O resto da semana não parecia que iria melhorar. Diogo percebeu que algo estava errado e por algumas vezes tentou conversar com Beca em casa. Sem sucesso. Como um pai respeitador, apenas deixou que a filha passasse por esse momento da forma que ela preferisse e se colocou à disposição para quando ela quisesse conversar. Beca apenas se trancava no quarto o dia todo e só saía para comer. Não falava nada.
Nina estava vivendo em um modo automático. Seu relacionamento com Alex continuava como antes e a namorada estava cada vez mais apaixonada por uma Nina romântica e cheia de planos, mas achou estranho quando perguntou sobre Beca e Nina não sabia dizer como ela estava. Alex não entendeu a súbita mudança na amizade delas, mas também não insistiu para saber detalhes. Mal sabia ela que era melhor assim.
Joguí estava vivenciando a fase revoltada de uma pessoa que tinha tido seu coração quebrado pela primeira vez. Muitos na escola perceberam que eles não estavam mais juntos e as fofocas rapidamente começaram a correr. Os meninos disseram que Joguí terminou porque Beca não queria transar com ele. As meninas disseram que Joguí tinha traído Beca e algumas pessoas disseram que o relacionamento não deu certo porque Diogo achava Joguí um péssimo aluno. Ninguém nunca soube a verdade.
- Se ninguém perguntar, eu pergunto... o que tá rolando?
Juca, Juliana e Carla estavam sentadas com Nina na arquibancada durante o recreio de quarta. Era impossível não perceber o clima estranho entre Nina e Beca e como companheiras de time, estavam preocupadas como aquilo tudo iria afetar os treinos e o time.
Nina não respondeu Juca na hora, mas precisou se controlar para não começar a chorar.
- Eu e a Beca nos desentendemos... mas acho que vai passar... - Nina respondeu realmente acreditando que poderia passar
- Porque vocês não conversam? - Carla falou com a voz mais conciliadora que conseguiu
- Não é bem um lance de conversa... é um lance confuso mesmo
- Vocês são melhores amigas, não tem que rolar confusão, Nina - Juliana sempre era direta quando precisava
- Eu sei... - Nina se limitou a concordar, sabia que elas nunca entenderiam o que estava acontecendo
Beca não ousava aparecer no pátio do colégio. Estava passando todos os horários livres na biblioteca. Às vezes estudava alguma coisa, às vezes adiantava seus trabalhos e às vezes só ficava vagando pelo mundo da internet tentando entender em que momento a vida dela tinha se tornado esse inferno mental que ela estava passando. Era difícil não ter Nina por perto e, ao mesmo tempo, era difícil imaginar como ela teria Nina por perto sem realmente tê-la para si.
Durante as noites, tudo piorava. Nina vinha mandando mensagens vagas para Beca esperando alguma resposta, algum sinal de vida ou alguma indicação de que as coisas iam melhorar, mas apenas recebia um silêncio ensurdecedor. As não-respostas deixavam Nina ansiosa demais. Por momentos, ela pensava se tinha acertado em ignorar o que tinha acontecido. Não podia negar que Beca movimentava seus sonhos e pensamentos. Não conseguia parar de pensar no corpo de Beca pesando sobre o seu, nos beijos quentes, nas mãos abusadas, no seio enrijecido e nas pernas bambas que tinham marcado a noite de sábado do último fim de semana.
Sempre que Beca ouvia o celular vibrar ou o computador apitar, seu coração disparava sem rumo para um mundo paralelo. As palavras de Nina eram sempre formais demais está tudo bem?; podemos conversar?; como você está? Era difícil imaginar que essa era a sua melhor amiga, que até dias atrás trocava confidências. Tudo tinha mudado depois daquele sábado, mas como ignorar aquele sábado? Beca nunca tinha sentido nada tão forte na vida. Aquela boca quente pressionando contra seu pescoço, os cabelos compridos de Nina enrolados em sua mão enquanto afagava sua nuca, a língua malandra que dançava em sua boca, as pernas encaixadas que faziam tremer todo seu corpo. Como fingir que nada aconteceu justo quando Beca descobriu um sentimento novo?
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Filme Americano (Romance Lésbico)
RomancePoderia ser só mais um ano na escola Santo Amaro e na vida de Beca, mas o destino, ou a vida, tinham planos mais audaciosos para a menina que amava futebol. Um amor inesperado, uma nova família e a certeza da maior paixão de sua vida.