Crystal

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Sem correção.

Adele sentou-se na cama, tensa, ajeitando o telefone no ouvido.
Alguma coisa tinha acontecido. Sanders estava distante respondendo quase só o necessário. O ciúme fazia o nome de Liz dançar sem cessar em sua mente e todo seu ser estremecia de raiva. Nunca acreditara ser capaz de amar alguém com tamanha intensidade nem de, algum dia, se sujeitar àquela absurda proposta que Sanders lhe fizera. Tampouco odiar uma outra mulher por causa de um amor. Há algum tempo, o papel a que estava se submetendo lhe parecia inadmissível. Mas o amor mudava as pessoas. A maioria das vezes para o bem, e algumas outras, raramente, para o mal.
__ Sanders, está me ouvindo? - a voz de Adele soava inusualmente brusca.

__ Sim, estou. Desculpe, estou de olho nas notícias do jornal.- mentiu, a televisão embutida no grande armário da parede sequer estava ligada.
Ele desejava lhe dizer muitas coisas, mas falar por telefone não seria a atitude correta de um homem que havia prometido a uma mulher a construção de um lar. Respirou fundo, buscando tempo para achar uma desculpa qualquer. Seu mundo tinha se transformado num caos. Como contar que Liz estava em coma e que a filhinha deles já havia nascido, e que os fatos tinham tomado outro rumo do que haviam combinado, e que ficaria na Inglaterra se Liz voltasse do seu sono? Com toda a certeza, tinha que agir corretamente com Adele, sua fiel escudeira, mas não tinha energia e nem coragem suficientes no momento; assim voltou a fechar os olhos como se o seu silêncio evitasse magoar Adele.
A ansiedade o dominava, os pensamentos e visões terríveis giravam diante dele e a agonia de saber que podia perder Liz era aterrorizante. No entanto, Adele, como mulher apaixonada que era, podia sentir todo seu estado do outro lado da linha. Só de pensar que Sanders poderia mudar de ideia quanto a relação deles sua boca ficava seca de medo. Aquele homem era seu amor, sua vida, seu tudo. Só ele fazia com que se sentisse especial.

__Sanders..., querido, o que houve?- ela recuperou o tom doce de sempre. Não queria bancar a possessiva porque sabia que tal atitude espantava os homens.__Algo está errado - comentou  com gentileza, o cenho franzindo-se de leve. — Conte-me o que é, querido.

Ele enrijeceu ainda mais, tentando controlar o nervosismo que destruía sua habilidade de pensar e agir. Não obtendo uma resposta, ela insistiu para que ele se abrisse.

__ Está sendo mais difícil do que você imaginava ficar aí, não é mesmo? Devido a seu senso de responsabilidade, largar tudo para assumir um bebê que talvez nem seja seu, me faz o admirar ainda mais.

__ Ela é minha.- Sanders afirmou, lembrando-se da miniatura que naquele momento se recuperava numa incubadora. Tinha muito de Liz, mas conseguia enxergar traços seus no pequeno rosto de pele suave.

__ Ela?

__ Sim, serei pai de uma garotinha. - contou.
Os olhos dele, cansados de toda a tensão e pesarosos, tornaram-se brilhantes com as lágrimas.
__Perdoe-me, Adele, sei que devia ter ligado para contar a você.Eu fiquei paralisado. Até esta tarde, eu não tinha dimensão do que envolve a palavra pai. Perdoe-me por não ter divido essa emoção com você!

__ Então teremos uma linda menininha?!- ela fingiu alegria e engoliu a triste verdade de que longe, e com ele próximo de Elisabeth, ela não era importante em sua vida.
"Conquistar o seu amor, ela disse a si mesma. “Pense apenas nisso!”

__ Parabéns, meu amor! Absoluta certeza que você será um ótimo pai. Esqueça a minha desconfiança sobre a paternidade. O sentimento que brotou em seu coração ao vê-la é mais forte do que um DNA.

__ Não ficou magoada comigo?

__ Não liguei para discutir infantilidades. Sou uma mulher adulta e aceitei ficar ao seu lado nessa situação. Eu entendo todo o estresse pelo qual está passando, querido. Você sabe que pode contar sempre comigo, não sabe? Liguei porque estou morrendo de saudades. Queria muito estar em Londres, ao seu lado, para apoiá-lo.

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