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- Acabou de sair, senhora. Estava aqui com a gente nesse instante. - Sandra respondeu, porque Maria estava com a boca entupida de alguma coisa. Suspirei, antes de assentir.

- Quando Fernando chegar, me avisem? Estarei na biblioteca. - Virei para deixar a cozinha, até cheguei a dar dois passos para sair dali, mas parei de repente, voltando a encarar a todos. - Já conhecem a nova funcionária? - As duas se entreolharam. Maria e Sandra. A segurança parou de mastigar e engoliu em seco. Literalmente.

- Sim, senhora. - Disse, arrumando a postura. - Falou que é sua guarda-costas.

Não reagi ao escutar o que já sabia. Mas, pelos olhares que estava recebendo de Sandra e Maria, ficou claro para elas, que eu não estava satisfeita com essa decisão. Deixei a cozinha e rumei para a biblioteca. No caminho de um dos corredores, encontrei Rosane conversando com duas funcionárias. Ela as despachou e se dirigiu a mim.

- Na mesma, menina? – Me conhece tão bem, Rosane. Até mais do que eu mesma. Ela não esboçou o sorriso entristecido das outras vezes.

Permaneceu com a mesma nuance. Rosane tinha um olhar misterioso que me deixava intrigada, por vezes, e bastante confusa. Era como se a governanta fosse um baú todo lacrado, que segredasse alguma coisa importante lá no fundo.

- Só te vejo nesse corredor quando não está bem. Quando está assim, perdida, corre para a biblioteca. Vem se refugiar nos livros.

Suspirar era o que eu mais andava fazendo nas últimas horas, então o fiz novamente.

– Depois passa lá no quarto, antes que Fernando chegue, e pegue o dinheiro no lugar de sempre. Guarda com você, como combinamos.

-Já peguei. Está aqui. - Espalmou a mão extremamente enrugada sobre o peito tufado.

- Obrigada, Rosane -Agradeci para então entrar na biblioteca.

- Se precisar, pode tirar algum para você.

- Sabe que jamais faria isso. - Sua voz suave e envelhecida não me fez duvidar. Rosane resvalou a mão do meu cotovelo até o meu pulso - Qualquer novidade venho correndo contar.  - E se foi, sem abandonar o olhar enigmático que já era sua marca carimbada.

Após, aproximadamente, 15 minutos dentro da biblioteca enorme, não consegui ler uma página sequer. Tentei vários gêneros, até um de terror para ver se me prendia, mas a concentração não veio. Abandonei tudo e me joguei entre os livros sobre uma bancada enorme que ficava no centro do espaço.

Fechei os olhos, com os braços abertos e joelhos dobrados, bem unidos. Curti o silêncio que trouxe um pouco de paz, relaxando a mente e minimizando a exaustäo mental.

- Não sabia que gostava de ler André Vianco. - Abri os olhos no mesmo instante, mas não os movi. - Uma dondoca que gosta de terror. Isso é muito interessante.

Levantei e desci os quatros degraus da bancada. Arrumei os cabelos e ajeitei a parte inferior da blusa. Cada gesto meu sendo observado pela inconveniente da guarda-costas.

- Que ousadia é essa? Como entrou aqui? - Ela não respondeu. Ao invés disso, folheou um livro qualquer, me deixando à beira da histeria. Depois, de quase uma eternidade, resolveu falar.

- Acho que ainda não nos apresentamos. - compenetrada em uma página qualquer. Disse, aparentemente, aproximei e arranquei o livro de suas mãos, uma forma primitiva de chamar sua atenção.

- E não tenho nenhum interesse em conhecer você. Ou criar qualquer vínculo de respeito ou simpatia pela sua pessoa. - Ela não piscou diante da minha postura desaforada.

Sua mandíbula se contraiu, angulosa, o olhar deixando bem claro que não tinha intenção de desviar para nada. Senti algo cedendo dentro de mim quando prestei mais atenção na cor clara dos seus olhos. Me afastei imediatamente, procurando por espaço.

- Não passou pela sua cabeça que posso ser uma pessoa legal,gente boa?

Nenhuma pessoa que se dispõe a vigiar a outra durante 24 horas, pode ser legal ou gente boa. Não cedi,erguendo o queixo, sendo bem atrevida. Voltamos a ficar frente a frente novamente. Nem distantes e nem muito perto, o suficiente para estudar tudo uma da outra.

–Acho que está reclamando com a pessoa errada, Maiara..

– Senhora, Maiara !

- Senhora, Maiara. - Se alto corrigiu, num tom claramente irônico. - Como eu disse...

- O que você disse não me interessa. - Voltei a inserir o tom agressivo, bem mais impaciente. - Reclamo com quem acho que devo reclamar.

A distância que se encurtou entre a gente, ocasionada por ela, me fez recuar meio passo.

- Alguém vai ter que ceder. - Seu olhar se concentrou no meu rosto, nos meus cabelos, em cada mini expressão inerente da indignação

- Acredite, não sou sua inimiga.

-É pior. É um cão de guarda. - Ela não retrucou. Tampouco desviou para nada. Manteve o olhar analítico, como se me lesse.

- De que tem medo? - Indagou, depois de um tempo. - Deveria agradecer o seu homem por querer protege-la.

O olhar da guarda-costas desceu para minha boca, depois um pouco mais, ficando menos que dois segundos no meu decote.

– Você não sabe de nada! Não se meta. – Me movi por detrás de suas costas, ela enfiou uma mão no bolso da calça, a outra permaneceu arriada ao lado do corpo. - Fernando tem seus motivos para colocar uma guarda-costas para me vigiar, e eu tenho os meus para não a ceitar.

– Certo. - Voltou a ficar de frente, procurando meu olhar.

- Temos um problema então.

- Isso está bem claro. - Ergui a sobrancelha. Ao longo dos segundos de mudez que se instalou, me permiti perder um pouco da dureza e então acrescentei.

- Não é nada pessoal, senhora... - Procurei mencionar seu nome, e só então me dei que não sabia

- Marília Mendonça. - disse, com prazer, estendendo a mão. Mas não apertei.

- Marília. - Repeti, como a finalizar a frase. - Não é nada pessoal, Marilia. - Volto a lembrar.

Cheguei mais perto, voltando a inserir o olhar inflexível, que não deixasse dúvidas de que eu não cederia.

- Vou fazer de tudo para que Fernando te despeça. Como já disse, e volto dizer pela terceira vez. Não é nada pessoal.

Busquei a direção da porta, deixando-a imóvel rés a bancada, com a mão enraizada no bolso.

- Então é uma guerra?.- Ouvi e parei um passo antes de alcançar a maçaneta.

- Pode se considerar que sim. - Olhei por cima do ombro, me sentindo satisfeita com o tom de voz que imprimi. Saí de uma vez da biblioteca.

Era guerra que queria? Pois era o que teria.

MARÍLIA POV

A forma como Maiara andava movimentando os quadris me deixou focada, atenciosa. Apertei bem forte a mandíbula, sustentando uma expressão impassível e profissional.

Ela circulava pela cozinha, como se procurasse algo específico. Desviei para a água no meu copo, estava intacta. Foi então que lembrei de tomar.

- Está procurando alguma coisa? - Indaguei, tentando quebrar o clima suspenso. Depois recordei de acrescentar o pronome de tratamento. - Senhora. Está procurando alguma coisa, senhora?

Era o como eu deveria ter perguntado. Maiara não virou o rosto em minha direção. Talvez tenha percebido a chispa de escárnio em minha voz.

Estava com um vestido colado, com as costas toda nua até o cóccix. Apesar de curto, não era vulgar.

- Não deveria estar circulando somente pela área externa, guarda-costas? - Finalmente virou-se, depois de ter me  deixado esperando por uma - Ou seus serviços também é me vigiar até em lugares mais privativos?

No contrato, apenas algumas alas da casa estavam liberadas para que eu circulasse livremente. Corredores das suítes e quartos não foram permitido o acesso.
Exceto em casos restritos.

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Dscp a demora esse mês tava corrido

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⏰ Última atualização: Jul 29, 2023 ⏰

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guarda costa | Mailila adaptaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora