Broken - Por trás das aparências

8 | Mirrorball

Homecoming.

A palavra havia ficado girando na cabeça de Olivia durante a semana inteira, em especial na sexta-feira, o ápice da semana de boas-vindas. A maioria dos alunos estava animado para o jogo de futebol no final da tarde e o baile que o seguia a noite, mas a loira não compartilhava desse sentimento. Ela se sentia vazia.

As amigas não haviam insistido para que ela fosse a assembleia e saíram silenciosamente após Olivia demonstrar que também não iria ao jogo. Ela insistiu em ficar sozinha, apesar das repetidas ofertas de companhia de Aveline e Serena, uma vez que precisava de algum espaço para organizar seus pensamentos sombrios, intensificados por aquele dia em especial. Ela simplesmente não tinha sido capaz de ir ao jogo, quebrando a promessa feita ao irmão de que estaria lá toda sexta à noite, o que a deixava ainda pior, porém a ideia de ver alguém que não fosse seu gêmeo ocupando o lugar de quarterback ainda era dolorosa demais para processar. Ela mal havia sido capaz de encarar todas as camisas azuis durante o dia sem sentir vontade de chorar.

Entretanto, ali estava, sentada sozinha em frente ao espelho, arrumando-se para o baile de boas-vindas. Apesar das emoções conflitantes, algo estava empurrando-a para comparecer ao evento; talvez fosse o fato de que Nathan ia querer que ela aproveitasse cada pequena coisa do último ano, ou a consciência de que ela não podia se esconder no quarto para sempre. Evitar as pessoas não as fariam pararem de falar, muito menos acabaria com os rumores sobre a morte de Nathan, que ainda se espalhavam como fogo em material inflamável.

Ela não havia feito nada de errado, mas havia fugido como uma criminosa nos últimos dias, tentando desviar ao máximo dos olhares julgadores, sussurros sobre o ocorrido no verão, cada notícia que havia saído no jornal sendo discutida com afinco nos corredores, principalmente depois que alguns investigadores apareceram na escola para conversar com alunos e professores sobre Nathan durante a semana, enquanto presença de um detetive do departamento de polícia pairava sobre os corredores, buscando alunos para entrevistar. Descobrir a causa do acidente e consequentemente morte de seu irmão gêmeo, bem como o culpado havia se tornado quase que como um bolão de loteria que, juntamente com a meia dúzia de curiosos que ainda tentavam descobrir por que ela havia ido para a Itália no último ano realmente a faziam questionar sua escolha de voltar.

Seus dedos se moveram automaticamente para locais específicos em seu lado direto: as cicatrizes. Havia três causadas por cacos de vidro e metal do carro; duas maiores acima do quadril e uma perto da clavícula, além da causada pela abertura cirúrgica do tubo que havia sido colocado em seu peito para drenar o excesso de sangue. As quatro eram as únicas provas de que ela havia se envolvido em um acidente, juntamente com seu coração despedaçado, mas esse era invisível aos olhos.

Os brilhos do vestido de festa verde escuro e joias não alcançam seus olhos, que estavam sem vida, inexpressivos e nem mesmo a mais perfeita das maquiagens poderia disfarçar algo assim. Para ela, seus sentimentos sobre aquela noite eram cristalinos em seu rosto, mas assim que ela pisasse fora do quarto, uma máscara fria e indiferente seria a única coisa que qualquer um veria. Ninguém enxergaria que, por dentro, ela estava despedaçada.

— Deixe-me terminar isso para você. — Aveline se prontificou ao ver que as mãos da amiga tremiam, pegando os grampos que ela segurava e fixando delicadamente em seu penteado — Tem certeza de que quer fazer isso, Liv? Nós podemos ir para qualquer outro lugar, fazer qualquer coisa, o que seu coração desejar.

— Eu vou ficar bem, Avs. — Olivia respondeu, segurando a mão da ruiva.

— Pode mudar de ideia quando quiser. — Aveline disse — Você está pronta, S?

— Alguém está pronto para isso? — Serena se aproximou das duas, parando ao outro lado de Olivia — Vamos nessa.

O trio deixou o dormitório e fez o caminho até o salão de festas ao sul do campus. Os saltos batiam contra as pedras do chão, uma vez que nenhuma delas faria um atalho através do gramado, afundando seus Louboutins na terra, e o cheiro de Channel nº5 era quase inebriante. Lado a lado, elas pisaram no salão, atraindo atenção imediatamente; era como observar a aparição de três deusas gregas. Pareciam lindas como sempre, porém era impossível ignorar a aura sombria que pairava sobre elas.