Capítulo 3 - O Brilho da Verdade em Meio às Nuvens do Preconceito

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O Lobisomem e a Fada
Capítulo 3: O Brilho da Verdade em Meio às Nuvens do Preconceito
Contagem de Palavras: 981 Palavras

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Nico se encontrava em um pequeno ataque de pânico interno. Ele nunca tinha cuidado de nada antes e agora a própria princesa das fadas estava em sua frente e ele não sabia o que fazer. Se ela estivesse ferida, ele precisava dar um jeito de ajudar. Com esse pensamento o lobisomem se aproximou, o que fez Mary se encolher ainda mais.

- P-Por favor, não me devore - Pediu ela, assustada

- Devorar? - Surpreendeu-se Nico - Eu não devoraria você nem se tivesse algum valor nutricional. Sei que fadas são compostas em 90% por magia, 7% por água e 3% por asas indestrutíveis

Em seu nervosismo ele tentou se manter no controle falando sobre algo que dominava. Diferente de astronomia, o lobisomem ia muito bem em biologia.

- M-Mas você é um lobisomem - Gaguejou Mary - E... fala...

- Falo sim, assim como você - Disse Nico, sem entender o motivo de aquilo ter entrado em tópico - E daí?

- S-Sempre ouvi que lobisomens são feras descontroladas que saem à noite para devorar tudo o que encontram - Disse a fada

- Isso não é verdade - Disse Nico - Não sou exatamente um gênio, mas nunca tirei menos que 9,5... em biologia. Meu amigo Mike, por outro lado, sempre foi um aluno nota dez, em todas as matérias

Mary, no entanto, não estava exatamente prestando atenção. Sua concentração estava nas grandes presas que o lobisomem exibia em sua frente. Cada vez que Nico abria a boca, a fada se arrepiava.

- Vamos falar sobre você agora - Disse Nico - O que uma fada está fazendo por aqui, tão longe da capital?

- N-Não sei - Murmurou Mary em resposta - Minha casa... meu pai... preciso voltar

- Precisa de ajuda? - Perguntou o lobisomem, tentando se aproximar de novo, o que fez com que a fada se encolhesse de medo novamente

- S-Só me diga para que lado fica a capital - Pediu ela, trêmula - P-Posso ir voando

- Fica para o norte, por ali - Disse Nico, apontando a direção certa

- O-Obrigada - Agradeceu Mary

Ela então bateu suas asas e levantou voo a alguns poucos centímetros do chão, mas logo em seguida caiu de volta na grama.

- Você está bem? - Perguntou Nico, preocupado, indo até ela

- FIQUE LONGE DE MIM! - Gritou a fada

- Mas... Já falei que não vou te machucar - Disse o lobisomem, sem entender o motivo de ela continuar tão amedrontada em relação a ele

- V-Você quer dizer que tudo o que aprendi é mentira? - Perguntou Mary - N-Não posso simplesmente acreditar nisso

- Por quê não? - Perguntou Nico - Não está vendo que não vou te fazer nenhum mal?

- E-Eu... - Gaguejou ela

- Me deixa te ajudar - Disse o lobisomem

- Não preciso de ajuda - Disse a fada

- Precisa sim - Disse Nico - Sua asa esquerda bateu mais devagar. Ela está machucada, não é?

- Foi só um mau jeito - Disse Mary - Posso andar até ela ficar melhor

- Não, você não pode - Disse o lobisomem - Há muitos perigos nos bosques ao redor

- Não tenho opções - Disse a fada

- Você pode vir comigo - Disse Nico - O médico da minha vila...

- NÃO! - Exclamou Mary, ainda mais amedrontada com a ideia de ver mais lobisomens - P-Prefiro não ir

- Então, pelo menos, me deixe de acompanhar - Disse o lobisomem - Você não pode ir sozinha

Mesmo que Nico parecesse sincero, a fada não conseguia se fazer confiar nele, então, sem esperar por uma permissão, Mary decidiu deixar o lobisomem falando sozinho e se afastar para longe.

- Aonde vai? - Perguntou Nico, não recebendo uma resposta - Espere, você não pode...

No entanto, Mary começou a se afastar muito, com toda a velocidade que pôde alcançar naquelas condições.

- Droga! - Exclamou o lobisomem - Espera

Ele então correu atrás dela. Vendo isso, a fada fez o possível para apertar o passo, seguindo pela floresta com Nico em seu encalço, até chegar em um rio. A única passagem por ali era uma velha ponte de corda.

Quando o lobisomem enfim alcançou Mary, a fada já estava no meio do percurso.

- Espera... aí... - Pediu Nico, tentando recuperar o fôlego, visto que atividades físicas também nunca despertaram seu interesse

- Por que você fica me seguindo? - Perguntou Mary

- Por causa dos perigos - Respondeu o lobisomem - Essa ponte, por exemplo. Ela não é segura

- Essa ponte é ótima! - Retrucou a fada

Entretanto, mostrando quem estava com a razão, um grande estalo veio da ponte. As cordas da margem oposta à de Nico se romperam quase que imediatamente, fazendo toda a estrutura desabar no rio. Mary tentou voar, mas rapidamente caiu na água, sendo levada pela correnteza.

- SOCORRO! - Gritou ela

- Droga, droga, DROGA! - Exclamou Nico

Sem demora, o lobisomem tirou seu chapéu e seu sobretudo e pulou na água. Naquele momento, Nico nadou como nunca havia feito em sua vida para conseguir alcançar Mary e depois voltar, contra a corrente, até onde suas coisas estavam.

A fada havia ficado sem fôlego, mas estava bem e, consideravelmente, ilesa. Quanto ao lobisomem, as coisas eram um pouco diferentes.

- Você... me salvou... - Murmurou Mary, se virando para olhar seu resgatador, mas ficando imediatamente espantada com o que encontrou - O QUE ACONTECEU COM SEU PELO?

Essa reação não era exagerada. Em vários pontos pela pelagem de Nico haviam agora falhas fumegantes com um brilho esbranquiçado.

- O sol... faz isso... com os lobisomens - Gaguejou Nico, se sentindo fraco

- Isso é minha culpa - Disse Mary com lágrimas nos olhos

- Não se... preocupe - Pediu o lobisomem - Vou me... regenerar...

- Regenerar? - Perguntou a fada

- Sim... - Respondeu Nico - Meus ferimentos vão desaparecer. Só preciso descansar um pouco

- Entendi - Disse Mary - Obrigada, sabe, por me salvar

- Não precisa agradecer - Disse o lobisomem

- Claro que preciso - Disse a fada - Você me avisou que haviam perigos por aqui e eu não quis te ouvir. Se aquela proposta de me acompanhar ainda estiver valendo, adoraria ter a sua companhia

- Mesmo? - Perguntou Nico

- Sim - Respondeu Mary

- Então será um prazer ajudar você, princesa - Disse o lobisomem, sorrindo para ela

A fada então retribuiu sorrindo de volta, algo que nunca pensou que poderia fazer longe de seu lar.

O Lobisomem e a FadaOnde histórias criam vida. Descubra agora