Maldito Anjo

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Capítulo 7 - Maldito Anjo

Elyon

As ruas estavam escuras, mas não tinha outra opção a não ser esperar que o Sol nascesse. Não podia voltar para Aurora, não de mãos vazias. Sentei no banco da praça, em frente ao prédio em que Misael morava. Já estava lá há dias, não o vi sair de seu apartamento, e nem uma oportunidade em que estivesse sozinho.

Relaxei minha coluna no encosto do banco e respirei fundo. Nem um carro sequer passava na rua, e os únicos barulhos que podia escutar eram da luz que estava prestes a queimar, e das moscas que voavam em volta dela. Aquele anjo estava atrapalhando tudo. Se eu não fizer alguma coisa, minha família, minha mãe...

Estremeci ao imaginar, sacudi a cabeça na intenção de afastar esses pensamentos, mas o nó que se formou na minha garganta não desaparecia. Vozes me trouxeram de volta à realidade, dois bêbados andavam falando alto, como se estivessem no próprio mundo, o que me deu uma ideia. Andando pelo beco de onde vi os dois saindo, encontrei o bar. Poucas pessoas estavam lá naquela noite. A televisão passava algum canal, a música estava baixa e o clima desanimado. Entrei, me sentei no balcão e pedi a bebida mais forte. No primeiro gole, senti minha garganta rasgar e queimar. Tentei lembrar a última vez que havia bebido, e percebi que nunca havia feito. As poucas pessoas iam embora, já que era o meio da semana e o bar estava para fechar, mas decidi ficar até o último segundo. Não sei o quanto bebi, mas já não enxergava o chão direito, a sensação era de que estava caminhando em cima da água, e a qualquer momento iria afundar e me afogar. Não sei, também, o que se passou na minha cabeça, mas quando notei, estava ajoelhado em frente a porta de Misael.

Já não sabia o que fazer, sentia que cada dia que passava, estava sendo consumido por pânico e desespero. A qualquer momento seria completamente tomado, e tinha medo do que me tornaria quando isso acontecesse. A porta se abriu, justo quando achei que iria sufocar em sentimentos horríveis. Os olhos verdes me encaravam como se eu fosse a presa que estava esperando há tempos. Senti como se fosse ser atacado e devorado ali mesmo.

- Elyon, o que está fazendo aí? - O maldito Anjo que havia atrapalhado meus planos cruzava os braços e falava baixo. Eu estava fora de mim. Naquele momento, o álcool tomava conta e, por mais que tentei me irritar e xingá-lo, tudo que pude fazer foi me entregar aos sentimentos que por muito tempo estive guardando.

- Por favor... - Implorei, sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. - Por favor, me deixa ver o Misael.

Não sei o que se passou na mente de Mihr, sua expressão mudou e uma chama pareceu surgir no seu olhar, e, em segundos, fui puxado para dentro do apartamento e a porta foi fechada e trancada.

Clirius

Pai. - Falei ao sentar na cadeira. Antes que pudesse dizer qualquer outra coisa, o velho riu.

- Você demorou para voltar, mais do que imaginei. - Relaxou em sua cadeira, antes de continuar a falar - Algum imprevisto na sua viagem?

- Por que não me contou? - Perguntei, agora me irritando. - Você sabia da criança, sabia que Aurora já estava agindo, e ainda assim apenas me jogou na casa de um estranho sem explicação nenhuma!

- Clirius - Falou, agora sério. - Já faz tempo que aguento sua rebeldia, - Pareceu me repreender. - Este é seu primeiro dever como futuro rei, já está na hora de encarar suas responsabilidades. Claro que, por ser algo que pode impactar a paz entre os reinos, eu farei a maior parte. Preciso que você traga o máximo de informações possível.

Não pude responder. Eu não seria o herdeiro se meu irmão não tivesse fraquejado com sentimentos inúteis. Não queria ser o próximo rei, mas já não tinha como escapar do meu destino. Falar de irresponsabilidade é uma grande hipocrisia vindo da parte de meu pai, porém, neste momento decidi ignorar minha irritação com ele.

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⏰ Última atualização: Jun 27, 2024 ⏰

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