IV

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Quando abro a porta, Jessy vem me receber, aflita. Ela diz que tentou entrar em contato o dia todo e percebo que meu celular está desligado no meu bolso. Me desculpo enquanto ela me leva até a cozinha e o cheiro me avisa que o jantar está pronto. Então eu percebo que não comi nada o dia todo, mas também não estou com muita fome.

— você precisa comer. Eu não ligo que você não coma muito, mas você precisa comer — Jessy me obriga a sentar à mesa e coloca um prato na minha frente.

— o cheiro parece delicioso, obrigada... — dou uma garfada no macarrão e percebo que o gosto é tão bom quanto o aroma — está ótimo!

Jessy e eu jantamos em silêncio, enquanto eu fico remoendo as palavras do Richy, sem saber de devo ir até a casa sozinha ou chamar alguém. Ir até lá pode ser perigoso e eu não quero que a Jessy se machuque de novo, então decido ir sozinha, principalmente porque não é algo difícil e eu já estou acostumada. Decido ao menos contar sobre a visita, como um modo de me desculpar por esconder o que vou fazer.

— Jessy, eu visitei o Richy hoje — comento como quem não quer nada.

— por que não me contou? Ele tá bem? — ela me olha com os olhinhos brilhando.

— o Alan me chamou de última hora, então não tive tempo de contar, desculpe. Ele parece melhor, logo deve voltar pra casa — sorrio.

— obrigada, MC, se não fosse por você talvez ele não estivesse vivo agora — ela me abraça — e pensar que antes dele sumir eu briguei com ele... Pensei que nunca poderia pedir desculpas...

— por falar nisso, ele perguntou de você, Jessy. Sabe, o Richy realmente gosta de você.

— eu também gosto muito dele, mesmo ele sendo um idiota as vezes — ela esfrega os olhos — mal posso esperar pra ver ele de novo.

Ah Jessy, se você soubesse tudo o que eu sei... Se soubesse quem foi que te atacou... Pelo seu bem, eu jamais vou contar.

Me despeço dela e digo que tenho mais um compromisso com o Alan, ignoro seu risinho malicioso e saio. Chamo um Uber e, aqui vou eu, casa assustadora.

***

Por sorte o motorista não questiona, o que me faz pensar que ele não é como a maioria da cidade, afinal uma garota indo sozinha pra uma casa vazia no meio do nada provavelmente daria um ótimo assunto. Desço do carro e quando o motorista se afasta e a sombra escura daquela casa enorme fica assustadora. Pego minha lanterna e respiro fundo: é hora de entrar. Atravesso o celeiro me lembrando exatamente do caminho que a Jessy e o Thomas fizeram e, antes que eu perceba, estou dentro.

A casa está vazia e o único som que ouço são os ratos e insetos que tomaram a casa para si. Subo as escadas até um corredor longo e escuro, percebendo tarde demais que não sei qual quarto é o certo. Entro na primeira porta e encontro um quarto onde tudo parece intocado, a cama com o lençol de ursinho, as paredes rosa agora estão velhas e desbotadas, a cômoda e o guarda roupas e até mesmo alguns quadros na parede. Me aproximo apenas para ver uma garota de belos olhos verdes sorrindo ao lado dos pais, isso me faz entender quando a Hannah escreveu 'ela tem os mesmos olhos, olhos cor de esmeralda'. Em outro quadro ela já é uma moça agora, talvez tivesse seus dezoito anos, não sei. Os rostos de várias idades da Jennifer me observam, ela era tão linda, seus cabelos tão escuros, sua pele bronzeada e seu corpo delicado, ela tinha um sorriso genuíno estampado no rosto. Sinto meu peito apertar e decido sair dali.

O próximo quarto parece uma espécie de escritório, cheio de caixas e papéis espalhados por todo lado além de uma escrivaninha encostada em uma das paredes. Um banheiro, uma sala cheia de brinquedos e um espaço vazio depois e eu finalmente estou no quarto que pertencia ao Michael. Tudo fede a mofo e está uma bagunça, de repente eu posso ver o Michael completamente perturbado por ter perdido a filha, toda sua raiva lhe fazendo jogar as coisas pro alto e, em uma noite qualquer, ele deixa uma carta em um lugar onde só alguém que o conhecia bem poderia encontrar e foge, deixando tudo pra trás.

Perseguindo Fantasmas - DuskwoodOnde histórias criam vida. Descubra agora