XIV

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Phil permanece imóvel no chão e meu coração ainda está muito acelerado pelo que acabou de acontecer. Sinto o café da manhã voltar pela minha garganta e despejo tudo no chão da cozinha. Estou suando e me sinto doente, como eu pude deixar tudo isso acontecer? Por que demorei tanto pra tentar fugir? Eu me sentia segura? Eu estava com medo? Eu enlouqueci? A porta da cozinha se agiganta como se fosse o último chefão bloqueando a saída das masmorras, a ideia me enche de pânico. Olho ao redor a procura de algo que possa me ajudar, a mulher me observa, aflita.

— precisamos ir rápido, ele pode acordar a qualquer momento...

— droga... Eu não vou conseguir arrombar essa merda... O que eu faço? — coloco as mãos na cabeça que começa a doer.

— calma, nossa melhor chance é descobrir onde ele guardou a chave... — ela olha ao redor —  o quarto dele, rápido.

Faço como ela pede e corro até o quarto dele, parece uma piada que eu realmente poderia encontrar algo ali. Entretanto, é minha única chance se eu quiser sair com vida, então ignoro os flashes e a câmera lenta e me concentro em encontrar o pequeno objeto. Jogo as roupas em um canto, reviro o guarda-roupa, entro embaixo da cama e nada. A única coisa que falta é procurar na escrivaninha. Me aproximo do móvel com o coração tão rápido que o ouço martelar em meus ouvidos. A princípio, não parece ter nada, até que noto algo grudado embaixo da gaveta. Eu não acredito, encontrei.

— vai logo abrir a porta, não queremos que ele acorde e termine o que começou, certo? — ela está ao meu lado agora, sua feição parece mais calma mas ainda há certa melancolia em seu olhar.

Atravesso o corredor de volta para a cozinha e encaixo a pequena chave na porta monstruosa, giro o objeto e ouço o "clic". Abro a porta e percebo que, na verdade, está chovendo e há um carro parado em frente a casa. Quase não consigo ver nada por conta da tempestade. Vou até o carro que julgo ser do Phil, mesmo que eu nunca o tenha visto, preciso encontrar um jeito de voltar pra Duskwood mas o carro está trancado e eu não vou voltar pra procurar a chave. Sem pensar muito, dou um soco com toda minha força no vidro e o sinto se estilhaçar na minha mão enquanto pequenos filetes de sangue começam a aparecer.

Destravo a porta e entro dentro do carro a procura de qualquer coisa que me ajude a fugir. Dentro do porta-luvas, minha salvação: um celular. É protegido por senha ou por digital. Me ocorre a ideia de voltar lá dentro e usar o dedo do Phil, ao mesmo tempo que sei que ela sabe o que estou pensando, porque ela me olha com total desaprovação.

— não, é arriscado demais!

— eu não tenho escolha, não posso bloquear o celular tentando adivinhar a senha, eu já volto.

Já estou impaciente e sinto como se não pisasse em nada, meu corpo completamente entorpecido. Saio do carro novamente e volto pra dentro, minhas roupas estão ensopadas pela chuva e o celular molhou também. Seco o aparelho e minhas mãos em um guardanapo e rapidamente encosto do dedo dele no sensor e o celular é desbloqueado. Preciso ligar pra alguém, preciso pedir ajuda. Abro os contatos e além do número da Jessy, o número do Richy também está salvo, não penso duas vezes e ligo pro Richy. O número chama algumas vezes antes de atender.

— Richy! Meu Deus, Richy! Socorro, o Phil, ele... — as lágrimas escorrem pelo meu rosto — vou te enviar minha localização, por favor, traga o...

Pelo canto do olho percebo Phil se levantando. Perco a linha de raciocínio e minha primeira reação é correr o mais longe possível. Corro às cegas pela estrada de terra, as gotas grossas de chuva batem em meu rosto e eu ouço gritos atrás de mim, Phil se recuperou rápido demais e agora eu estava correndo pela minha vida. A mulher volta ao meu lado e ela aponta a floresta, sem pensar em mais nada eu a sigo para o meio das árvores. Quando paro de ouvir os gritos me encosto em um tronco grosso e pego o celular novamente, a tela está bloqueada de novo e há várias ligações perdidas do Richy.

Perseguindo Fantasmas - DuskwoodOnde histórias criam vida. Descubra agora