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(Aviso que chorei a escrever, a playlist também ajudou)

A última música que ouvi foi Fix You dos Cold Play.

E antes que possam perguntar, não sei quem está a comentar isto, se sou eu viva ou eu já morta.

Sabem aquela luz no fundo do túnel, quando estamos a chegar a ela, mas ela parece que nunca mais acaba e não tem fim? Talvez não, porque penso que não tenham quase falecido.

Mas aquela sensação de ir ao além e voltar eram agonizantes.

Eu estava de olhos abertos, mas eu não estava a ver nada, era como se tivesse uma névoa a pairar sobre as minhas pílulas.

As minhas pernas estavam de tal modo paralisadas que sentia que não estavam lá, o coração batia tão devagar que jurava que já não batia mais, os braços estavam tão trémulos que ainda estavam agarrados ao volante.

As luzes do camião estavam numa distância tão razoável que cegavam qualquer um, a quantidade expressa de lágrimas era enorme, mas eu ainda não estava em mim.

Um minuto antes vi o camião a travar, dois minutos depois travei, e 3 minutos depois eu estava quase debaixo do camião.

Eu não travei o carro, o carro não travo e eu estava debaixo do camião, a pedir silenciosamente ajuda.

Amaldiçei a pessoa que amava em silêncio, mas ignorei a maldição por saber que podia morrer ali e pedi desculpa a ele.

Não sentia dores, talvez da adrenalina, não sentia qualquer dor apesar de saber que tinha. Eu estava consciente ainda?

Ou já não?

Não ouvia um pedido de socorro, nem luzes, apenas quis ir embora.

- Ela está aqui. Menina ouve? - Não, quase nada, quis responder, mas não respondo, apenas deixo lágrimas invadirem todo o que conhecia. - Ela não responde! Precisamos de ajuda.

- Eu travei o camião! Como ela não me viu? - Disse o homem do camião. - Eu matei a mulher?

- Está ali outro carro. Estão lá crianças. - Eu ouvia, mas deixei de os ouvir. A culpa foi minha?

Sinto duas mãos em mim.

- Pulsação fraca! - disse a pessoa com as mãos no meu pescoço. - Temos que a tirar daqui. - Ouço novamente.

A luz do camião parou  e eu abro os olhos e olho para o homem por cima de mim.

- Nós vamos ajuda-la, está bem! - Não consigo mexer-me.

- Ela está viva, preciso de ajuda, rápido! - Ele diz alto. Ele conseguiu limpar os meus olhos e olho para ele novamente, de onde eu o conhecia? Conhecia-o.

- Estás bem! Vais ficar bem! - ele tinha olhos azuis.

Ouço um barulho horrível e ouço mais barulho, depois luz, as luzes da ambulância, mas não vejo mais o homem.

Para onde ele foi?

- Ela está inconsciente! - disse uma mulher agora a pôr-me a proteção da coluna, quando ela me tira o sinto eu desmaio.

Autora

- Vamos tira-la de lá. O condutor do outro ligeiro é uma vítima mortal.  - disse a polícia chefe.

As operações de socorro chegaram rápido a autoestrada, onde ocorrou o choque frontal do ligeiro do camião e do segundo ligeiro da nossa protagonista.

Ponto Final | Rúben DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora