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Cheguei à recepção do quarto andar da incorporadora, Fernanda levantou subserviente, acomodando as mãos na frente do corpo, cruzando-as. Um gesto que a secretária costumava fazer diante da minha presença. Gostava quando se comportava de forma submissa, sendo obrigada a me ver ali, a suportar. A outra secretária ao seu lado, recente no cargo e bem bonita por sinal, observava quieta, prestando bem atenção.

-E Fernando ? - Perguntei.

- Está com a senhora Luisa.Acabaram de entrar, dona Maiara. - Fernanda respondeu muito educada, polida.

Por trás do seu olhar era fácil notar o quanto estava sendo falsa e picareta. Assenti, sentindo náusea no estômago.  Era a infalível sensação de sempre, que me afetava todas as vezes que estava no meio de tanto veneno, inalando o ar que serpenteava pela atmosfera daquele covil. Segui direto para o corredor pequeno, que dava acesso à sala de Fernando

Fernando era um homem temido, que todos se viam obrigados a respeitar. Não que merecesse algum respeito. Como chefe era um carrasca, e como marido um maldito. Ao me aproximar, ouvi vozes. De ele e de Luisa. Diálogos pausados, cheios de suspense. Aproveitei que a porta estava semiaberta e encostei o rosto na parede; mantendo os ouvidos bem atentos.

-Ela chega hoje. - Escutei meu marido falar e dar uma tapinha no ombro de Luisa, Sua amiga e sócia. Olhei por entre a greta, sua mão grande ainda estava cravada no ombro de Luisa. Voltei à posição ereta, na parede, me mantendo em alerta.

-Acha que Maiara vai mesmo aceitar uma guarda-costas o tempo todo no encalço dela? - Ouvi Luisa perguntar, interessada. E pelo tom de sua voz, também parecia intrigada, meio cética, assombrada.

Fernando já havia me sondado algumas vezes sobre o assunto. E quando questionada, não deixei dúvidas de que não queria uma guarda-costas no meu pé. Voltei a dar mais atenção à conversa, olhando pela brecha. Ouvi Fernando responder de maneira hostil para Luisa, que replicou com um olhar alarmado e um fraco aceno de cabeça.

Afastei o rosto, para depois voltar a espionar as duas, pensei que Luisa fosse dizer algo mais, ir contra o que ouviu, mas, assim como eu, e todos os subordinados, ela sabia que Fernando nunca dava importância e nem relevância às opiniões contrárias das suas, por isso não ousou questionar com mais insistência seu amigo e chefe; eu a conhecia Luisa perfeitamente bem, era do tipo muito covarde. Nunca se atreveria a tanto.

- Isso tudo é uma merda. - Falei baixo, contendo a vontade de apertar os dentes e escancarar a porta, gritar, dizer que não aceitaria essa palhaçada.

Mas, infelizmente, eu tinha muito a perder cedendo a rompantes.Era frustrante descobrir que iria ganhar um cão de guarda da própria pessoa com quem eu dividia a cama, e que minha vida se tornaria ainda mais miserável. Recostada na parede, dei-me um tempo e me vi obrigada a respirar fundo, ou não conseguiria entrar e encarar as duas.

Ajeitei os óculos em cima da franja ruiva e abri a porta como se houvesse acabado de chegar. Nem um segundo a mais e nem um a menos depois da conversa que ouvi.

- Querida. - Luana não escondeu o aparente prazer de estar diante da minha presença.

Julguei ser porque queria me dar a notícia em primeira mão, pois nunca me recebia com tão bom humor e doce receptividade

- Leu meus pensamentos e veio me ver? - Senti um rastro de ironia em sua voz, o que não era comum. Era sempre muito pragmática e direta, agia e falava sem rodeios.

Levantou da cadeira e me deu um beijo. Seco e frio, como sempre. Luisa abaixou a cabeça e se afastou para perto da parede espelhada, nos dando alguma privacidade.

Pude sentir o quanto estava tenso, como nunca a havia visto na vida. Olhei de ela para Fernando, e perguntei como se não soubesse de nada.

- Está acontecendo alguma coisa aqui?

Luisa desviou do meu olhar e abaixou o rosto enquanto as mãos de meu marido moldavam meu rosto por cima das pontas do cabelo longo.

- Sabe que eu quero o melhor para você. Não sabe, meu amor? - Ouvi, fingindo estar alheia a tudo. Continuou: - Desde que você sofreu aquela tentativa de sequestro, há dois meses atrás, venho pensando seriamente em te respaldar, te proteger mais seguramente.

Uma de suas mãos desceu para o meu ombro nu, a outra permaneceu no rosto, fazendo um carinho áspero, sem delicadeza. Tive raiva, uma vontade de afastá-lo, ficar bem longe. Minha boca ainda doía muito pelo acontecido da noite passada. Ter que ceder e estar assim, recebendo o toque de suas mãos ferinas, fazia-me sentir um lixo

- Você já me respaldou. - Falei com ironia – Colocou um motorista para me acompanhar em todos os lugares. E além de um carro blindado de última edição.

- Não é o suficiente. - Replicou seca, já impaciente.

- Não? - Encarei Luisa , rapidamente, quando Fernando deu as costas para voltar sua cadeira.

Pegou uma folha de papel de dentro da gaveta e, sem mais enrolações, disparou o que eu já sabia.

- Contratei uma guarda-costas para você. Chega hoje mesmo. - Esticou o braço, oferecendo a folha na mão. Peguei e a primeira coisa em que meu olhar se deteve, foi na fotografia no canto esquerdo superior. O rosto que me encarava era quadrado; o olhar impassível, sério demais. Uma beleza oriental bem distinta, que eu nunca tinha visto antes.

- Já tínhamos discutido sobre isso. - Falei, impondo alguma autoridade na voz.

- Com licença, vou avisar as outras executivas sobre a conferência. -Luisa interrompeu, encurtando o espaço até a porta, sem esperar qualquer autorização de Fernando e um olhar de assentimento meu. Fechou a porta, deixando-nos a sós.

- Essa é uma decisão irrevogável, Maiara. Terá uma guarda-costas e não se fala mais nisso. -Alterou a voz, mostrando suas verdadeiras garras, aproveitando que estávamos sozinhas, sem qualquer outra testemunha que pudesse constatar quem era de verdade.

Fechei a mão em punho com força, amassando parte do papel; tive vontade de embolar a folha nas mãos e lançar em sua direção.

- Vai para casa. – disse, em um tom irritante de ordem. - Quero você bem disposta hoje à noite, com aquela lingerie transparente.

Joguei o currículo sobre a mesa espelhada e saí sem dizer nada, arrasada, possessa de raiva. Ignorei a ardência nos olhos, não era hora de chorar. Tinha que pensar numa maneira de virar o jogo, marcar ponto pelo menos uma vez nessa relação fracassada. Porque eu não estava disposta a abrir mão do meu direito de ir e vir sem ter uma sombra o tempo todo atrás de mim. Eu já odiava essa guarda-costas antes mesmo de conhecê-la.

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Dsclp por possíveis erros

Dêem estrelinhas pfv. Até breve

guarda costa | Mailila adaptaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora