Capítulo 15

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Somente o fato de passar ao redor da Lagoa Cristalina já era suficiente para sentir a energia revitalizadora daquelas águas. As plantas da região possuíam um tamanho avantajado e exibiam enorme vitalidade e cristais e blocos de minerais raros eram vistos pela margem e ao longo das águas do lago.

Por volta das onze da manhã eles montaram acampamento em uma área com alta concentração de mana, onde poderiam almoçar e minerar alguns materiais. Ananda aproveitou para nadar até uma rocha ampla a cerca de dez metros da costa, na qual faria um treinamento e Dylan, Tommy, Dandara e Ijim a acompanharam para participar do mesmo.

— Eu vou explicar só uma vez, então fiquem atentos. – A draconiana desembalou um pequeno conjunto de pincéis e tinta e começou a pintar a área da rocha. – Esse círculo vai transformar a água em névoa e mantê-la concentrada ao nosso redor, fazendo com que possamos usufruir melhor das propriedades do lago. - Em seguida ela colocou algumas ervas e incensos ao longo do círculo e entregou um pequeno cristal para cada um. – O resto irá canalizar ainda mais esse poder e fazê-lo fluir por nossos corpos.

— E agora é só ficar esperando? — Ijim perguntou tentando entender.

— Na verdade, iremos começar a meditar canalizando a energia por uma estrutura específica pelo seu Circuito Mágico, a ideia é fortalecer todo o circuito e limpar as impurezas dele. Nesse processo aproveitem e tentem acumular o tipo de mana mais comum em seus núcleos, se tudo der certo poderemos refinar nossas nebulosas aqui.

— Se é tão vantajoso não era melhor termos chamado todos? — Tommy perguntou assumindo posição.

— Eu só tinha esses poucos cristais, então foi melhor focar nos melhores combatentes. Antes de virmos falei com o Tulan, mas ele achou melhor dar prioridade ao Ijim.

— Bom, então vamos começar? — A goblin quem falou dessa vez.

— Vamos, foquem na respiração e sigam meus comandos.

Depois que a draconiana explicou o fluxo que deveriam assumir, todos começaram a meditar. No começo alguns tiveram dificuldade para se adaptar, sofrendo alguns danos físicos e mentais, mas logo conseguiram acertar, sentido sua mana ficar mais fluida.

Dylan foi o que mais teve dificuldade, mesmo depois que acertou e sentiu o processo de seu fluxo se expandir, ele continuou sendo tomado por uma dor interminável e destruidora. Parecia que todos seus músculos enrijeceram e ele era incapaz de mover-se. Sentia os orifícios de seu corpo prestes a sangrar e o suor frio escorrer como em uma sauna. Ele queria gritar, mas era impossível.

À medida que o processo acontecia o tempo parecia correr mais lentamente, até quase parar. As vozes que o acompanhavam desde a última visita à Floresta sem Estrelas gritavam em agonia urrando para que ele parasse.

Na escuridão interminável de sua mente o humano pode sentir como se estivesse imerso no espaço profundo, pontos de luz e manchas de cor moviam-se em padrões orbitais pela região, era como se todo o seu poder mágico fluísse por alí. Mesmo que já tivesse experimentado sentir o poder em seu Núcleo Arcano, era a primeira vez que ele de fato mergulhava em seu interior.

Duas massas de cor principais lhe saltaram os olhos, a primeira tinha cor de cobre e moldava um formato de lâmina, ainda incompleta, ao redor dela centenas de pequenas estrelas se agrupavam, formando figuras as quais ele tinha dificuldade de distinguir e organizar. A outra era a grande nuvem escura que misturava verde e roxo e que ele havia percebido quando as vozes começaram, uma sombra que lhe passava uma sensação sufocante e devastadora.

O processo parecia mexer muito com essa segunda nuvem, fazendo-a tremular e partindo pequenos pedaços dela que evaporaram ao se afastar da massa principal. Aos poucos o montante amorfo começou a se reunir, parecendo cada vez mais um grande olho que direcionava-se para o espírito de Dylan.

Logo o círculo mágico se apagou e a névoa se dissipou e eles levantaram. Todos pareciam suados e Ijim chegou a vomitar um pouco, mas nenhum deles parecia ter sofrido tanto naqueles poucos minutos como Dylan.

Assim que o efeito desapareceu, o garoto, que sentiu-se perdido por dezenas de anos naquela escuridão, rapidamente retomou a consciência, vomitando quase dois litros de um lodo escuro de uma única vez. Ele caiu deitado tremendo enquanto seus músculos se adaptavam ao ocorrido, deixando escorrer grande quantidade de suor e gordura e até mesmo seus olhos secretaram um misto de lágrimas e sangue.

— Dylan! — Tommy foi o primeiro a notá-lo, gritando e indo em direção ao garoto para segurá-lo impedindo que batesse a cabeça contra a rocha em meio a tremedeira.

— Deixe-me ver, eu entendo algo de primeiros socorros. — Dandara falou pegando o pulso esquerdo com uma mão e levando a outra até o próprio pescoço para avaliar as condições dele.

— Eu vou ajudar. — Ananda infundiu mana em sua mão e seus olhos e olhou o peito do garoto tentando sentir seu fluxo de mana.

— O que tá acontecendo Ananda? — Tommy perguntou — Algo deu errado com o ritual?

— Na verdade eu diria o contrário! Deu certo até demais! Tudo o que ele soltou eram impurezas que estavam presentes nele através de alguns problemas que podem ocorrer quando absorvemos manas em nossos treinamentos. — Ela olhou para Ijim, que estava recuperando-se agora do vômito.

— Pera, você tá dizendo que esse lodo que saiu da boca dele é similar ao que eu cuspi? Então ele tinha o quê? Mais de cem vezes a mais de impurezas do que todos nós?

— Sim e não, provavelmente a concentração de impurezas nele era muito maior que a nossa, mas além disso, eu diria que ele também conseguiu livrar-se de muito mais do que nós.

— Ao ponto do corpo dele sofrer um rebote desse nível? — A goblin perguntou enquanto movia o braço dele o analisando.

— Isso, acho que você já percebeu, todos já teriam percebido se não estivessem tão nervosos.

— Ela percebeu o quê? — Tommy gritou sem soltar a cabeça de Dylan.

— Provavelmente você sentiu os canais que transportam sua mana se alargando e sendo capazes de fazer um serviço mais rápido e eficiente, talvez até esteja percebendo melhor a energia mágica à sua volta. Porém, no caso do Dylan, até o corpo dele se fortaleceu, como se seus músculos tivessem sido forçados a se adaptar para comportar o novo tamanho de seu Circuito Mágico. — Dandara explicou olhando para Ananda ao seu lado que concordava com a cabeça.

— Quando nós treinamos juntos o controle de mana há algum tempo atrás eu analisei ele e pude ver que ele tinha alguns desvios e até mesmo algumas raízes que pareciam estar fora do lugar ou entupidas, mas agora todas as cento e vinte e uma estão bem posicionadas e abertas, além de terem aumentado consideravelmente.

— Isso é possível? — Ijim perguntou em um misto de curiosidade e medo.

— Não deveria ser, o ritual tem um limitador para evitar algo assim, já que os efeitos colaterais podem até mesmo custar a vida da pessoa. Mas de alguma forma ele ignorou esse limitador. É uma benção e uma maldição.

— Tá bom, mas o que a gente faz agora? — Tommy esperou que Ananda terminasse de falar para que finalmente perguntasse o mais importante.

— Quanto tempo você acha que vai demorar até ele se recompor Dan?

— Eu diria que mais uns dois ou três minutos e o corpo dele vai parar de tremer, mas ainda deve ficar inconsciente por algumas horas.

— Então assim que ele melhorar vamos levá-lo de volta até o pessoal para que possamos cuidar dele em um espaço melhor. O lago deve até ajudar ele a recuperar um pouco das energias.

— Eu concordo, afinal assim que ele acordar vai precisar de comida, água e cuidados.

— Ótimo, então vamos lá! — Tommy falou preparando-se para carregar o humano assim que ele se recuperasse.

Ascensão e Queda - Uma História de Arcane NebulaOnde histórias criam vida. Descubra agora