problemas com a mamãe

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O cheiro de carne recém saída da panela com era hipnotizante, não mais que o olhar de Heeseung claro.

Todos estavam reunidos agora, sentados em volta da mesa, enquanto Sunghoon recitava suas piadas de tio, apenas Jake e Jay riam, até Saerin que consegue ter o humor mais quebrado desse planeta não quis rir, apenas encarava os garotos com um olhar confuso tentando entender alguma coisa.

— Minha vez! - Niki levantou a mão animadamente. — Se um vinho tinto se tornar um vinho branco ele morre na hora. Porque agora ele será EX-TINTO! 

O mesmo grupo de tios começaram a rir também, vi apenas Sunoo suspirar de decepção, Jungwon se levantar e recolher os pratos para colocar na pia, Saerin e eu também levantamos, mas não foi por causa da piada extremamente ruim e sim porque estava tarde demais e agora teríamos que ir embora.

— Oh, vocês já vão? Agora que são dez! - Jungwon disse após nos ver levantar.

— É que temos de ver se nossa mãe já chegou... ela sumiu desde que recebeu uma noticia, enfim, obrigada por terem nos recebido tão bem. - sorri abertamente.

— Voltem mais vezes quando possível. - Ele completou.

Heeseung nos acompanhou até a porta, Saerin o abraçou como despedida, enquanto a garota estava do outro lado da rua, eu ainda sentia que tinha que falar algo para ele.

— Meu aniversário é semana que vem... e nós estamos planejando em dar uma festa aqui em casa mesmo, será que você pode vir? - falou formalmente.

— Claro! Apenas me mande mensagem do horário certinho que eu vou estar aqui. - ri.

— Então... até semana que vem? Me manda mensagem quando chegar.

— Claro! Até semana que vem hee. – depositei um beijo em sua bochecha e sorri quando vi o garoto estático.

As ruas de Seul não estavam totalmente desertas, as pessoas estavam voltando de seus trabalhos andando rapidamente, poderia ver o brilho no rosto de alguns em saber que amanhã é sábado e não vão ter que acordar cedo.

Talvez seja rude da minha parte não estar de luto em meu quarto uma hora dessas, eu nunca desejei que meu pai morresse assim, apenas desejava que um dia ele recebesse a mesma moeda por tratar tão mal todos da casa.

Mesmo que minha mãe fizesse alguns acordos com ele para me humilhar na frente dos funcionários, eu sabia que ele não era uma pessoa boa nem com a própria esposa; uma vez que eu cheguei mais cedo da escola, vi meu pai bater no rosto de minha mãe durante uma briga.

Desde então, sempre que eles brigavam, uma nova forma de agredir era executada, lembro que eu e Saerin dormíamos juntas em dias assim, até que meu pai descobriu que nós sabíamos que ele a agredia, e depois das brigas, no dia seguinte ele nos recompensava com jantares fora ou brinquedos caros.

E o sentimento ao ver o caixão de meu pai descer à terra, foi uma sensação estranha, não sabia se sentia paz, ou remorso, tento pensar em que a minha eu do futuro faria. Mas isso é impossível. Por isso na maioria das vezes eu só forço a barra.

— Oh, a mãe de vocês chegaram, ela está aguardando a presença de vocês no escritório. - Noor disse assim que nos viu entrar pela porta principal.

Ainda não sabíamos qual era o motivo da morte de meu pai, então certamente ela deveria nos contar agora.

— Onde estavam? - observei sua face e ela não parecia estar cansada nem farta de tudo, ao contrario, seu olhar estava mais do que descansado, e seu semblante parecia estar feliz.

— Bem, isso não importa. - continuou. — Tenho uma novidade... tem um tempinho que... eu, encontrei uma nova pessoa, então depois de todo esse ocorrido... eu queria trazê-lo para morar conosco

Eu estava totalmente errada. 

Quando eu era menor, nunca entendia o por quê de minha mãe ainda estar com meu pai, ela poderia ir embora e nos deixar para trás já que ela tinha liberdade para fazer isso e ele não se importava muito.

Mas agora eu entendo, ele quebrava seus sentimentos, e no dia seguinte colocava dinheiro em suas mãos.

— Espero que vocês entendam o meu lado e não se importem com um novo integrante na família. - ela falou receosa.

— O que... novo integrante? não vai fazer nem um dia que o pai morreu e você já arrumou uma nova pessoa? o que você colocou na cabeça? que vamos ver esse estranho como pai também? você deveria ter pelo menos um pingo de consideração. - Saerin dita as palavras sem expressão, e isso me deixou confusa na verdade, ela nunca demonstrou se importar com as decisões que nossa mãe tomava, mas esse assunto de ter uma pessoa nova em casa pareceu realmente tocá-la.

— Saerin, ele é uma boa pessoa! E eu nunca disse que era para você vê-lo como um pai, apenas o aceite! 

— Pra mim, você quer substituir o pai por uma pessoa nova... e isso nunca vai acontecer, porque eu nunca vou aceitar. - cuspiu as palavras e saiu dali me deixando plantada na frente de minha mãe que agora me encarava.

— Pelo menos você Mikyung... diga que está de acordo com isso. - me olhou.

Eu podia ver o brilho da suplica em seu olhar, ainda tinha que pensar muito nisso, eu, principalmente Saerin não sabemos lidar com mudanças por falta de conselho materno que agora ela quer voltar atrás e fazer o que teria de ser feito quando eu tinha treze anos.

— Eu... preciso pensar. Me desculpe

Não sabia muito como consolar as pessoas, mas iria tentar consolar Saerin.

Ser ouvinte de pessoas assim deveria ser algo bem apreciado, que hoje em dia, quase ninguém se importa.

— Eu não quero uma pessoa nova, eu não quero um estranho na nossa casa, eu não quero lidar com mudanças.

Mudanças.

Ficar em lugares que você pertence mas não se sente acolhido. 

Talvez não estivéssemos falando de lugares, sabe.


bite me | L. HeeseungOnde histórias criam vida. Descubra agora