O restante da viagem foi tranquilo. Usaram novamente o motor de improbabilidade infinita e depois viajaram em velocidade sub-luz por dois dias. Gilly, que tinha excelentes dotes culinários, resolveu preparar um refeição especial, tipicamente terráquea: peixe frito. Foi bem simples, mas Douglas sentiu-se bem comendo algo conhecido.
– Obrigado pelos peixes – ele agradeceu.
Nas horas vagas – que eram muitas – ele lia o Guia e quando não entendia algum conceito, Gilly estava sempre lá para lhe explicar. O universo era realmente fascinante.
– Aonde estamos indo, afinal? – ele perguntou, em certo momento.
– Estamos indo para o planeta Maximegalon.
– O mesmo daquela famosa Universidade?
– Este mesmo. Mas não vamos fazer uma visita a ela. Precisamos levá-lo para outro universo paralelo, um no qual não se saiba qual a Pergunta. Assim, você pode viver tranquilo com a Resposta.
– Eu já lhe disse várias vezes, eu não sei qual é essa Resposta da qual estão falando.
– Ah, você sabe sim. Só não sabe que sabe. Mas enfim, não é tão simples assim viajar através da Mistureba Generalizada de Todas as Coisas. É preciso uma nave com um motor especial. Vamos arranjar uma neste planeta.
– Ah!
Pousaram no espaço-porto. A equipe de solo – Gilly, Héctor e Douglas – desceu. Para seu alivio, o dinossauro ficou na nave, junto com o Velho e Jhonny. O espaço-porto ficava em cima de uma grande torre flutuante. Eles desceram direto para o primeiro andar, onde ficava um lugar chamado Bar da Alvorada. Gilly levava uma maleta preta.
– Pessoas de todos os universos e tempos veem até aqui para se encontrarem – ela explicou. – Se há um lugar onde podemos encontrar uma nave para sairmos deste universo em particular, é aqui.
Mas que lugar mais estranho, cheio de criaturas estranhas, Douglas pensou. Depois mudou de ideia. Não, para eles, eu é que sou o estranho.
Havia um sujeito que parecia um besouro barbado sentado no canto. Ele estava reclamando de sua vida para um sujeito de capuz:
– Então o maldito Jedi tomou o meu escravo.
– Aquele que se chamava Anakin?
– Esse mesmo. Aquele era um garoto prodígio!
Do outro lado, havia duas iguanas. Uma delas apontou para Douglas:
– Olha só, aquele sujeito estranho.
– A vida é um troço estranho – respondeu a segunda iguana.
– Vamos, Douglas! Não podemos perder muito tempo aqui – Gilly o arrastou pelo braço.
– Vida longa e próspera! – disse um cara orelhudo em outra mesa, propondo um drinque. Douglas tinha a impressão que já o vira em algum lugar, mas não lembrava de onde.
– Assim dizemos todos! – respondeu um sujeito que parecia o comandante de alguma nave.
Foram até uma mesa onde havia um sujeito alto, magro e esverdeado. Gilly tomou a frente da conversa.
– Então, Wowbagger. Conseguiu o que eu lhe pedi?
Ele sorriu.
– Foi tão fácil quanto enganar uma Besta Voraz de Traal. – Apontou para Douglas – É este o terráqueo idiota?
– Sim, é ele. Agora, vai me arranjar o Módulo de Desdobramento de Tessitura ou não?
– Você trouxe que eu lhe pedi?
– Claro.
Wowbagger passou-lhe uma maleta preta. Gilly verificou o conteúdo. O Módulo estava lá. Tudo OK. Ela passou-lhe a sua maleta. Wowbagger verificou o conteúdo. Tudo OK. Fizeram a troca. Depois se separaram.
– O que tinha na sua maleta? – Douglas perguntou, depois que cara verde foi embora.
– Uma Bomba de Hárdrons Hiper-Excitados – ela respondeu em tom casual.
Douglas não entendia realmente de física, mas achava que uma Bomba de Hárdrons Hiper-Excitados poderia fazer um verdadeiro estrago, do tipo que o seguro não cobre.
– Para que ele quer isso?
Ela deu de ombros.
– Ah, você sabe. Ele está apenas tentando se matar. – Fez uma pausa. – Só espero que ele tenha a perspicácia de explodi-la bem longe daqui.
Tiveram que esperar algum tempo, pois o velho precisava instalar o Módulo no motor da Coração de Ouro II e fazer uns ajustes. Gilly e Douglas esperaram no Bar. Ele experimentou uma aguardente Janx, mas não gostou.
– Você não teria um chá por aqui, teria? – perguntou ao garçom.
– Desculpe, senhor, você disse o quê?
– Chá.
– Não conheço esta bebida.
Douglas pensou em perguntar-lhe de que planeta ele veio, mas desistiu. Era óbvio que não era da Terra. Resolveu sair para a varanda, respirar um pouco de ar puro alienígena.
Gilly aproximou-se.
– O Velho disse que terminará em meia hora, e então partiremos para seu novo lar.
Douglas não estava exatamente ansioso para ver seu novo lar. Na verdade, não estava nem um pouco desejoso. Gostava do seu antigo lar, tal como ele era. Gostava de sua vida tal como ela era, mas as coisas sempre mudam sem a nossa permissão.
– Não sei se estou realmente preparado para isso. Sabe essa... essa mudança foi muito rápida.
– Demora mesmo um tempo para se acostumar, mas você acaba se acostumando. Também foi um choque para mim. Meu planeta é pequeno, como o seu, e no geral, não sabemos que existem outros sistemas com vida inteligente. Me senti relutante no começo, mas depois vi o quanto isso é o máximo. – Ela apontou para o céu estrelado –Outros mundos, outras culturas, outra civilizações. Pense em todas as infinitas possibilidades que todos os infinitos universos nos proporcionam. Tantas coisas a serem exploradas, lugares para serem visitados, pessoas novas a conhecer. – Ela parou e sorriu – Apesar de tudo, eu gostei de conhecer você. Você é um cara legal, Douglas. Um dupal mingo.
Douglas estava realmente tocado. – ou talvez fosse a friagem. Olhou para o céu e contemplou as luas – Maximegalon era orbitada não por uma, mas por sete luas. Naquela época do ano, era possível ver apenas quatro delas. A prateada era a maior e mais bela e fornecia o cenário perfeito.
– Também gostei de conhecer você, Gilly. Ah, eu nunca agradeci por ter salvo minha vida, então obrigado.
– Não há de quê – ela respondeu.
Seus olhares se cruzaram. Suas mãos se entrelaçaram, timidamente. Houve um sorriso sincero em seus lábios. Seus corpos se aproximaram, as respirações ofegantes. Seus olhos se fecharam, e seus lábios estavam se procurando.
Então a lua prateada explodiu, sem nenhum motivo aparente.
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Quarenta e dois
Short StoryEste conto foi escrito por mim especialmente para o Dia da Toalha e foi postado originalmente no site do Clube de Autores de Fantasia, como uma homenagem ao Douglas Adams. Estou disponibilizando aqui e no Widbook para que mais pessoas possam lê-lo...