capítulo dezesseis // welcome back

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Acordei com um silêncio absoluto. Rafe havia saído mais cedo do que o esperado. Fiquei triste por não poder me despedir, mas me confortei por ter passado a noite com ele.

Depois de sair de casa, passo na cafeteria de sempre e sigo para o trabalho. Chamo Sarah para almoçar comigo e passo o resto do dia no escritório, não tinha motivos para ir para casa.

Não vou mentir que passei o dia inteiro esperando por uma mensagem de Rafe, queria saber como ele estava e se chegou bem, mas não queria o atrapalhar.

Assim que fecho a porta de casa, recebo uma ligação de vídeo de minha mãe. Estranhei, já que ela nunca liga, principalmente quando está fora.

- Oi, Grace - ela fala do outro lado da tela
- Oi, mãe! Como está? - pergunto
- Estou bem... É, eu preciso falar com você. - ela parecia preocupada e eu comecei a ficar nervosa
- Mãe, está tudo bem? Pode falar
- Rafe me ligou ontem, ele parecia um pouco apressado, mas disse que precisava conversar.
- Como assim? Não estou entendendo, mãe...

Conheço aquele olhar, um olhar de pena e uma certa tristeza, misturada com muita preocupação. Eu não gosto disso.

- Ele pediu para que eu te levasse a um psiquiatra novamente... Ele contou sobre o episódio dessa semana, sobre a briga que tiveram e você sabe que eu não quero que volte à estaca zero, filha. Sei que foi doloroso, mas as coisas são como são. - Ela suspirou, enquanto olhava fixamente para a tela - Eu só quero saber se está bem o suficiente para ficar sozinha por mais alguns dias... Eu posso voltar, posso conversar com seu pai e dar um jeito, mas por favor, me prometa que não vai fazer nada de errado.

Não falo absolutamente nada por longos minutos. Apenas permaneço ali, encarando o aparelho em minha frente e tentando raciocinar tudo. Eu sei que ela é minha mãe, mas eu não queria que Rafe saísse falando sobre isso, sobre nossas brigas. Principalmente, não queria que saísse por aí falando sobre esse assunto.

- Eu não acredito que ele fez isso. - é tudo o que digo
- Ele está tentando ajudar, Grace. - ela responde, o defendendo - Eu já vi esse filme antes e sei como termina. Eu não quero que isso se repita novamente, Grace.
- Está tudo bem, mãe... Eu prometo - falei, tentando soar tranquila
- Falou isso da última vez - ela reclama
- Eu só... eu prefiro lidar com isso sozinha. Sei que querem ajudar, mas eu não posso fazer isso. Eu tenho o direito de passar por isso sem que ninguém se envolva. Já sou adulta, sei o que fazer. - disse firme, mas sentia algumas lágrimas se formarem.
- Tudo bem, Grace.

Seu tom era triste, sabia que ela gostaria de ouvir outra resposta, mas eu não podia deixar todo mundo controlar minha vida e meus sentimentos. Era como se todos quisessem que eu apagasse completamente da minha memória, como se fosse algo simples, algo fácil de se esquecer.

- Você sabe que sempre estarei aqui para conversar. Sou sua mãe, quero o melhor para você.

Assenti com um aceno, sentia que iria desmoronar no choro a qualquer momento. Suspiro, com a consciência pesada, porque não estava sendo completamente sincera com minha própria mãe. Eu queria conseguir desabafar, colocar tudo isso para fora, mas simplesmente não conseguia.

- Grace? - minha mãe me chamou pela última vez do outro lado da tela - Você não precisa ser forte o tempo todo.

Suas palavras me acertaram em cheio, não consigo controlar todo o choro reprimido dentro de mim e solto como se fosse uma criança. Eu tento fingir para mim mesma que está tudo bem, mas eu sei que não é verdade. Tudo se desmorona com tanta facilidade, como se eu nunca fosse capaz de ser verdadeiramente feliz. Eu perdi meu filho e sinto que estou perdendo o amor da minha vida um pouco mais a cada dia que passa. Quando consigo concertar de um lado, o outro se desfaz completamente, então lá vou eu... Tentar levantar tudo novamente e falhando.

Now or NeverOnde histórias criam vida. Descubra agora