Ele me guia para dentro do restaurante, nada mais, nada menos que o Aprazível, lugar perfeito.
Escolhemos uma mesa na área externa, já que estava calor e eu queria ficar admirando aquela paisagem que me trazia paz.
O garçom chega com o cardápio e eu fico na dúvida do que pedir, na verdade eu queria escolher tudo. Tudo me parecia bom e Alex vendo minha dúvida pergunta.
— Quer que eu escolha?
— Ah sim, claro... Sou indecisa demais. Digo rindo.
Começamos com uma casquinha de caranguejo.
— Nossa! Isso é bom demais. Digo mastigando e ele rir.
— Meu preferido. Ele diz.
A bebida escolhida foi Tanj Mahal pra mim, já que não queria ficar bêbada e correr o risco de fazer algo que me arrependesse no dia seguinte e pra ele foi um “Santa Teresa”, que era composto de abacaxi, maracujá e açúcar de tangerina, também sem álcool, já que ele dirigia.
O prato principal escolhido foi um peixe tropical, ali eu me desmanchei toda, o comida boa.
O prato era composto por um peixe muito bem temperado acompanhado de arroz de coco com castanha, banana da terra, molho de laranja e açafrão.
Eu revirava tanto os olhos saboreando aquele prato que demorei a perceber que ele não estava comendo e sim me olhando.
— Tô parecendo uma esfomeada neh? Digo sem graça, largando o garfo no meio do prato e parando de comer.
— Não! Claro que não... Essa foi minha reação quando tive aqui pela primeira vez também. Eu só não sabia que te trazer aqui seria tão bom quanto está sendo, vê essa sua reação me faz acreditar que eu acertei na escolha.
— Acertou com certeza, tudo aqui é maravilhoso. Digo rindo.
— Que bom...
Para quebrar o clima que estava se formando ali, clima de romance por sinal, eu pergunto sobre sua vida.
— Me fale um pouco sobre você... Trabalhamos no mesmo hospital e conversamos raramente.
— Bom, eu me chamo Alex Belluto, tenho 33 anos, sou neurologista a 6 anos, sou de uma família tradicional, tradicional até demais as vezes, tenho um irmão e uma irmã, mais novos... É basicamente isso. Agora é a sua vez...
Dou um gole da minha bebida e penso no que dizer, não tinha muito o que falar e o que tinha com certeza ele ficaria assustado de saber.
— Me chamo Maria Júlia Garcia, sou formada em medicina a pouco tempo, pretendo me especializar em pediatra, não vou falar minha idade, mas estou acima dos vinte e abaixo dos trinta... Ele rir. — Tenho um filho de 7 anos, sou filha única e meus pais não são mais vivos, mas tenho um grupo de amigos que são minha família, estão sempre comigo, me ajudando, me apoiando e me protegendo de qualquer coisa. Finalizo.
— Nossa!! Ele respira fundo.
— Que foi? Pergunto esboçando um sorriso.
— Varias informações fortes... Filho de sete anos, isso significa que você foi mãe cedo e não consigo imaginar uma menina tendo um filho tão jovem sem apoio dos pais...
— Difícil... Foi muito difícil, mas lembra que falei dos meus amigos? Então, eles me ajudaram a chegar até aqui.
— Faço questão de conhecê-los, devem ser pessoas de bem...
— Com certeza são!
É o que respondo, mas o que penso é:“São pessoas de bem, mas se mexerem com eles ou com quem eles amam, a pessoa não ficará viva para contar a história” rio internamente.
— E o pai do seu filho, é um pai presente?
Pronto! Agora ele entrou em um assunto delicado e tenho certeza que minha cara muda na hora, mesmo sem querer que ela mude. Alex não tem culpa que esse assunto me faz mal, então não posso ser grosseira com ele.
— Desculpa... Desculpa! Eu não queria ser tão invasivo assim.
— Não! Que isso! É... O pai do meu filho morreu quando ele tinha 2 anos... Mas está tudo bem.
Minto! Mas de certa forma, eu não estava mentindo 100%.
Ele muda de assunto na hora, ele percebeu meu desconforto.
Em meio a um papo agradável sobre várias coisas, como música, trabalho, futuro, viagens, meu olhar passeia pelo ambiente e só agora me dou conta que o local está cheio...
Meu olhar para em uma mesa específica e meu coração parou naquele momento de bombear sangue para o meu cérebro, minhas mãos começaram a suar, minha boca fica seca, eu tremia internamente, engoli seco quando vi ele, bem ali, três mesas depois da minha, me encarando de cara fechada.
Desvio meu olhar do dele e volto a prestar atenção no que Alex falava, algo sobre dá uma passada na praia antes de voltarmos pra casa, eu concordei tomando um generoso gole da minha bebida e agora arrependida de não ter escolhido por álcool nela.
Enquanto Alex pede a conta, volto meu olhar para a mesa indesejada, observo que ele está com a mesma mulher que o vi no quiosque, ela deve ser a nova namorada dele, se bem que, depois de cinco anos longe da gente, esse relacionamento pode não ser tão novo assim, se ele não fugiu para ficar com ela... Um milhão de pensamentos vem em minha mente e uma vontade de vomitar atinge o meu estômago, respiro fundo para segurar, mas acho que respirei fundo demais, por que chamei a atenção de Alex.
— Está tudo bem? Seu olhar é estreito pra mim, preocupado.
— Sim... Claro! Digo tentando dá um sorriso confiante.
— Tem certeza? Ele pergunta mais uma vez, não acreditando em minha resposta anterior.
— Tenho sim, só acho que comi demais. Digo mostrando os dentes mais uma vez e agora sim acho que ele acreditou, por que sorriu.
Assim que me levantei para ir embora enfim daquele lugar, vejo Lyon e a mulher se levantar também.
Droga! Vamos sair juntos!
Pra piorar, Alex pede para eu esperar ele no lado de fora, disse que ia no banheiro rapidinho.
Vejo o casal caminhando para o lado de fora do restaurante, tento diminuir meus passos o máximo possível, queria que eles fossem embora logo, queria que o desgraçado fugisse igual fugiu no dia do quiosque, mas não! Ele abre a porta para a mulher passar e me olha indo em direção a porta, o infeliz fica segurando ela até eu passar e confesso que passar por ele naquele momento me fez quase desmaiar.
Sentir o seu cheiro tradicional, sentir seu olhar me queimando, sentir sua presença tão perto me dava vontade de gritar e tirar satisfação com ele ali, naquele momento, na frente de todos!
Mas eu não ia fazer isso, não ia estragar mais a minha noite, acho que no fundo era isso que ele queria que eu fizesse, que eu tomasse a atitude que ele não tinha coragem de tomar.
“Covarde!” penso.
Passo por ele e sinto sua presença atrás de mim, caminhando lentamente.
Vejo que o manobrista está trazendo os carros e logo Alex chega.
— Ainda vamos para aquele lugar? Alex me pergunta passando a mão ao redor da minha cintura.
— Claro! Respondo sorrindo.
Eu falava baixo, mas não tão baixo assim, eu queria de Lyon ouvisse.
Ele estava ao meu lado, provavelmente esperando seu carro também.
Estávamos lado a lado, Alex, eu, Lyon e a namorada dele, exatamente nessa ordem.
Precisei ser forte no momento em que ele, Lyon, desliza vagarosamente as costas da sua mão pelo meu braço.Meu corpo se arrepia por completo e me odeio por isso, me odeio por que sei que ele viu o quanto ainda sou apaixonada por ele.
Me mantenho firme e graças a Deus o carro de Alex chega primeiro que o deles, assim eu pude me sentar, por que já estava vendo a hora de me esborrachar no chão.
Enquanto o carro começa a se movimentar, dou uma leve olhada pra ele que está com seus olhos fixados nos meus, eu conheço Lyon perfeitamente e sabia exatamente o que se passava em sua cabeça, ele estava com ódio, queria tirar satisfação, mas não tinha coragem... O ápice da noite foi quando Alex envolve seu braço em minha cintura, ali eu tive quase a certeza de que ele ia estourar, mas não aconteceu... Talvez realmente ele não me ame mais como me amou, se é que me amou algum dia.Por hoje é só pessoal...
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Complexo de Israel - Em busca da verdade. Degustação
Romance5 anos depois do fatídico enterro de Lyon, Kadu recebe uma carta. No interior do envelope havia algo surpreendente: Um possível indício de que Lyon esteja vivo. A pergunta é: Por que ele ficou desaparecido todos esses anos? Preparadas para embarcar...