fugir da realidade.

2.1K 237 139
                                    

Após sentar no banco macio do ônibus, liguei o telefone vendo que havia quase trinta ligações perdidas de Yujin, e mais algumas mensagens de Saerin e minha mãe perguntando onde eu estava.

Decidi ignorar desligando o objeto e aumentando a música, logo encostando minha cabeça no vidro do automóvel.

Heeseung era um fofo, apesar de estarmos ficando íntimos agora, sempre soube que ele era uma pessoa doce e angelical, as vezes o via ajudar as tias que ficavam encarregadas da limpeza, isso era algo totalmente admirável.

Diferente de mim, que não levantava nem uma palha por pontos extras.

A iluminação da rua estava baixa, deci no ponto que ficava mais próximo de minha casa, e vi os olhares se voltarem para mim quando abri a porta da residência.

— Onde você estava?! Já são quase nove! - minha mãe me olhou de cima abaixo preocupada.

— Eu estava na escola, um colega se dispôs à me explicar uns conteúdos que não entendi. - disse da forma mais plausível.

— Ah. Nabi está te esperando na cozinha, tome banho e descanse, terei que ir no hospital resolver uns assuntos, logo estou de volta. - ela pegou sua bolsa de cima do sofá e saiu.

A casa estava um silêncio tremendo, Saerin provavelmente estava no quarto dormindo ou fazendo suas tarefas atrasadas, enquanto Nabi preparava o jantar que havia perdido.

— Ele é demais não é?! - Agora falava de Heeseung para Nabi.

— Pelo menos não vou ter que ser sua professora agora. - Ela riu.

— Mudando de assunto, seu pai passou o dia fora, isso é estranho não acha?!

— Deve ser o trabalho... enfim, estou morrendo de fome. - roubei um dos petiscos que já estavam pronto.

Depois de jantar, subi diretamente para o quarto e me joguei em cima da cama, verifiquei o celular e como esperado havia alguma mensagens de Heeseung perguntando se eu tinha chegado bem em casa.

Ficamos conversando por alguns instantes e larguei o celular para tomar um banho e ir dormir, pois sexta seria um dia cansativo, após todos esses cuidados, ia na cozinha beber uma água e escutei um choro conhecido, o de minha irmã.

Abri a porta de seu quarto lentamente e sentei ao seu lado sem a garota perceber, pois estava encolhida entre as cobertas.

— Saerin, o que aconteceu? Você está se sentindo bem? - Cutuquei a garota algumas vezes.

— Mikyung... o papai, morreu. - Falou ainda com dificuldade.

Daria para escutar uma agulha caindo nesse exato momento, observava Saerin chorar, como se nada mais importasse, não sabia o que sentia, meu pai sempre me maltratou, mas ainda sim, era meu pai.

Fiquei ao lado de minha irmã até ela se acalmar e dormir, a chuva estava intensa lá fora, e minha mãe não tinha chegado.

Desci as escadas procurando Nabi, mas provavelmente ela, nem Nour ou Seok estariam ali.

Me encolhi em um canto da sala procurando refúgio, meu pai e eu nunca tivemos uma boa relação, e me doía saber que ele morreu sem ao menos me dizer que estava orgulhoso de mim.

Me senti culpada, e desprezada por não ter sido o suficiente, isso irá me seguir por toda a vida.

E como essa culpa me seguirá pelo resto da vida, me faz lembrar que falhei comigo, com todos, falhei até mesmo quando tentei colocar a culpa na família em que nasci, meus erros justificam minhas falhas, e não o defeito que habita dentro de mim.

Minhas pálpebras estavam pesadas, estão logo adormeci.

.

Cancelaram as aulas de hoje, certamente eles haviam recebido o comunicado, já que meu pai era um dos patrocinadores oficiais do colégio.

O dia estava nublado, não havia muitos pássaros cantando, estava com um vestido preto, que ia até o joelho, minha irmã não havia comido nada, e minha mãe ainda não havia aparecido, observava as pessoas levarem flores até o caixão do mais velho, e isso dava um remorso muito grande em mim.

Eles levavam flores para colocar em volta do caixão, era totalmente patético ver minha vó fingir tristeza, sendo que ela não via a hora de ver meu pai morto .

Sentei-me em um banco afastado dos familiares, não estava a fim de receber palavras de ânimo, eles só lembram de você nessas horas.

— Eu estava te procurando! - Heeseung me abordou por trás, me assustando um pouco.

— Já comeu? Não quero que fique fraca ao ponto de não conseguir levantar da cama, mesmo com essa pouca iluminação, vejo que está pálida. - tocou em meu rosto de uma forma delicada, e isso me fez encarar o garoto.

Por impulso o abracei, apenas queria alguém que me acolhe-se, e era isso que o Lee me passava, um sentimento bom e acolhedor, ele acariciava minhas costas como se estivesse querendo passar consolo, e isso ajudou.

— Não pode ficar aqui escondida pelo resto do dia, vem, você tem que se alimentar. - desfez o abraço logo segurando minha mão.

As pessoas não conversavam muito, Saerin estava ao lado de Nabi, ela a encorajava a mesma chegar perto do caixão, mas não estava adiantando muito.

— Vamos Saerin! Tem que se despedir do seu pai!

— Eu não quero! Ele já se despediu de mim a muito tempo, chame a Mikyung pra ir com você. - deu de ombros e sorriu assim que viu Heeseung.

— Oh.. não sabia que vinha.

— Minha mãe me obrigou. Não gosto de velórios. – justificou.

— Ah... entendo, enfim, obrigada por ter vindo mesmo assim. – Saerin disse logo saindo dali.

Heeseung me guiou até à saida do local para que pudéssemos respirar um ar melhor, dentro dali estava com um clima muito negativo e ruim, ele fez bem, não estava me sentindo legal ali.

— Ia te chamar para ir à minha casa hoje depois da escola, se tivesse aula.

— Oh, eu aceito! Se você ainda estiver planejando...

— Eu não moro sozinho, meus amigos também estão lá, dividimos a casa sabe.

O tempo já havia se passado e Heeseung tinha ido embora, fui diretamente para minha casa também, Saerin estava deitada no sofá, olhando para o nada, e Nabi estava ao seu lado observando a garota, subi os degraus calmamente, decidida em tomar um banho e vestir uma roupa confortável para ir à casa de Heeseung.

Vesti uma blusa branca e como destaque a calça jeans preta, estava calçando uma pantufa no momento, não planejava colocar tênis.

— A onde vai? Posso ir com você? – Saerin abriu a porta meio receosa, e logo me olha de cima a baixo.

— Ver Heeseung, e conhecer os amigos dele... se quiser ir comigo, tudo bem!

Apenas vi a garota sair rapidamente do quarto e voltar vestida apropriadamente, era bom Saerin esquecer um pouco os problemas em vez de ficar presa dentro de casa.

Heeseung tinha nos mandado a localização, fomos caminhando, não era tão longe e a casa ficava meio afastada das outras, mas isso não me assustou, ele deveria ser um cara reservado não é?!

bite me | L. HeeseungOnde histórias criam vida. Descubra agora