três

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No capítulo anterior: Soraya Thronicke recebeu a mensagem após fazer uma prisão, um tanto atordoada pelas tarefas da tarde. Visualizou sem resposta, pois mal havia lido o conteúdo. Não conhecia o remetente, e lhe faltava o devido tempo para dar a atenção ao telefone naquele momento. Mergulhada até os cotovelos nas pendências da delegacia, só teve o alívio de voltar a pensar normalmente no final do expediente, conforme retornava para casa.

"Arrume suas malas. E, esteja no aeroporto às 21h de sexta-feira. NT. S"

Nassar Tebet. Simone.
Inconfundível armadilha.

Bom, Soraya não poderia simplesmente aparecer. E ela o fez. Jogou fora as folgas que nunca havia tirado em todos esses anos. Ao sair da delegacia naquela sexta-feira, prometeu a si mesma que estaria trabalhando. Indiretamente, arrastou os dedos pelo couro da cadeira e quis se manter ali. Como se pudesse deixar uma âncora, a evitando que se afogasse no dilúvio em que estava pronta para enfrentar.
Com uma mala de mão recheada, sem saber sequer aonde estava indo, ela chamou um táxi. Pediu pelo caminho mais curto até o aeroporto, pois não queria se atrasar, e também, porque estava muito curiosa. Ao chegar, percebeu que estava mesmo numa enrascada, pois não tinha informação nenhuma sobre aonde deveria esperar. Desbloqueou a tela e arriscou uma ligação ao remetente da mensagem de convite.

"Você chegou ?"

"Às nove em ponto."

"Muito bem, estou indo te buscar."

Não literalmente. Uma das comissárias de bordo encontrou Soraya nas coordenadas cedidas por ela na ligação, simpática e comunicativa, guiou a delegada por todo o trajeto.

– Não passamos por identificação e revista ? – Bom, Soraya estava embarcando com uma arma de fogo, afinal de contas. Era acostumada em mostrar o crachá em viagens à trabalho, e estava mais que preparada para fazer o mesmo nessa.

– Não. A identificação já foi finalizada. – Os lábios cor de vinho da moça se ergueram num sorriso, e em breve estavam esperando o carrinho de golfe para andarem pelo pátio do aeroporto, aonde finalmente encontrariam o jatinho particular da prefeita.

– O Felipe já estava ficando impaciente. – Simone estava de costas para a porta, com um livro aberto e a poltrona ao seu lado vazia.

– Quem é Felipe ? – Soraya encaixou a própria mala de mão no pequeno compartimento acima dos poucos bancos.

– Diga oi, Felipe. – O piloto obedeceu, e Simone sequer ergueu os olhos para assistir a reação de Soraya, porque sabia o modo dela de reagir. Conseguia sentir de longe a tensão no corpo dela.

– Então... – Soraya não esperou o convite para se sentar, e tampouco escolheu o assento ao lado dela, ficando frente a frente com a mulher concentrada na leitura.

– Não tem medo de avião, tem ? – Ela perguntou, irônica.

– Não, claro que não. – Soraya engoliu seco. Era policial, e também uma mulher que enfrentava desafios, no geral. No entanto, estava diante de alguém imprevisível, instável e diabolicamente atraente. Havia algo nela que servia de ímã. Talvez a ausência de padrão nas suas curvas, diferente de qualquer mulher que já havia visto na vida. Ou, os olhos intensos e escuros, que pareciam lhe exergar a alma. Não conseguia formular uma vírgula que a pudesse repelir, mas poderia passar horas dissertando um parágrafo sobre as razões que a faziam se aproximar dela.

– Então relaxe os ombros. – Simone exigiu, sem ainda repousar os olhos nela.

– Aonde estamos indo ? – Soraya começou a admirar o céu noturno e as luzes brilhando mais longe conforme a aeronave pegava voo.

ARMADILHA [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora