Cicatrizes que não podemos ver

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Sn

— Oi. —  diz Phil ao abrir a porta do quarto que eu estava após eu dar permissão para que entrasse. — Jake saiu para dar um jeito naquele cara.

— Ok... Obrigada.

— Precisa de algo?

— Não.

— Não me convenceu. — ele fecha a porta e se joga ao meu lado na cama. — Vamos fofa, não fique assim.

— Por que ele é tão teimoso?

— As circunstâncias o tornaram assim.

— Que circunstâncias?

— Bem... Eu acho que eu não devia te contar isso, mas eu acho que talvez se você soubesse o que Jake passou você poderia entendê-lo.

Me viro de frente para ele e ele também se vira para mim, ficando deitado de lado com a cabeça apoiada na mão.

— Hum, acho que você já deve imaginar que eu e Jake já passamos maus bocados na mão não só do governo mas de alguns outros inimigos também, certo?

— Como hoje?

— Muito pior. Algumas vezes fomos atraídos para emboscadas, nessas vezes era quase um milagre sairmos vivos. Jake já passou por essas situações sozinho muitas vezes, e isso quando eu não o encontrava por aí ao acaso, esgotado de tanto fugir e faminto por não comer a dias. Fora as milhares de feridas e cicatrizes que ele tem, a maioria eu nem sei de onde vem.

— Devem ter passado por muita coisa... — comento observando o olhar frio dele.

— Venha. — notei sua mudança de humor imediatamente, me fazendo perceber como ele esconde o que sente de uma forma automática. — Vamos comer algo.

Ele se levanta e pega em minha mão para acompanhá-lo, fomos até a sala e ele me disse para me sentar no sofá e comer a comida que ele fez para mim.

— Obrigada, mas você não vai comer?

— Não estou com fome.

— Me desculpe... Se eu te fiz entrar em um assunto delicado e... Te fazer se lembrar de coisas ruins.

Ele não respondeu, apenas olhava fixo para o chão com o copo de cerveja em mãos, ele não parecia estar ali apesar do seu corpo estar ao meu lado.

— Teve uma vez que Jake confrontou uns policiais... — ele começa.

— Ele já me contou essa história.

— Duvido que tenha contado ela toda.

— Como assim?

— Ele também não contou tudo o que aconteceu naquela noite para mim, mas eu estava com ele. Ainda não tínhamos qualquer envolvimento com polícia ou governo. Éramos apenas duas crianças que iam se encontrar para se divertir na festa de halloween. Eu já tinha minha máscara e ele também, a que ele carrega até hoje.

Ele faz uma breve pausa para dar um gole em sua bebida, quando o copo repousou de volta na mesa, seu olhar mudou, ele ficou mais distante.

— Mas Jake não apareceu no lugar combinado, apenas me deixou um único recado na caixa postal e eu fui encontrá-lo. Ele parecia bem, de longe. Quanto mais eu me aproximava, mais preocupado ficava. Jake mancava, tinha sangue nas roupas e mesmo estando de máscara, eu sabia que estava chorando, mesmo se esforçando para parecer que não. E mal respirava.

Um frio me correu ao imaginar o que possa ter acontecido, ao ponto de até o Phil levar o assunto tão sério assim, e ainda mais com essa expressão.

— Eu levei ele para casa. — o barman continua. — Ele se trancou no banheiro por horas. Não me respondia e nem parecia que estava lá dentro de tanto silêncio que fazia. Até pensei em arrombar a porta, mas ele saiu finalmente, os olhos frios como gelo, o corpo endurecido e uma áurea assustadora.

A Garota & O ProcuradoOnde histórias criam vida. Descubra agora