Majú...
Minha conversa com Caíque, apesar de estranha, me deixou animada. Era estranho estar tão perto dele e era inevitável não pensar em tudo que passamos, sacudo minha cabeça afastando os pensamentos nostálgicos.
— Se comporta hein! Falo com Leon dando um beijo nele. — Não dê trabalho a sua dinda.
— Eu já sou um homem mãe! Ele diz de cara fechada.
Leon está crescendo e a cada dia está com o gênio do pai, agora ele cismou que não quer ser tratado como criança, diz que é um pré adolescente.
Essas crianças vem com cada uma!
— Tá bom meu homenzinho, se comporta! Digo rindo e lhe dou um beijo de despedida.
Entro no carro e sigo em direção ao meu trabalho, na metade do caminho decido passar pela rua que a foto de Lyon foi tirada.
Passando pelo local devagar, observo cada detalhe, lojas de roupas, restaurantes, quiosques.
Fico pensando que se Lyon passou por ali é por que mora próximo e se passou uma vez deve passar sempre.
Assim que o carro para em um sinal eu pego a foto do Lyon no porta luvas e fico olhando, reparo no relógio de rua que tem na foto e a hora que ele passou ali foi 8:30 da manhã.
...
O plantão hoje foi corrido demais, parece que teve uma tentativa de invasão em uma comunidade e vários feridos vieram pra cá, não tive tempo nem de ligar para Leon antes dele dormir.
Meu plantão foi finalizado as 7 da manhã e mesmo mega cansada resolvo estacionar meu carro em alguma rua próxima ao local que Lyon foi visto.
Desço do carro e caminho lentamente até um quiosque e peço uma água de coco, fico sentada ali esperando da o horário que estava na foto, mas ele não passou.
Por um mês inteiro eu fiz a mesmo coisa, saia do trabalho e sentava no mesmo quiosque, até em dia que eu não estava de plantão eu ia bem cedinho, deixava Lorena avisada e ia.
Lorena achava loucura, dizia que as chances de eu vê Lyon passando por ali eram remotas, isso é, se realmente ele estivesse vivo.
Lógico que tinha hora que eu me desanimava, mas a cada manhã minha esperança se renovava.
...
— Ah vamos Majú? Fala Tábata, uma amiga do trabalho.
Ela me convidava para uma noite das meninas em um bar no recreio.
— Eu tenho Leon, esqueceu? Digo ajeitando meu uniforme de trabalho, meu plantão ia começar.
— Fala pra Lorena olhar ele, ué!
— Não é justo! Lorena já olha ele pra eu trabalhar.
— Para com isso Majú, você sabe que ela olharia ele sem reclamar.
— Vou pensar... Digo rindo .
— Vai pensar uma pinóia, vou ligar pra Lorena...
— Vamos trabalha doida, deixa Lorena em paz!
Saio puxando ela para iniciarmos nosso plantão.
...
— Vai sim Majú, eu olho Leon! Ordena Lorena.
Tábata ligou pra Lorena e as duas armaram um complô contra mim.
— Não é justo Lorena! Era pra eu ficar com as crianças e você ir curtir com Kadu.
— Kadu tem uma audiência amanhã, então não vai rolar. Você sabe como ele fica quando tem audiência.
Depois de muito tentar argumentar com ela, me dei por vencida, tomei meu banho e fui para o bendito encontro das meninas.
Eu vestia uma calça pantalona preta, um salto não muito alto e um cropped não muito curto, pouco da minha barriga aparecia.
Estávamos em um bar de frente pra praia, no recreio dos Bandeirantes.
Falávamos sobre tudo, trabalho, pacientes doidos, casamento, filho, nesse caso eu falei, já que ninguém ali tinha filho ainda.
Entre uma bebida e outra e muita risada, olho para o outro lado da rua, queria admirar o mar.
Estava tendo um show do outro lado da rua, um grupo de pagode cantava em um quiosque, o local estava cheio.
Passando o olho por todo o lugar, vejo um homem de costas pra rua, tudo que eu podia vê era, o porte físico, o cabelo baixinho e uma blusa azul marinho. Mas um aperto no peito me fez perder o ar, mesmo de costas, aquele homem me fazia lembrar de Lyon.
Meus olhos se encheram de lágrimas, eu respirava fundo para não chorar ali na frente das minhas amigas, desviei meu olhar daquele lugar e tentei me concentrar na conversa das meninas.
— Acho que o dr. Alex vai te convidar para sair. Raquel fala me encarando.
— Oi... Eu? Pergunto confusa.
— É, você! Todo mundo lá no hospital saber que ele é caidinho por você. Completa Tábata.
— Vocês surtaram! Digo nervosa.
— Ahh Majú, vai me dizer que você nunca reparou os olhares dele pra você? O jeito que ele te trata!
— Ele só é gentil, suas doidas! Digo balançando a cabeça negativamente e rindo de nervosa.
— Então você vai vê só, no próximo plantão quando ele te convidar pra sair, você vai lembrar de nós. Tábata diz rindo.
Eu já estava casada e louca para ir embora, então aviso as meninas que minha hora já tinha dado, eu ia embora.
Deixo minha parte do dinheiro em cima da mesa e depois de me despedir de cada uma das meninas enfim saio daquele bar.
Quando chego na calçada do bar, antes de solicitar um Uber resolvo atravessar a rua e ir até o quiosque, eu queria olhar aquele homem de perto, queria saber o quanto ele era parecido com o meu Lyon.
Atravesso a rua e caminho em direção ao homem, cada vez que vou me aproximando dele, vou vendo que em sua mesa havia vários homens e mulheres, inclusive uma delas está com um de seus braços em seu pescoço.
Dou a volta no quiosque e tento me posicionar em um local que me deixasse de frente para ele.
Paro ao lado do palco improvisado do grupo de pagode, ficando completamente de frente para aquele homem.
Ele está beijando a menina que estava com o braço ao redor de seu pescoço, depois de um beijo longo e dois selinhos rápido o homem sorrir e volta a olhar para o grupo tocando.
Seu olhar se encontra com o meu e vejo o exato momento que seu sorriso vai sumindo.
Era ele! Com certeza era ele.
Ok, com algumas tatuagens a mais, mas era ele, meu Lyon.
Ele desvia seu olhar do meu e se levanta rápido, puxa a mulher ao seu lado pela mão e fala alguma coisa com o pessoal que estava com ele e caminha para sair dali.
Tiro uma foto dele, eu estava tão nervosa que a imagem saiu desfocada, meio embaçada, mas quem o conhecia como eu e os meninos o reconheceria.
Corro em sua direção e dando a volta no quiosque consigo parar de frente com o casal.
Os dois param se assustando, fico encarando os dois esperando eles falarem algo, mas nenhum dos dois falam, então eu começo.
— Lyon... Minha voz é trêmula, meus olhos estavam a uma piscada para banhar meu rosto de lágrimas.
— Lyon?
A mulher que está ao lado dele pergunta me encarando de cara feia?
— Lyon... O que aconteceu?
Ignoro ela e foco nele, que não me encara, seu olhar está focado no mar, enquanto meus olhos passeiam pelo seu corpo, ele tinha mais tatuagens, estava mais forte, parecia está ótimo fisicamente e psicologicamente também.
— Quem é Lyon, amor? Ela pergunta a ele, o fazendo enfim olhar para mim.
— A senhora deve está me confundindo! Ele diz seco, seu olhar é frio.
— Para com isso Lyon! O por que disso tudo?
Eu já não me controlo mais, nesse momento eu já estou em prantos.
— Surtou doida? A mulher aumenta seu tom de voz.
— Cala a boca! Grito.
Eu queria que ela ficasse quieta, eu queria ouvir mais uma vez a voz dele, queria explicações.
— Olha aqui garota, eu não sei quem é você e muito menos esse tal de Lyon, você está me confundindo e não grite com minha mulher!
Ouvir ele falar ríspido comigo e defendendo ela me doeu até a alma, mas ouvir ele chama-la de MULHER me matou.
Ele passa por mim e vai embora puxando ela pela mão, eu não tenho reação alguma, fico por aproximadamente 10 minutos parada ali, no mesmo lugar.
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Complexo de Israel - Em busca da verdade. Degustação
Romance5 anos depois do fatídico enterro de Lyon, Kadu recebe uma carta. No interior do envelope havia algo surpreendente: Um possível indício de que Lyon esteja vivo. A pergunta é: Por que ele ficou desaparecido todos esses anos? Preparadas para embarcar...