Alento

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Lucy já caminhava para a guilda com um sorriso de orelha a orelha enquanto se equilibrava sobre o muro que beira o rio, e, como todos os dias, os barqueiros que passavam a cumprimentavam e avisavam sobre o perigo de cair na água.

Ela só ignorava. Hoje o dia estava tão lindo que com certeza a chance de acontecer isso era nula. Ela tinha certeza que Deus não seria tão ruim de lhe estragar a possibilidade de felicidade hoje por capricho.

Abriu a porta da guilda, dando de cara com a bagunça normal e com Natsu. Ele parecia surpreso e talvez até um pouco preocupado.

— Luce! — Ele correu até a maga e a abraçou. — Você está bem? O que aconteceu com você? Ontem quando saí do vestiário não te achei aqui e a Mira falou que você tinha ido em uma missão sozinha... Devia ter me chamado!

Ela não estava acreditando nisso. Sério... Ele estava ali agindo com a maior normalidade do mundo, como se não tivesse sido flagrado fodendo com uma amiga dela dias depois de ter dito que a amava. Mas ok, esse jogo ambos podem jogar, e Lucy sabia que dessa vez ela tinha cartas melhores.

— Oi, Natsu! — Ela sorriu. — Ah, não quis incomodar, você parecia ocupado.

Ela seguiu para o balcão do bar enquanto respondia o amigo.

— Bom dia, Mira! —Ela cumprimentou, novamente dando um sorriso lindo. — Me faz um suco de morango, por favor?

— Bom dia, Lucy! Olha só... Alguém acordou com o humor nas alturas hoje, hein... — a maga respondeu.

Ambas ficaram conversando animadamente sobre tudo e nada ao mesmo tempo enquanto Lucy tomava seu suco e Mirajane enxugava os copos que havia acabado de lavar. Natsu observava aquilo tudo com muita estranheza. Ok, ele adorava ver Lucy sorrindo tanto, mas depois do jeito que ela saiu do vestiário no dia anterior ao vê-lo com Lisanna, ele não esperava que ela estivesse tão bem assim, e ele não sabia se gostava disso.

Mira se afastou um pouco para se encontrar com o carteiro na entrada da guilda e receber as cartas do dia. Ela voltou para o balcão, passando carta por carta, confirmando que eram para o mestre Makarov – em sua maioria enviadas pelo concelho –, mas na última, ela parou com surpresa, exclamando:

— Oh! Essa é para você, Lucy! — ela disse virando a carta para ver o remetente. — Nossa, quem enviou é o Mestre Sting da Sabertooth!

Ela entregou a carta para a loira, que estava com um sorriso reluzente e seus olhos pareciam brilhar como milhões de diamantes sob o sol. Natsu não gostou disso. Ela abriu o envelope, pegando a carta para ler, mas antes que pudesse fazê-lo, Natsu tomou o papel das mãos e começou a ler.

"Oi, Blondie! Como você não me passou seu endereço, tive que mandar a carta para a guilda. — Lucy tentava pegar a carta da mão do mago, mas não conseguia. — Quero que saiba que ontem o dia foi incrível com você e mal vejo a hora de repetir... Por sinal..."

Antes que Natsu conseguisse continuar a ler, Lucy conseguiu tomar o papel da mão dele, que sem perceber, tinha queimado uma das bordas dele.

— Que merda você acha que está fazendo, Natsu? A carta é para mim! É pessoal! Pare de se meter na merda das minhas coisas.

— Que merda eu estou fazendo? Que merda que você está fazendo, Luce? — Natsu estava visivelmente com raiva e alterado. — Sério? Flertando com Sting Eucliffe... Achei que era mais inteligente, Luce. Você vai ficar longe dele.

— Eu vou ficar longe dele? Ah, desculpe, perdi o momento da história onde você se torna meu pai ou minha mãe! — Lucy estava também com raiva e Mirajane começava a se preocupar com a situação. — Sai da minha frente, Natsu. Você não manda em mim.

Lucy saiu, sem se despedir de ninguém. Ela pisava duro no chão, com raiva exalando de seus poros. Ela não acreditava nisso. Sério. Natsu depois da merda toda achava que podia realmente decidir com quem Lucy poderia ou não flertar ou se envolver. Isso a deixava puta.

Decidiu ler a carta enquanto caminhava para casa.

Oi, Blondie!

Como você não me passou seu endereço, tive que mandar a carta para a guilda. Quero que saiba que ontem o dia foi incrível com você e mal vejo a hora de repetir...

Por sinal, sei que você deve estar se corroendo de saudades de mim, então mandei essa carta para avisar que tenho uma reunião de mestres amanhã à noite e decidi sair mais cedo para poder passar a tarde aí em Magnólia com você. Bem, como não sei onde você mora e não sei se seria uma boa te encontrar na guilda, me espere na estação. Devo chegar cerca das 14:00.

Com todos os melhores beijos do mundo,

Sting Eucliffe

Lucy se viu dando um sorriso sincero. Sting era incrivelmente arrogante, mas era de certa forma "fofo". Ela continuou o caminho para casa, feliz. Ao chegar, subiu parou na cozinha para beber um copo de água e foi para o quarto, ainda olhando aquela carta. Sem levantar o olhar, a guardou, junto às cartas para sua mãe e sussurrou:

— Ah, Sting...

Foi quando ela ouviu um barulho, parecia até um rosnado de um animal raivoso. Quando olhou para sua cama, Natsu estava ali sentado, visivelmente irritado. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, ele veio para cima dela.

— Que porra você tá fazendo, Luce?

Lucy não estava confortável, ela olhava nos olhos de seu amigo e não se sentia acolhida como sempre, ela se sentia assustada e com medo. Ela se virou para sair correndo da casa, não soube bem o porquê, mas o instinto dela mandava ela fazer isso.

Mas Natsu a segurou pelo pulso, a puxando para si e depois empurrando-a para a parede. Ele ainda segurava o pulso dela.

— Luce, fique longe do Sting. Você é minha e só eu posso tocá-la.

Ele parecia que transferia toda aquela raiva para o aperto no pulso da maga, que queimava e parecia esmagar os ossos de tanta força. Lucy gemeu de dor.

— Natsu, está me machucando! — Ela reclamou com um fio de voz, com algumas lágrimas escorrendo.

Ele pareceu despertar de um tipo de transe e a soltou, ela caiu de joelhos no chão enquanto olhava para o próprio pulso agora com uma enorme marca roxa. O dragon slayer se assustou ao ver aquilo, se abaixou na altura dela e acariciou o rosto dela, limpando suas lágrimas enquanto pedia desculpas. Lucy sabia que ele não pretendia machucá-la, mas o fez e isso a assustou.

O que mais Natsu seria capaz de fazer a ela sem perceber ao ser tomado pela raiva?

— Natsu, sai daqui... Por favor — sussurrou. — Não quero mais você na minha casa.

Lucy sequer o olhou ao dizer isso, mas ele sabia que dessa vez ele tinha passado dos limites. Ele a tinha machucado, mais do que emocionalmente, a machucou fisicamente também. E apenas por causa disso, ele saiu.

A maga celestial ficou ali, no chão chorando. Sentia tanta raiva de Natsu nesse momento. Raiva por ter brincado com os sentimentos dela, raiva por tê-la machucado e raiva por ele ter roubado esse dia tão feliz e bonito que tinha sido hoje. Ela nem percebeu quando caiu no sono ali mesmo, no chão, apenas desejando poder ver logo Sting.

Meus sentimentos por vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora