cangote e ele deu um salto para frente, de susto. A elfa riu.
– Acho que ele gostou de você.
E seguiu adiante. Douglas também seguiu, vendo que não havia outra opção.
Ao se aproximarem, o campo POP foi desativado revelando a nave.
– Uau! – Douglas exclamou. E depois, como se fosse preciso reforçar a ideia, disse novamente – Uau!
– Chama-se Coração de Ouro II. Eu peguei emprestada do meu tio.
Entraram na nave. Encaminharam-se para a ponte de comando, com o dinossauro atrás.
– Olha, obrigado pelo passeio de dinossauro e por ter salvo a minha vida, - ele disse – mas eu ainda quero muito saber o que está acontecendo aqui. A começar pelo seu nome.
– Meu nome Gilly. E este ai ao seu lado é o Rex – disse, apontando para o dinossauro. – Venha, vou lhe apresentar os outros.
Chegaram na ponte de comando. Havia mais dois sujeitos igualmente estranhos. Havia um velho com aparência humana, mas com a barba branca tão grande que parecia o Gandalf, o Cinzento. O outro era definitivamente humano, mas se vestia como um caçador de recompensas, daqueles que explodem cybors.
Gilly fez as apresentações:
– Jharmitvakz, mas nós o chamamos simplesmente de Velho. E Johnny, o Mercenário. Há também Héctor, o cyborg. Você o conheceu no pub. Ele deve estar voltando agora. Somos os Caçadores Exploradores Intergalácticos – concluiu com orgulho.
– Foi por este cara de pastel que arriscamos nossas vidas? - Disparou Jhonny.
– Ele não é um cara qualquer. Ele sabe a Resposta. Precisamos levá-lo para um lugar seguro. – Virou-se para Douglas – Não se incomode, ele tem esse jeito chato mesmo.
– OK. Vamos partir imediatamente. – Jhonny disse.
– Não! Precisamos esperar Héctor voltar – ela retrucou.
– Por mim, deixaríamos essa lata-velha nesta planeta fodido.
Mas esperaram mesmo assim. Héctor voltou em menos de dois minutos.
– Desculpem a demora. Mas eu tive que procurar meu sombrero – explicou, com sua voz metálica.
Então partiram.
– Toma! – Gilly falou a Douglas, jogando um objeto retangular. – Vai te ajudar a entender as coisas. Ai tem as respostas para as suas dúvidas – Fez uma pausa, franzindo o cenho. – Ou pelo menos para quase todas elas.
Douglas observou o objeto. Parecia um livro. Havia a frase "Não entre em pânico" escrito em letras garrafais. Gostou dessa parte. Mas quando ele o abriu, parecia a tela de um computador.
– O que é isso?
– É o Guia do Mochileiro das Galáxias. Basta apertar este botão aqui. Pronto. Agora é só pesquisar o termo que quiser. Ah, outra coisa. Não temos muitos quatros disponíveis, então você terá que dividir um cubículo com o Rex.
– Com o dinossauro?!!
– Não se preocupe. Ele não morde.
Douglas duvidava dessa parte.
– OK. Mas ainda não entendo o que está acontecendo por aqui. Por que aquele cara azul estava atrás de mim?
Ela explicou:
– O nome dele é Thienk Sharkubyvizt. Ele é um Agente Ultra-Secreto do Serviço de Espionagem da Associação Galáctica. Ele está a sua procura por que você sabe a Resposta para a Pergunta. Fomos contratados para leva-lo para um universo alternativo onde ninguém saiba qual a Pergunta.
– Não estou entendendo nada. Não sei qual é essa Pergunta da qual tanto falam. E quem contratou vocês?
– Ora, o Presidente da Galáxia. Quem mais seria? – ela disse, levantando os braços.
Uma voz foi ouvida nos autofalantes da nave. Era a voz do Velho:
– Estamos prontos para ativar o motor de improbabilidade infinita. Preparem-se.
Toda a realidade se contorceu e perdeu o sentido, e todas as possibilidades colapsaram em um único ponto. Quando tudo voltou ao normal, estavam do outro lado da galáxia.
Douglas passou o resto da viagem lendo o Guia e aprendendo sobre as maravilhas e estranhezas do universo. Por fim, resolveu dormir. Ou tentou dormir. A presença do dinossauro no quarto incomodava-o em um nível mais que psicológico. Tentou convencer-se de que aquilo não passava de um sonho maluco ou alguma alucinação causada pela cerveja. Sim, tentou acreditar que aquilo era algum tipo de alucinação, que ele adormecia e que tudo estaria magicamente explicado quando acordasse. Sim, quando ele acordasse estaria deitado confortavelmente em sua cama, o dinossauro não mais estaria lá e ele teria certeza de que tivera uma alucinação. Adormeceu com este pensamento e estranhamente sonhou com Gilly. Foi um sonho bom.
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Quarenta e dois
Short StoryEste conto foi escrito por mim especialmente para o Dia da Toalha e foi postado originalmente no site do Clube de Autores de Fantasia, como uma homenagem ao Douglas Adams. Estou disponibilizando aqui e no Widbook para que mais pessoas possam lê-lo...