Piloto.

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• Inglaterra •

Charlotte acordou naquela manhã chuvosa duas horas a menos do horário combinado com seu pai. Precisava mesmo chegar mais cedo na faculdade, ou perderia o trabalho mais importante do semestre.

Para ser sincera, a jovem mal havia pregado o olho na noite anterior, estava ansiosa para saber as notas finais do seu esforço durante o ano, mas também estava preocupada com outras mil questões em sua casa.

Seu pai, o Sr. Oscar Austin, havia descoberto alguns  problemas de saúde alguns anos atrás, e as economias que ela vinha fazendo não era o suficiente para pagar bons médicos que cuidassem do mais velho.

Para piorar tudo, na semana passada, ouviu uma conversa séria entre ele e o patrão sobre o grande sucesso que a fabricação de vinhos estava fazendo e o quanto ele vinha recebendo bem e não precisava mais daquelas terras, pois poderia expandir seus negócios para algo maior.

Era mais algo como vender aquele pequeno (na verdade minúsculo) pedaço de terra que abrigava ela e o pai e sustentava sua casa. Aquilo não era algo bom para Charlotte que nem sequer algum dia pensou na ideia de sair dali.

Estudava literatura para daqui um tempo trabalhar dando aula no pequeno colégio que tinha perto de sua casa. Não precisava ir embora para uma cidade maior ou regressar ao país de sua mãe. Sabia que seu pai amava aquele vida no campo e não tiraria isso dele, muito menos deixaria ele sozinho.

Por isso seus sonhos sempre foram bastante limitados para nada além daquelas vinícolas. Perder o pouco que tinha naquela altura do campeonato era azar demais para uma garota que desde cedo já havia provado o amargo de um vinho seco.

Ela odiava vinho seco.

Seu pai estacionou a Savero em frente a faculdade e esperou pacientemente que a filha desastrada catasse seus pertences e lhe deixasse um beijo no rosto antes de descer do carro.

C: Papai, eu volto pra casa mais cedo, mas não precisa parar o seu trabalho para vir me buscar. Eu devo pegar uma carona com alguma das meninas. A gente se encontra no almoço, ok? – colocou a cabeça parcialmente no vidro.

O: Eu te buscaria se pudesse. O patrão deixou o carro comigo o dia inteiro, pois preciso mostrar as plantações para alguns interessados. O trabalho vai ser cansativo, então não sei se volto para o almoço. Mas coma com a Heide se possível.

Heide é uma grande amiga e sua vizinha. Sempre que possível elas fazem coisas juntas para manter a amizade linda que estabeleceram, já que Charlotte não tem tanto tempo livre durante os finais de semana.

Ou ela está presa em seu quarto estudando, ou está nas plantações implorando para que seu pai deixe o trabalho pesado para ela e os outros funcionários, afim de preservar a saúde dele.

Seu pai conheceu sua mãe quando eram muito jovens. Ela morava na Tailândia e deixou seu país para viver aquele amor. Tiveram uma única filha e alguns problemas foram surgindo no casamento, culminando no fim da união alguns anos depois.

Em primeiro momento, Charlotte regressou à Tailândia com sua mãe, pois assim era determinado pela justiça. O pai tinha o direito de ver a menina sempre que quisesse, mas precisava priorizar os estudos e a boa condição de vida que ela tinha morando com a mulher.

Quando completou os 18 anos, Charlotte começou a decidir que tipo de faculdade deveria fazer. Nem sequer teve tempo de pensar em seu futuro quando soube que seu pai havia sofrido um infarto e estava tendo problemas respiratórios na Inglaterra.

Não pensou duas vezes em abandonar tudo e ir morar com o mais velho. Sentia que se o perdesse sem a chance de cuidar dele pelo tempo que fosse necessário jamais se perdoaria.

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