Parte Três

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Ninguém atendeu quando Sakusa tocou a campainha. A casa parecia exatamente como da última vez, e embora limpa, a pintura estava descascando em alguns pontos.

Faziam quase três anos que Sakusa não ia na casa de Shoyo.

Tocou a campainha mais uma vez, e depois de alguns minutos a porta se abriu. Mas não teve nenhum vislumbre de Shoyo. Sakusa entrou, piscando surpreso diante do gato preto de olhos azuis que estava ali. Foi ele quem abriu a porta?

O gato rosnou para si.

— Ei, calma. Eu sou amigo do seu dono.

O gato permaneceu rosnando, os pelos arrepiados. Sakusa o ignorou, apesar da vontade de fazer carinho, e tirou seus sapatos. Não haviam pantufas disponíveis, então foi de meia mesmo. O chão estava frio. Limpou seu óculos antes de prosseguir.

Na verdade, a casa inteira estava gelada. As luzes estavam acesas, as cortinas fechadas, mas nenhum sinal de Shoyo. A sala estava exatamente igual a última vez que esteve ali, talvez apenas com as almofadas trocadas. Não havia cheiro de comida vindo da cozinha. Nenhum sinal de vida além do gato preto.

Se Sakusa não tivesse visto os sapatos dele na entrada, teria acreditado que ele não estava em casa.

O gato preto o seguiu conforme vasculhava a casa. O quarto de Shoyo estava vazio, a cama perfeitamente arrumada. Os outros quartos eram bibliotecas. O queixo de Sakusa caiu quando ele entrou em um deles e viu os quadros pendurados nas paredes.

Ele reconheceu os traços nas telas, afinal havia ido em todas as exposições dele. Ou dela. Ninguém sabia nada sobre o artista chamado Natsu, incluindo seu nome verdadeiro ou gênero. As pessoas estipulavam sobre ela.

Mas um consenso entre os fãs era que Natsu tinha sinestesia.

Ele fazia desenhos extremamente realistas as vezes, mas as cores se borravam e faziam parecer que saltariam para fora do papel. Os quadros dela com paisagens eram os favoritos de Sakusa.

Porém aqueles quadros que estavam ali... Eram novos. Nunca foram a público. Por que estavam ali?

Sakusa olhou ao redor, admirado e curioso. Então seus olhos pousaram sobre um quadro que estava apoiado na parede, como se esquecido de ser pendurado. Um martelo e um saco de pregos ao lado.

Era um quadro seu. E era idêntico a foto polaroide que Shoyo esqueceu em sua casa.

No entanto o diferencial eram os diversos tons de roxo presentes na pintura. Eles apareciam aqui e ali, se borravam com as cores da pintura em si.

Não era possível era? Shoyo... Shoyo era Natsu?

Até isso ele escondeu sobre si mesmo? Porra, eles não eram amigos?

Sakusa afastou o olhar do quadro e saiu do quarto. Na próxima porta enfim encontrou Shoyo. Era um cômodo grande com muitas luzes e equipamentos de fotografia. Em uma das extremidades havia uma mesa com um notebook fechado, uma mesa digitalizadora com tela e um tablet apoiado.

E um Shoyo adormecido. Usando um vestido vermelho.

Sakusa engoliu em seco, se aproximando devagar enquanto absorvia toda a cena. Shoyo não estava sozinho. Havia um gato branco, Sakusa julgava ser um gato, que estava deitado ao lado de sua cabeça. O bichano tinha tantos pelos que parecia uma bolinha.

A cabeça de Shoyo repousava sobre seu próprio braço esticado, e sua mão enluvada segurava uma caneta touch frouxamente. O cabelo ruivo estava solto e bagunçado. Uma manta havia escorregado para o chão. E o vestido vermelho... Ele deixava suas costas nuas e se entrelaçava na nuca, tinha uma saia longa que parecia ser rodada. Como um vestido dos anos 80.

Um Ballet de Gatos e Tupperwares (OmiHina)Onde histórias criam vida. Descubra agora