O Encontro

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Capitulo 2- O encontro

Igon

Faz duas semanas desde que Gus foi embora. Não consigo me acostumar. Alguns diriam que nossa relação é mais que uma simples amizade e, admito que sou muito apegado à Gustav, mas nada que não sinta por qualquer outro amigo. Também ficaria extremamente emotivo se Zachary um dia viajasse para longe, afinal, somos amigos.

- Ah, Misael! Você prometeu que iria vir ao karaokê comigo hoje, não esperei a semana inteira para você ficar com essa cara! - Reclamou, com o microfone nas mãos.

Zach tem razão, não poderia ficar triste para sempre. Peguei o microfone de suas mãos, selecionei uma música divertida e tentei colocar minha expressão mais animada.

- Vai ficar me olhando, ou vai vir cantar comigo? - Perguntei, rindo. Finalmente, Zach colocou um sorriso no rosto, pegou outro microfone e se juntou a mim. - Vamos beber hoje!

- Isso! - Gritou em seguida.

Era sexta-feira, poderíamos cantar e beber até não aguentarmos mais. E foi o que fizemos. Saímos de lá, às três da manhã, tropeçando em nossos próprios pés. A música ainda tocava em nossa cabeça, e cantamos todo o caminho até meu apartamento.

- Boa noite, Mimi - Zach falou, usando aquele apelido irritante que me chama para provocar. Mas espera, boa noite?

- Você não vai passar a noite? - Perguntei confuso.

- Tenho que voltar para casa, visitar os pais, sabe como é. - Não sei, não volto para casa há meses - Mas não se preocupe, segunda vou estar de volta na sua janela para te levar para a aula.

- É bom estar, não consigo imaginar acordar sem suas ameaças- Falei. - Boa noite, cara.

Nos despedimos e finalmente entrei. A música ainda tocava em minha cabeça, cantava baixo sabendo que todos estavam dormindo. Entrei no meu apartamento, tranquei a porta, e sem forças para mais nada, apenas arranquei meus sapatos os jogando em algum canto, e joguei meu corpo sobre minha cama. Não vi nem ouvi mais nada, apenas viajei novamente. Não me lembro direito, mas acho que sonhei com Gus, chorando sozinho em um canto escuro. Me pergunto: por que não o chamei?

Odeio acordar. Ainda mais, quando se é no susto. Pulei em minha cama ao ouvir um forte barulho, como se algo tivesse caído. Olhei em volta, não vi nada. Por segurança, decidi conferir a porta, se havia trancado. Ainda sentia o álcool em mim, tropeçava no ar, não sabia se o chão era realmente sólido. tropecei em um dos meus sapatos, o quais arranquei antes de dormir, e caí no chão.

- Isso dói - reclamei baixo para mim mesmo. Enquanto fazia isso, pensei ter visto algo se mexer pelo canto do meu olho, me fazendo olhar rápido para o lado. Lá estava a causa do meu sono interrompido - Quem está aí?

Nos encaramos. Agachado, parecia um animal selvagem alerta. Seu cabelo era mais preto que a própria escuridão do quarto, em compensação, sua pele era mais branca que a mais branca nuvem existente. Seus olhos, por outro lado, hipnotizantes, vermelhos. Parecia olhar através de mim, parecia ler meus pensamentos, era aterrorizante porém não me atrevia a desviar o olhar. Tentei me aproximar.

- Não chegue perto! - Ele gritou. Sua voz. Não era tão profunda assim, mas algo nela me fez sentir um certo arrepio. Ignorei seu pedido, apenas para que pudesse ouvi-la novamente. Me aproximei. - Humanos são tão teimosos!

Estava perto o suficiente para enxergá-lo melhor. Seus olhos brilhavam, sua respiração parecia bagunçada. E, em sua boca entreaberta, vi seus dentes. Pontudos, como uma boca de tubarão. Em sua cabeça, dois chifres pequenos. Difícil enxergá-lo com a escuridão, suas roupas pretas complicaram, não via muito. Ele grunhiu.

O movimento foi rápido, não sei bem como o fez. Estava em minha frente, agora me prendendo a parede. Seu rosto estava a centímetros do meu e, me olhava diretamente em meus olhos. O medo havia me consumido, não me arrisquei a dizer uma única sílaba se quer. Parte de mim gostaria de acreditar que era apenas um bêbado fantasiado. Mas outra parte tinha certeza que aquele, na minha frente, não estava nem perto de ser humano.

- Mas que droga! - Ele reclamou - Por que você cheira tão bem?! - Ele parecia desesperado por algo. Uma besta, prestes a perder o controle. - De tantos lugares, por que me mandou para cá, pai!

- Pai? - Perguntei sem notar. Minha voz pareceu o assustar, não parei por ali. - Quem é você, e como entrou no meu apartamento?

- Não deveria estar com medo? - Perguntou. E estou, não pensava em me mover de tão aterrorizado que estava. Ele pareceu pensar. - Clirius - Me soltou, porém continuava próximo o suficiente para que eu não me movesse. - Clirius Balrumod, príncipe do Abismo.

- Príncipe? Abismo? - Perguntei, com a voz trêmula. - Isso... Isso é de algum jogo? Filme? Livro? Animação?

- ... Humanos, não tem jeito. - Parecia irritado.

- Humanos? - Ri, nervoso. Não acho que entendeu isso, irritou-se mais ainda. - Isso.. É algum personagem?

- Você acha? - Aproximou-se, apertando meus braços com mais força contra a parede. Gemi de dor. - Que sou humano?

- Não! - Falei, apesar de não ter certeza - Você, com certeza não é humano.

- É... Mas, você é. - Me olhou com olhos cruéis. - Vamos fazer assim, você me alimenta, e eu te deixo viver.

- Qualquer coisa... O que você gostaria de comer? Se for algo simples, talvez consiga fazer - Falei. Ele sorriu, como se achasse engraçado.

- Como se um demônio como eu... - Sorriu, mostrando seus dentes pontiagudos - Comeria algo que um humano como você como.

Ele se aproximou ainda mais. Sua respiração ofegante agora em minha orelha, desceu para meu pescoço. Podia sentir o ar quente e úmido em contato com minha pele, fazendo com que um arrepio corresse em minha espinha.

- Não se preocupe, vou tentar fazer com que seja menos doloroso - Ele riu.

Senti seus dentes perfurarem minha pele. Dói, dói muito. Mas de algum jeito, não era tão doloroso. Queimava, sentia meu sangue desaparecer do meu corpo. O sentia sugar com desejo. O tempo pareceu parar. Minha visão começava a ficar turva, logo estava perdendo minhas forças. Se ele não parasse, eu morreria.

- Para... - Tentei falar, porém minha voz saiu quase que num sussurro, não acho que ouviu. Era isso, aquele seria meu fim. Sem ninguém saber. Não pude nem ao menos me despedir de Gus ou Zach.. Ou os meus pais, não pude agradecê-los.

Meu corpo foi pressionado contra a parede. Clirius se afastou às pressas, limpando a boca assustado. Voltou ao meu pescoço passando sua língua sobre a mordida, e afastou-se novamente. Me encarava, enquanto minha visão ficava cada vez mais escura.

- O que é você? - Foi a última frase que ouvi daquela voz.

Eu desmaiei.

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