Parte 4

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Quando ele acordou, o dinossauro ainda estava lá. Suspirou, decepcionado.

Foi para a ponte de comando e chegou perguntando:

– Alguém sabe onde posso conseguir chá?

Todos estavam debruçados sob os controles, observando as telas.

– O que aconteceu? Há algo de errado?

– Problemas – Gilly respondeu, em tom seco. – Sabe aquele pessoal que estava atrás de você? Pois bem, eles trouxeram a cavalaria.

Douglas vislumbrou as imagens nos monitores. Uma dúzia de naves espaciais estava em rota de colisão com a Coração de Ouro II. O velho olhou para o mercenário:

– Jhonny?

– Nem precisa dizer duas vezes. – Virou-se para Héctor e disse – Vamos, hermano. É hora do show.

O mercenário e o cyborg correram para a ponte de lançamento e cada um deles entrou e uma nave que pareciam caças de guerra.

– Ei, velho. Abra a escotilha – gritou Jhonny, pelo rádio.

O cara barbudo de nome impronunciável apertou um grande botão vermelho e a escotilha foi aberta, lançando os dois caças no espaço. Douglas estava nervoso.

Ainda deve ser quinta-feira, pensou.

Virou-se para Gilly:

– O que eu faço?

– Dê de comer ao Rex. Ele fica com fome quando está nervoso.

Douglas piscou, incrédulo. Pensou em dizer "E eu? O que eu faço quando estou nervoso?" Mas desistiu. Por fim, virou-se e saiu.

– Eu preciso urgentemente de um chá – ele resmungou.

Da ponte de comando da frota inimiga, Amélev coordenava tudo.

Se quiser fazer algo bem feito, ela pensou, faça você mesma.

Pelos monitores, ela observava a aproximação de dois pequenos caças, saídos da Coração de Ouro II.

– São muito tolos se pensam que vão derrotar doze caças com apenas dois. –murmurou para si mesma. Virou-se para seu imediato e deu as ordens – Capitão! Abrir fogo!

Então o show começou.

– Gilly? Consegue hackear o sistema deles? – Jhonny perguntou, pelo rádio.

– Não há nenhum sistema que eu não consiga hackear, baby. Já estou dentro.

– Então pode começar com a interferência!

Em todos os canais de comunicação das naves inimigas começou a tocar "All along the wathtower", na versão do Jimmy Hendrix.

– Por Zarquon! Mas que música é essa?! – Queixou-se Amélev.

– Comandante, alguém está interferindo em nossas comunicações. Requisito ordens – disse um dos líderes de esquadrão, mas é claro, a comandante não ouviu.

Os caças inimigos ficaram confusos e quebraram a formação. Começaram a atacar aleatoriamente, disparando raios laser em todas as direções. Jhonny e Héctor desviavam com maestria do ataques, penetrando cada vez mais no flanco inimigo.

– Acionando os canhões de raio de improbabilidade – Jhonny informou à Gilly. Héctor fazia o mesmo. – Estaremos prontos em 3, 2, 1... Héctor, disparar!

Os dois caças começaram a disparar estranhos e difusos raios cor-de-rosa contra as naves inimigas. Quando eram atingidas, estas se contorciam loucamente no tecido da realidade e então se transformavam em algo totalmente aleatório. A primeira se transformou em uma banana-split gigante. A segunda foi substituída por guarda-chuva. Uma terceira virou uma cafeteira e uma quarta passou a ser um bule de chá voador. A quinta tentou uma manobra evasiva, mas foi atingida mesmo assim e transformou-se em um monstro em forma de spaguetti, com as almôndegas inclusas.

– Lider vermelho, deve haver um meio de sairmos daqui. Há muita confusão aqui – gritou o líder azul por cima da música.

– Não há nenhuma razão para ficar excitado, líder azul... – Mas a comunicação foi cortada quando o caça do líder vermelho transformou-se em trator amarelo.

Agora os caças restantes estavam batendo em retirada, voltado para a nave mãe. Esta, entretanto, estava muito ocupada executando sua própria fuga. Mas não foi rápida o suficiente. Jhonny estava em seu encalço, enquanto Héctor cuidava dos últimos caças, transformando-os em coisas aleatórias. Surgiram um salame, uma cabine de telefone, um sanduiche (feito de carne de Bestas Perfeitamente Normais), um DeLorean, um vogon (que recitou uma poesia por trinta segundos, antes de sufocar) e um colchão falante. Por fim, Jhonny alcançou a nave-base e disparou o terrível raio cor-de-rosa.

– Oh, não! - foi a última coisa que Amélev disse antes de virar um vaso de petúnias.

– Urrú! É nós que voa, bruxão! – Jhonny comemorou.

– Missão cumprida – relatou Héctor em sua voz robótica.

– Bom trabalho, rapazes! – disse Gilly, pelo rádio.

Neste momento, Douglas retornou a ponte de comando, com o pé esquerdo descalço:

– Gilly, o dinossauro comeu o meu sapato – foi tudo que disse.

Quarenta e doisOnde histórias criam vida. Descubra agora