Quando As Estrelas Pararem de Brilhar

Capítulo 4 - Um, Dois, Não Olhe pra Trás

O refeitório do manicômio onde Jonathan estava internado era grande, e surpreendentemente confortável. Havia até mesmo alguns sofás e televisões para os internos aproveitarem seu horário de descanso. Os funcionários comiam junto dos pacientes, conversando e brincando com os mesmos, quase como se fossem família. Tanto que boa parte dos novos funcionários eram pacientes que já haviam finalizado o tratamento, mas não queriam ficar longe do lugar.

Era como se o prédio fosse um ímã, sempre os atraindo até ele. Jon por outro lado, não via o momento em que enfim poderia ir embora daquele lugar. Naquele momento ele estava apenas desfrutando de seu almoço, batata frita, feijão, salada e grão de bico. Sem carne, como sempre. Ninguém sabia se ele era vegetariano ou se o massacre do acampamento havia feito com que ele criasse repulsa pelo alimento.

Coeur o encarava intensamente, qualquer um poderia notar isso, mas ninguém teve coragem de intervir. E o Kent simplesmente decidiu ignorar aquilo e focar em suas batatas, que pareciam bem mais apetitosas.

A atmosfera clara, era adornada com música clássica nas caixas de som, certamente foi a vez do senhor Benedito escolher a trilha sonora do refeitório. Ele amava limpar tudo enquanto escutava o som de um violino e um piano bem afinado.

Jonathan era o único que estava sentado sozinho em todo o refeitório. E não era porque ninguém queria sentar com o azulado, várias pessoas tentaram, contudo sempre eram mandadas embora. Ele não queria socializar com ninguém. Ele falava unicamente com Harleen, que às vezes o acompanhava no jardim ou nos corredores.

Erick então tomou coragem e foi até ele junto de seu prato de macarrão a bolonhesa. No momento em que ele se sentou, Jonno olhou para ele como se quisesse que ele sumisse da sua frente imediatamente, o que não estava tão longe da realidade.

— O que está fazendo aqui? — Ele questionou, com um tom de voz rude e áspero.

Seu cabelo estava amarrado com um pompom, para evitar que se sujasse de comida. Pela primeira vez, Coeur pôde ver seus olhos claramente, sob a luz eles pareciam brilhar como duas jóias raríssimas, mas bem no fundo havia algo faltando, como se a alma de Jonathan Kent já não estivesse mais em seu corpo pálido como uma vela.

— Comendo, geralmente é isso que se faz em um refeitório. — Explicou, dando uma garfada em seu macarrão, cujo molho escorria através da massa, pingando dramaticamente no prato, formando uma imagem que se assemelhava a uma poça de sangue.

Quando o garoto viu aquela cena a sua frente, sentiu seu estômago se revirar e teve que se segurar para não gorfar na frente de todos os pacientes. Erick obviamente notou a reação.

— O que foi, não gosta de picadinho?

— Eu vi uma pessoa sendo jogada em um triturador de madeira e quando ele saiu da máquina ele estava bem parecido com isso. — Retrucou, virando seu rosto para o outro lado enquanto tentava recuperar o seu apetite.

— Bem, se ele for tão delicioso quanto esse macarrão, por mim tanto faz. — Erick estava apenas brincando, evidentemente, porém foi o suficiente para que o outro olhasse para ele como se julgasse cada um de seus pecados.

— Ele era o meu melhor amigo. — Comentou, com um olhar de poucos amigos. Em seguida se levantou, deixando seu prato na mesa. Seu apetite tinha lhe abandonado de vez naquela hora.

Erick notou que tinha feito besteira, ao ver o garoto bufando de raiva enquanto saía do cômodo. Ele tentou ir atrás de Jonathan para que pudesse resolver aquilo, mas foi impedido pela Quinzel.

— Não. Deixe ele sozinho por enquanto, ele precisa espairecer. — Harl sugeriu, segurando no ombro de seu paciente.

O azulado estava furioso, contudo essa raiva não era destinada ao francês e sua piada de mau gosto. Ele estava enfurecido consigo mesmo, ele queria ter ajudado seus amigos. Mas no fim ele teve que assistir a todos morrerem bem na sua frente. Ele carregava aquele peso todo dia, a cada momento em que abria os olhos e a cada vez que respirava. A tão famosa síndrome do sobrevivente havia se tornado sua esposa até a morte. Se é que ele ainda poderia morrer.