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"Se a vida fosse fácil, eu não teria prazer em lutar com ela."
Augusto Branco

CANNON

Eu a vi correr para longe, ao longo da praia, e Deus, eu senti que ela levou meu coração. Eu daria tudo para poder ir atrás dela, pegar seus pedaços por pedaços e colar junto, nem que eu precise me quebrar ao meio para deixa la completa.

EMMA

Percebo que estou tempo demais aqui, quando vejo que começou a escurecer. Estou com tanta fome, encharcada pela garoa da chuva e minha bexiga está prestes a explodir a qualquer instante.
Me forço a levantar para voltar. E sinceramente, se não fosse minhas necessidades fisiológicas, eu não voltaria tão cedo.

Pela primeira vez, sinto que não tem nada lá para mim.

Caminhando de volta, percebo o quão longe eu corri. O momento não me fez perceber isso.
Mas na volta, presto mais atenção ao redor.
E é lindo. O por do sol está bem ali, e pelo menos naquele momento, me sinto viva realmente, por somente contemplar tanta beleza. Os raios do sol beijando o mar, enquanto o sol se funde à ele, se escondendo para dar espaço a lua que já está visível do outro lado.
Nada é mais lindo que o céu. O céu com o mar então, é divino.

Me aproximo da água e a deixo beijar meus pés. A chuva engrossou um pouco mais, então sinto que o mar pode levar minha sujeira que escorre com a água da chuva. Minha dor.
Então rezo uma prece, para Deus continue comigo, que Ele não tenha me abandonado.

Volto à caminhar e agora posso admirar mais a lua. Vai ser uma noite de lua cheia, e espero que a chuva dê uma trégua para eu tentar ver as estrelas essa noite.

Eu amo o céu a noite. As estrelas fazem minha fé ser renovado. Pois olhando para elas, eu sei que há um bem maior olhando por mim, olhando por nós. E já notei que não sala do segundo andar, possui um telescópio que muito provavelmente me deixaria enxergar o melhor da universo lá em cima. Ainda não tive coragem para sair do quarto durante a noite para ir espiar.

Percebo que há mais duas casas. Não tão vizinhas. Tem um grande espaço de uma casa para outra. Mas como não vejo luzes acesas, acredito que não há ninguém ainda.

Chego na ponte novamente, e dou graças a Deus. Se eu tiver que caminhar mais 2 mt, eu com certeza irei mijar nas calças, literalmente.
Fora meus pés. Doem como uma kenga.

Estou tentando bater a areia de meu pé, para me facilitar caminhar sem sentir os pontos de dor. Ao levantar meus olhos é que percebo que há alguém na sacada do segundo andar. Está fumando e quando me aproximo mais da casa, vejo que é ele.

Ele está me olhando, e eu paro no meio do meu caminho para olha lo também. Ele continua a fumar, e essa é a primeira vez que o vejo fumando.
- Não sabia que você fumava. - eu falo ainda olhando pra cima, para ele. E está tão escuro onde ele está, que realmente só consigo ver a luz do seus olhos e a cor de fogo que está na ponta de seu cigarro.
- Não costumo a fumar. Desde que iniciei a vontade de ser médico, disse a mim mesmo que se eu seguisse o sonho de curar as pessoas, eu precisaria curar a mim mesmo primeiro. - ele diz, mas continua a sugar forte. - então parei ha algum tempo. Hoje é mais como um bálsamo em momentos conflitantes. Bem aqui. - ele diz apontando pra cabeça. - Por favor entre Emma. Você esteve fora por muito tempo. Pegou chuva e está frio, vai adoecer.

Me aquece o meu coração que está mais pro gelo do que para o fogo. Mas ele sempre consegue jogar uma brasa nele.
Não digo nada e somente concordo com a cabeça, o olho por mais uns segundos e entro.

Ouço vozes animadas vindo da sala ao lado, então tento ser o mais quieta possível e sigo para a escada.
Faço uma nota mental, que precisarei descer para secar a água que estou deixando em meu caminho.

Subo a escada sem olhar pra cima. E quando chego no topo, percebo que há uma toalha pendurada no corrimão. Eu a pego e me enrolo, de fato estou com frio, principalmente agora estando dentro da casa que está com o ar condicionado no máximo.

Olho para sala onde Cannon estava, e ele continua lá, olhando pro horizonte.
Penso em ir até ele e agradecer, mas no fim, prefiro deixar quieto e sigo meu caminho para o quarto. Preciso realmente esvaziar minha bexiga.

Eu tomo um banho demorado. E é relaxante, me fazendo sentir como se eu tivesse perdido 10kg. Me deixou mais leve. Talvez tenha sido as lágrimas que acumulei por tanto tempo.

Afinal, a lágrima mais pesada, é aquela que não cai, certo?

Saindo do banho, encontro Liam sentado na cama, diretamente virado para a porta.
Não fico feliz de vê lo, preferia a paz que eu estava sentindo a 2 minutos atrás.
Continuo a estranhar esse sentimento.

- Ei Em. Eu estava preocupado. Onde você esteve? - ele me pergunta e percebo que ele está bêbado.
As surpresas não param de chegar.

Decido ignora lo até pelo menos conseguir estar vestida, no caso dele querer continuar sua briga idiota.

Pegando a primeira roupa que encontro na mala, que nada mais é que uma blusa velha que a muito tempo foi chamado de pijama e um short solto.

- Em?
- Eu estava na praia. Não fui a lugar algum. - respondo tentando manter minha voz o mais neutra possível. Tudo que eu menos quero agora, é uma discussão novamente.

Estou parada sem saber o que fazer. Qual próximo passo posso dar? Não estou em minha casa com as gurias. E estou com tanta fome, mas sem vontade alguma em encarar o resto do grupo, para comer algo.

- Você está bem? - ele está muito próximo agora. Ele toca meu ombro na expectativa que eu me vire pra ele.
- Eu estou bem! - minto. Afinal eu sempre estou , não? Por mais preocupado que ele pareça agora, até parecendo ser meu antigo Liam, meu melhor amigo, não sinto vontade de lhe dizer a verdade. Na verdade não o digo a muito tempo, não depois de ouvir tanto: "você tem que ficar bem Emma", "você tem que sorrir mais Emma".. não vale a pena ouvir essas malditas frases novamente. Principalmente a frase "tudo vai ficar bem". Ninguém sabe de nada, então parem de mentirem para os outros, se você não sabe do que fala. Nada nunca ficará bem, não da forma "bem" que a pessoa conhecia, então a pessoa precisa se regenerar e encontrar o que é o "bem" novamente em sua vida. Já que o seu antigo "bem", morreu. Foi se. Sem chance de voltar.

- Que bom. Eu gosto de te ver bem. Feliz. Você merece ser feliz. - ele me diz. E está tão bêbado.
- Tudo bem, podemos descer? Estou com fome. - digo me virando para ele, mas sem dar lo a chance de me tocar ao fazer algo. Só dou essa sugestão, pois preciso sair desse quarto. Ele está roubando meu ar.

- Sim. - eu mal escuto sua resposta. Mas deixo para lá e saio do quarto, com ele vindo logo atrás.

Ao passar pela sala, procuro por Cannon. Mas ele não esta mais lá.

Então eu desço, e coloco a minha máscara. E a deixo me sufocar um pouco mais.
O que é uma noite a mais? Seu sufoco não irá me matar. Assim eu espero.

True love or love?Onde histórias criam vida. Descubra agora