Capítulo 23 - Ressaca

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Os três primeiros tempos de aula só serviram para que Nina e Beca ficassem ainda mais confusas, chateadas e com medo de tudo que estava por vir. Beca não sabia nada de relacionamentos, mas tinha certeza em seu coração que era errado trair. E não importava se era com mulher, homem ou até mesmo em pensamento. Joguí não poderia continuar sendo enganado daquela forma. As vezes, ela mesma ria de seus pensamentos quase ingênuos sobre o mundo.

Nina sabia que aquele beijo em Beca mudaria tudo. Ela sempre se manteve longe de relacionamentos com amigas por isso. Era muita coisa envolvida e quando algo dava errado, você perdia a namorada e a amiga. E ela não se conformava em perder Beca. Depois de tantos anos, ela encontrou uma pessoa que estava disposta a ser sua melhor amiga simplesmente por quem ela era. E tudo foi por água abaixo no momento em que cederam ao desejo. Nina se culpava por ter estragado tudo.

Eu tô indo embora. Mas ainda acho que precisamos conversar.

Nina pediu a sua mãe para liberá-la da aula mais cedo. Inventou que estava passando mal, mas a verdade é que não queria encarar a realidade. Mandou a mensagem para Beca na esperança de que ela respondesse alguma coisa que lhe desse esperanças de que a amizade poderia ressurgir. Beca pediu licença da aula que estava e conseguiu encontrar com Nina no corredor, já com a mochila nas costas.

- Espera... - Beca falou um pouco baixo para não despertar atenção de ninguém

- Ah, você veio... - Já era incontrolável para Nina não sentir um frio na barriga toda vez que ouvia a voz de Beca e a via andando em sua direção

- Porque está saindo agora?

- Não estou com cabeça para aula e não sei se vou sobreviver ao recreio...

- Eu entendo você, mas meu pai não deixaria eu sair, então...

- Você está certa disso?

- Do que você está falando?

- Joguí, lógico...

- Eu posso ser ingênua e não saber nada do mundo, mas eu sei que é errado enganar as pessoas, então não vou enganar ele...

- Eu entendo...

- Olha, eu não sei o que você vai fazer e nem o que você quer da vida, mas eu não vou contar nada sobre o que rolou pro Joguí. Ele não aguentaria isso, então não merece...

- Obrigada...eu acho - Nina já estava com vontade de chorar e abaixou a cabeça para não deixar que as lágrimas corressem

Sem se despedir, Beca virou as costas e voltou para sua sala. A vontade dela era enlaçar seus braços no pescoço de Nina e mais uma vez sentir aquele gosto especial que os lábios dela tinham. Ou queria ao menos, abraçar a amiga e respirar fundo aquele perfume só dela. Queria colocá-la em um potinho e carregar para sempre.

Nina apenas assistiu a amiga voltar para a sala enquanto deixava que as lágrimas descessem livremente pelo seu rosto. Queria que a sua relação com Alex fosse mais simples e que não tivesse um amor que a deixava tão dividida. Queria que o beijo em Beca não fosse tão especial como foi e queria que ela não fosse tão apaixonante como era.

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- O que houve? - Joguí surpreendeu Beca nas arquibancadas

Beca estava de costas para o pátio da escola em um canto bem reservado das arquibancadas. Ninguém por perto e apenas um sussurro que vinha das quadras lotadas de alunos. Joguí sabia que ela devia estar por lá e desceu correndo atrás de sua namorada.

- Precisamos conversar, Joguí...

- Imagino que seja sério. O que eu fiz?

Joguí era o menino mais cobiçado da escola e ainda assim estava ali, colocando seus medos e inseguranças para fora por uma menina que gostava dele, mas que não era apaixonada e ainda por cima o tinha traído. Só de pensar nessa conclusão, Beca deixou que algumas lágrimas rolassem.

- Não foi você, é só que...

- Você quer terminar comigo, não é?

- Quero...

- Mas porque?

- Porque você devia estar com alguém que é apaixonada por você...

- Não estou entendendo...

- Joguí, você é meu melhor amigo há anos, mas o que você quer de mim, eu não posso dar! Eu não sou apaixonada por você.

Nesta altura da conversa, Joguí já estava de pé em frente a Beca e lutava com todas as forças para que não desmontasse em um choro sentido. As lágrimas que escorriam sem permissão, ele apenas enxugava com a mão meio suja e respirava fundo para controlar as que vinham depois.

- Você tem outro, é isso? - Joguí já assumia outro tom de voz

- Não é nada disso, o lance é entre eu e você, ou melhor, entre eu e eu

- Da onde isso veio?

A última pergunta veio em um tom de voz ainda mais baixo, já engasgado e afogado em lágrimas com um ombro baixo e um olhar de quem estava sentindo pela primeira vez o que era ter um coração quebrado.

- Veio de dentro de mim...não procure explicações...desculpa.

- Sabe o que eu acho? No final das contas, você fez a mesma coisa que todas essas outras meninas por aí...ficou comigo para jogar na cara de todo mundo e para te ajuda e montar seu timinho de meninas, aí agora não precisa mais de mim, né? Eu te odeio, Beca!

O ataque de raiva de Joguí pegou Beca de surpresa, mas, ao mesmo tempo, ela já esperava que isso pudesse acontecer. Antes de pensar em discutir, ele já estava a muitos passos de distância e ela ficou apenas assistindo ele correr em direção ao banheiro que ficava do outro lado do pátio. Era óbvio que todos saberiam que algo tinha acontecido entre eles.

Sem cabeça para pensar em mais nada, Beca passou na sala, pegou sua mochila, usou dos privilégios de ser amiga da senhora responsável pela biblioteca, disse que estava precisando estudar e foi para um dos computadores que ficavam no canto da enorme sala com livros e mesas. Estava tudo vazio e ela precisava de um pouco de solidão.

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