LÚCIA BERGAMENOT

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Em uma reviravolta abrupta e implacável, o ilustre Banco Berga, alicerçado sob a égide de Lúcio Bergamenot, o guardião dos tesouros de Korlon, sucumbiu às garras do destino e mergulhou no abismo das trevas financeiras. Um clarão sombrio obscureceu o fulgor outrora glorioso da Casa Bergamenot. Das alturas celestiais à morbidez do limbo, dos salões da alta aristocracia aos recônditos da penúria, a família foi atirada de cabeça em um precipício sem volta. Uma catástrofe sombria desvelou suas asas sinistras, lançando sobre eles a sombra da desgraça. Foi então que Lúcio Bergamenot, envolto em um manto de angústia, entregou-se à própria mortalha, deixando para trás sua esposa, a nobre Natália, e suas duas jovens filhas, Lúcia, a primogênita de apenas doze anos, e Dalia, uma flor embotada pela tenra idade de onze.

A pobre Natália Bergamenot era destituída do dom materno que abençoa as almas generosas. Seu coração jamais aprendeu a nutrir o amor maternal, tampouco se entregou à árdua tarefa de criar suas preciosas herdeiras. Sempre depositou o encargo sagrado nas mãos servis dos criados, distanciando-se do chamado maternal que ecoava na vastidão de sua existência. Contudo, quando o mundo lhe negou ajuda e a deixou à mercê de sua própria angústia, Natália sucumbiu aos abismos da desesperança. Enlouqueceu ante a adversidade implacável, incapaz de domar a besta da pobreza que a açoitava sem piedade. Buscou refúgio em poções medicinais sombrias, mirrando-se em sua essência. Num derradeiro ato de rendição às agruras da vida, alienou-se de todos os bens que um dia possuíra, até que restou despojada de tudo. Com a temível fome espreitando à sua porta, ela tomou uma decisão fatídica. Deixou suas filhas, Lúcia e Dalia, em um orfanato sombrio nas terras de Veneta, entregando-as ao abraço frio do abandono, e partiu em busca de abrigo sob o teto de parentes distantes, desaparecendo assim, nas brumas do esquecimento, jamais sendo avistada novamente.

No aconchego modesto de um orfanato singelo, Lúcia e Dalia floresceram entre os escombros da adversidade, envolvidas pelo calor das crianças humildes que partilhavam do mesmo destino árduo. Apesar de compartilharem laços sanguíneos como irmãs, uma harmonia entre Lúcia e Dalia era algo raro de se encontrar. Dalia, de espírito resiliente, adaptou-se com maior destreza à nova realidade, abraçando e superando rapidamente a desolação do abandono materno e a perda dos bens materiais. Já Lúcia, consumida pelo desassossego, sempre carregou consigo a chama da inconformidade. Quando alcançou seus tenros dezesseis anos, Dalia conseguiu um emprego como atendente em uma modesta empresa de transportes, traçando assim o seu caminho rumo à periferia de Stragho, deixando sua irmã mais velha, Lúcia, ainda aprisionada nos grilhões do orfanato que se tornara seu lar.

Com seus tenros dezessete anos, Lúcia encontrava-se imersa em uma teia de ambição, amargura e inconformismo. No silêncio das noites solitárias, ela tecia juramentos fervorosos a si mesma, alimentando um sonho voraz que a consumia por dentro. Jurava resgatar as riquezas que um dia fluíram em suas veias, erguendo-se como uma fênix resplandecente, em busca de uma reconciliação adiada. Em sua visão impetuosa, Lúcia idealizava um futuro em que sua mãe se arrastaria aos seus pés, implorando perdão, enquanto seus olhos suplicantes testemunhariam a magnitude da dor que suportara. Então, no auge de sua benevolência, Lúcia estenderia a mão da redenção, permitindo que sua mãe encontrasse abrigo sob o teto de sua grandiosidade. Tal era o desejo fervente de Lúcia: reavivar a chama das fortunas perdidas, ascender como uma dama soberana, respeitada, admirada e cobiçada. Ela almejava reconquistar seu lugar de direito, a morada celestial da Alta Nobreza, jamais permitindo que uma tragédia impiedosa a despojasse da posição que lhe era devida. Desejava que sua mãe testemunhasse sua ressurgência triunfal, mas não apenas como uma mera figura materna, e sim como uma testemunha vulnerável diante de sua opulência reestabelecida. Pois só assim poderia saciar sua ânsia por ver nos olhos daquela que a trouxera ao mundo o olhar penitente e arrependido, em um embate de remorso que somente a riqueza suprema poderia aplacar.

Assim, invariavelmente, Lúcia trilhava os caminhos tortuosos na busca incessante por um homem de vastas riquezas. Convicta de que o primeiro e crucial passo para escapar das garras da penúria era unir-se em matrimônio com um opulento cavalheiro. No entanto, questionava-se: qual magnata se interessaria por uma órfã desamparada, destituída de qualquer ascendência nobre ou linhagem ilustre? Essa incógnita pairava sobre sua mente inquieta, alimentando a dúvida que se agitava em seu íntimo.

Os Desejos de LuciaOnde histórias criam vida. Descubra agora