Amai

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Mais uma sessão de tortura, deitada na cama confortável daquele mosteiro maldito.
Jogo o travesseiro por cima da cabeça enquanto o Douma tagarela sobre alguma coisa que ele comeu, alguma coisa que ele fez e que eu sinceramente não dou a mínima!

- Por que você me deixa viva? - Choramingo, desejando a morte mais do que um copo de água.

- Porque eu gosto de você... - ele diz com simplicidade, batendo as unhas enormes uma na outra - E você é feia.

Ouch!
Mas não é a primeira vez que ele me dá essa justificativa.

- Mais que saco - Reviro meus olhos me levantando da cama, pegando uma lamparina - você pode tirar essa cara suja do meu quarto se não vai me devorar?

- Não, o templo é meu.

Ele cruza os braços de um jeito adorável... Aí se não fosse um facínora!

- Eu quero dormir! - Bato o pé no chão de madeira limpo de maneira impecável

- Problema é seu, vai me ouvir - ele diz me levantando pelos ombros enquanto me põe sentada como uma boneca na minha cama.

Quando eu comecei a ouvir o Douma em nossa sessão de terapia quase semanal que eu simplesmente concordo com o que ele diz meio automaticamente, a minha mente começou a martelar...

COMO QUE EU PAREI NESSA MERDA?

Não, o Douma não me sequestrou, eu não tô aqui obrigada, e nem sou uma louca seguidora desse cara.

Estava tropeçando no meio da noite com os pés sangrando de tanto andar sem rumo por aí, quase morrendo de frio usando só um pijama e uma coberta puida no meio da floresta.

Os motivos disso simplesmente não importam

Foi quando eu vi simplesmente a coisa mais linda da minha vida...

Um homem alto e forte com cabelos claros e longos, envolto em uma pequena clareira de neve com estátuas que ele esculpia de uma maneira calma, todas em feições plácidas de gelo reluzente.

Foi a primeira vez que eu parei de andar em dias, estava nojenta e fedendo, mas aquela visão parecia um quadro impecável com apenas uma única mensagem...

O vazio.
Não dava para simplesmente explicar, eu via o vazio daquele único homem envolto pelo gelo e neve com formatos.

- Quem está aí...? - A voz suave dele me pegou desprevenida. Coloquei a mão na boca para conter o som de choque e com isso larguei o cobertor no chão - Nossa... Como você é feia.

Sim, foi assim que eu conheci esse filho da puta.

Claro, eu assumo que não estava sendo a mulher mais linda do mundo naquele momento mas... NÃO É ALGO QUE SE DIGA.

- Você parece que está morrendo, precisa de ajuda - ele estendeu a mão na minha direção, quando nossas peles se tocaram parecia que eu havia tocado em uma estátua de gelo - Vamos até meu templo.

- Você é um sacerdote? - pergunto com a voz desacostumada a falar.

- Quase um deus, Senhorita Feia - no momento, eu nem estava ouvindo isso.

Desde então, estou vivendo aqui, isso já faz alguns meses... E eu tenho quase certeza de que sou a mulher que está a mais tempo nesse lugar depois da velha Utahime, já que quase todas as semanas saem grupos grandes de jovens e voltam muito diminutos... Eu sei o que acontece.

Voltando ao momento atual...

- Você não me ouve!! - ele choraminga balançando meus ombros com certa violência, me tirando do meu delírio - minhas cativas já foram mais atenciosas!

Cativo - Douma Onde histórias criam vida. Descubra agora