Eu sei que demorei séculos para voltar. Mas eram muitas coisas para finalizar antes de voltar a me dedicar a essa historia. Não prometo voltar rápido, mas prometo ser mais rápido do que foi até agora. Aproveita e passa lá no site (grupohpm.lgbt) para conhecer os nossos livros <3
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A semana passou suave. Suavíssima. Beca não jogou futebol com medo da canela piorar. Ela precisava se recuperar sem problemas. Apenas corria todos os dias para não perder o ritmo. Aquele chamado para o time feminino de futebol do colégio Santo Amaro era a chance de tornar aquele lugar um pouco mais agradável. As poucas colegas que ela tinha, insistiam que seria o fim da vida social na escola, mas, sinceramente, ela não podia se importar menos com isso. Inclusive, estava cada vez mais animada para aquele momento.
Seu Diogo deixou bem claro na conversa que tiveram durante o café de quinta:
- Se suas notas caírem um décimo, que seja, o futebol na escola está acabado. Combinado?
Ele não podia sonhar que Beca estava pouco se importando com as notas, contando que o futebol permaneça em sua vida.
Finalmente a sexta havia chegado. Beca saiu de casa pronta para mudar de vida. Já carregava chuteira, short de treino e tudo mais que precisasse. A aula acabava por volta de 13h, ela iria almoçar na cantina do colégio mesmo e depois iria para a biblioteca adiantar seus trabalhos e estudos, e esperaria a hora certa chegar.
Tudo ocorreu como o esperado, caprichou na playlist, para não precisar interagir com outros seres humanos e mesmo que não tivesse, ninguém se aproximou, sua cara não estava das mais convidativas.
Durante todo o intervalo, Beca apenas sentou na arquibancada e ficou assistindo os meninos jogarem. Sonhou que quando o time feminino estivesse entrosado, poderiam propor um desafio ao time dos meninos, isso com certeza, chamaria atenção de todos na escola. E era exatamente isso que Beca adorava: chamar atenção para o seu futebol. A última aula do dia, era justamente com seu Diogo, e para o azar de Beca, ela precisava prestar atenção em fórmulas e contas intermináveis que preenchiam o quadro de forma assustadora. Era uma tortura.
Quando o sinal tocou, a sensação de liberdade e redenção era enorme. Os fones voltaram aos ouvidos da menina, os cadernos, rapidamente foram para a mochila e ela seguiu para a cantina. Ela não podia comer muito tarde e nem comida pesada para não correr o risco de enjoar quando começasse a correr no sol. Logo depois de comer seu sanduíche natural e seu suco, Beca foi para a biblioteca adiantar alguns trabalhos. Logo na porta, viu uma menina que ela nunca tinha visto antes. Parecia ser do ano seguinte do de Beca. Não importa, ela passou direto e seguiu para sua mesa de sempre. Mas, ao passar mais perto da menina, não conseguiu deixar de reparar no meião que ela vestia por baixo da calça jeans. Por um momento pensou se a menina também iria se inscrever para o time. Será que elas teriam meninas suficientes para o time? O pânico acabara de se instalar no peito da menina e nada mais fazia sentido até a hora dessa resolução.
Beca não conseguiu escrever uma palavra que fosse. Apenas aguardou os ponteiros do relógio marcarem 15h20 e eles nunca demoraram tanto para darem voltas naquele relógio. A tortura era agonizante e Beca estava demasiadamente preocupada com a opção do time fracassar antes mesmo dele acontecer.
Os dez minutos restantes para o horário marcado foram usados para Beca chegar no campo, que ficava atrás do prédio da escola. Ela vestiu a chuteira, o top e o short. Deixou a mochila jogada no banco de reservas e foi caminhando até o meio do campo. Aquele ritual era sagrado para ela, pisar no campo não era nada fácil. Era como um artista subir no palco do teatro e encarar as luzes que o iluminavam.
O técnico vinha do vestiário com alguns coletes e garrafas de água nas mãos. Beca rapidamente contou as garrafas nas mãos do técnico. Duas. Apenas duas. O que isso significava afinal? A vontade de chorar veio forte, mas Beca não podia simplesmente chorar ali. Respirou fundo e tentou afastar o pensamento de que o seu grande sonho podia nem começar a se realizar.
- Você é a Beca, não é? - uma voz veio detrás dela a ponto dela saltar de susto
- Jesus, você me assustou - riu sem graça para a menina que tinha visto na biblioteca - sou eu sim e você?
- Pode me chamar de Nina e desculpe pelo susto
- Tudo bem. Veio para o teste?
- Acho que somos as únicas, né?
- Exato. Vocês são as únicas! - a voz grossa do técnico surgiu atrás de Beca e de novo ela saltou de susto - desculpe Beca
- Tudo bem, Negão. - esse era o apelido do técnico
- Beca e Nina, já se conhecem?
- Acabamos de nos apresentar, Negão - Nina respondeu antes que a outra pudesse pensar em algo
- Ótimo. Você tem uma primeira missão
- Pensei em jogarmos contra o time dos meninos - Beca jogou sua ideia como quem não quer nada
- No caso, seriam 6 contra 2? Tá louca, Beca? - Negão foi direto
- Calma, chefe. Ela tá empolgada - Nina a defendeu e riu de canto de boca para a menina. Só então, Beca reparou nos lábios finos e rosados da menina.
- Seguinte: preciso de novas meninas. Precisamos de pelo menos mais quatro.
- E nós que temos que procurar? - Beca rapidamente pensou na sua falta de habilidade social
- A minha parte eu já fiz, que é formar o time, agora é com vocês
- E como vamos fazer isso? - Nina também estava confusa com a situação
- Sejam criativas. E enquanto pensam, duas voltas no campo em ritmo leve. Agora - e com um apito irritante, Negão colocou as duas para correrEnquanto corria, Beca começou a pensar em como traria mais pessoas para o time. Pensou que ninguém olhava o quadro de avisos, isso poderia ser um fato a ser considerado. Mas será que tinha mais alguma menina naquela escola que queria jogar futebol? Perdida em pensamentos, Beca acabou por diminuir a velocidade da corrida e foi ultrapassada por Nina. Ela tinha pernas grossas, diferentes das da menina. Ela corria com os braços esticados para baixo e a cabeça para cima. Era estranho e engraçado ao mesmo tempo. Acabou por chamar atenção de Beca. Ela era bonita. Seus ombros largos faziam Beca imaginar que ela daria uma boa goleira.
- Já pensou em alguma coisa? - novamente Beca se assustou com a voz de Nina.
- Nada. Você?
- Tive uma ideia, mas conto para você depois do treino, senão o Negão vai apitar de novo e deixar a gente surda!Ainda por cima ela era engraçada. Beca sorriu sozinha ao deixar a menina passar por ela novamente.
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Até a próxima! Fiquem em paz e com amor. <3
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Filme Americano (Romance Lésbico)
Roman d'amourPoderia ser só mais um ano na escola Santo Amaro e na vida de Beca, mas o destino, ou a vida, tinham planos mais audaciosos para a menina que amava futebol. Um amor inesperado, uma nova família e a certeza da maior paixão de sua vida.