Cadeia

3 0 0
                                    


Neste território acidentado

Não escolho o percurso

Não designo o fado

Não tenho mapa nem bússola

Não há estrela polar que me guie

Não há farol na falésia

Não há satélite no espaço

Apenas oiço o vento a desbravar

O silêncio nocturno

Apenas vejo o ondular azul

Do mar soturno

Não há avanço nem recuo

Não há origem nem epílogo

Apenas o corredor difuso

Onde reina o absurdo.

Não sei se preciso de mais paz

Ou se é o silencioso sossego que me enerva.

Não sei se me arroje ao caminho - que mal distingo

Ou se me deite a dormir na lápide do costume.

Não sei o que faça a este lume,

Não sei o que faça a este frio.

Não sei se escreva o testamento

Ou se prepare a travessia num novo rio.

Só nas sombras esconsas do meu desvelo

Sobrevive o parco ânimo que ainda carrego

- enrolado num secreto novelo.

O que quero subsiste para lá

Do que a loucura patenteia

Mas o que alcanço é só o pó que sobra, inerte,

Nas grades desta cadeia.


(17 de Junho de 2021)

Entre Dois SéculosOnde histórias criam vida. Descubra agora