O Acordo

8 0 0
                                    


Capítulo 5 - O Acordo

Igon

A presença dele não me assustava tanto quanto a de Gus faria. Virei-me para os balcões da cozinha, peguei um copo d'água e tomei pequenos e lentos goles. Sabia que estava vigiando cada ato meu, e tinha medo que pudesse ler meus pensamentos. Pus o copo na pia, e me virei para ele, retornando o olhar. Ficamos assim por minutos. Seus olhos, vermelhos, brilhavam agora calmo e reflexivo. Como se estivesse tentando adivinhar o que se passa em minha cabeça, mas não quisesse abrir a boca e quebrar o silêncio.

-...- respirei nervoso, na esperança que percebesse e falasse algo. - Há quanto tempo que está aqui? - perguntei, apenas para cortar o clima tenso que estava no ambiente

- O suficiente - disse, sério.

- Para que? - perguntei de volta.

- Para ver que você é perfeitamente humano. - respondeu.

Finalmente, se mexeu. Deixou o canto escuro e se aproximou, me permitindo olhá-lo com mais calma e atenção. Realmente, possuía uma beleza que não pertencia a este mundo. Sua pele branca como a neve, seus lábios rosados quase vermelhos em contraste com a pele, seu cabelo escuro como se tivessem roubado todas as estrelas do universo. Seus cílios longos, e olhos vermelhos.

Se aproximou o suficiente para que, ao esticar seu braço, sua mão tocou meu rosto, me assustando um pouco. Congelei em meu lugar. Como deveria reagir? Tentar empurrá-lo para longe? Dizer algo? Apenas fiquei estático, olhando para os olhos atentos que me encaravam.

- É estranho. - falou. - É perfeitamente humano. Mas também, perfeitamente claro e perfeitamente escuro. Nunca vi algo como você.

O que queria dizer? Me lembrei de quando Gus estava aqui. Ouvi Clirius dizer que ele era o único ser claro presente. Claro, sou humano, e Clirius é escuro, então Gus seria o único claro. Mas como sou perfeitamente humano, claro e escuro ao mesmo tempo?

- Curioso... - disse enquanto movia sua mão. Acariciou meu olho com o polegar. - Seus olhos não são humanos, nem um pouco.

- Já ouvi isso, diversas vezes desde que nasci - pensei em fazer esta observação. - Não é todo mundo que nasce com olhos dourados e vermelhos.

- Olhos vermelhos são uma característica da família real escura... - disse, me lembrando que fazia parte da família real - Olhos dourados são uma característica dos deuses claros.

Pareceu pensar. Removeu a mão de meu rosto, e a levou para a boca, tampando um pequeno sorriso.

- É uma grande coincidência. Tenho certeza que esta será uma situação engraçada quando se espalhar - falou consigo mesmo. - A menos que seja você...

- O que? - me exaltei ao perguntar. - Você não vai me contar?

Me olhou, por um momento pareceu irritado, mas em segundos pareceu feliz. Virou-se e sentou na minha cama. Encarando o chão, sem se mover. Estava colocando em ordem a mente.

- Aquele anjinho não abriu a boca? - perguntou de maneira irônica. - Não achei que fosse ficar quieto.

- Zach não tem nada haver com isso. - falei firme e seguro. - E eu não queria colocar a vida de ninguém em risco por causa da minha curiosidade, inclusive a sua.

- E o que te faz pensar que me colocaria em risco? - perguntou, agora olhando para mim.

- Você é da família real. - afirmei. Já era motivo o suficiente. - E sei que você também quer ficar quieto nessa situação, agora que acabou envolvido nela.

ADNDOnde histórias criam vida. Descubra agora