Ele me apertou de uma maneira que, se não fosse o Douma, eu acharia carinhosa.— Quer continuar conversando? — Pergunto fazendo carinho em suas costas fortes.
A minha cabeça tá uma confusão completa, um lado meu dizia que eu estava caindo numa cilada e logo seria manipulada se deixasse acontecer, e outro lado dizia que ele talvez pudesse não ser tão ruim assim.
— Eu... Quero — o meu coração disparou, ele parecia frágil de verdade quando disse essas duas simples palavras.
— Vem, vamos sentar nos jardins — Puxei ele pela mão, arrastando aquele ser humano/oni gigante até os jardins bem cuidados desse local.
A gente se sentou no chão com as costas apoiadas em uma árvore frondosa, capaz de fazer uma sombra realmente densa até à luz da lua.
Foi a primeira vez que eu prestei atenção de verdade em uma das tagarelações dele, ele contava coisas realmente tristes para alguém com sentimentos. Mas eu quis fazer uma pergunta.
— E os seus pais? — Perguntei inocentemente, finalmente notando que ele estava com a cabeça no meu ombro, com certeza com aquele sorriso de descanso nos lábios que morreu assim que perguntei — Eles morreram? O que aconteceu?
— Obviamente morreram, não é — ele parecia até impaciente, sua mão parecia um pouco infantil quando apertou a sobra de tecido do meu quimono, parecia uma criança tentando se acalmar. — Mamãe matou o papai e se matou depois com a mesma faca... Bem poético.
Ele estalou a língua, nunca tinha o visto fazer isso... Parecia alguém segurando o choro.
— E nem assim você sentiu nada? — eu fui bem pouco compreensiva nessa hora, me parecia algo impossível.
— Eu nunca sinto nada... Nunca senti essas coisas que vocês dão nomes por aí, felicidade, tristeza, raiva, luxúria, nadinha — mas... Agora isso parecia mentira pra mim. Ele falava com muitas pausas entre as palavras
— Você disse que era sincero — afasto a franja dele, deixando seu rosto completamente desobstruido do meu olhar.
— Tudo bem... Eu acho que teve alguma coisa sim — ele se vira e olha para a lua, estava crescente que estava em seu ponto mais alto da noite — parecia que dentro de mim tinha uma pedra, uma bexiga... Alguma coisa que vai ficando maior com o passar do tempo, algo que apertava todos os meus órgãos, massacrava por dentro, doía... Mas quando minha mãe parou de espasmar e o seu sangue não jorrava mais na pulsação... Eu parecia leve de novo, isso durou uns segundos até que... Parece que apagaram as luzes
Ele conta sorrindo.
Isso é difícil de entender, mas... Ele me descreveu algo que se parece muito com alívio e depois... A mente dele se quebrou? Ele se blindou de sofrimento?
— Depois disso você nunca mais sentiu nada? — Seguro o queixo dele e viro seu rosto brutalmente na minha direção.
— Huum... Eu nunca SENTI nada — Douma da ênfase na palavra "senti" enquanto olhava nos meus olhos parecendo bem mais afetado pra alguém sem sentimentos ou sensações reais.
— Mas você acabou de me descrever como se sentiu aliviado quando seus pais morreram — eu continuava segurando o rosto dele. Mas nada o impediu de simplesmente levantar.
— Olha só que passeio longo. O sol já já vem aí — era verdade, o céu começou a se arroxear de repente. Eu nem percebi quando isso começou a acontecer.
Não demorou para Douma simplesmente sumir da minha visão.
— Livro aberto — chuto a pobre árvore que estávamos encostados um pouco antes — Livro aberto é o cu dele. Isso sim!
Mais alguns golpes na casca dura da árvore que me fez repensar todas as minhas escolhas de vida enquanto meu pé latejava.
Não preciso nem dizer que as fofocas sobre ontem começaram a rolar soltas durante o dia. Eu acordei bem tarde então isso só piorou tudo.
Quando eu comecei a bordar depois do almoço não precisou de muito para várias jovens se aproximarem se mim com perguntas triviais, que eu respondi até chegar no ponto... De...
— E você e o Mestre hein... Parecem tão próximos — Yoriko, uma jovem de cabelos cor de mel bem lisos e olhos amarelados perguntou com um sorrisinho, ela é bem linguaruda.
— O que tem? Eu trabalho para ele ué, só isso — falei meio grosseira, mas acabei errando o ponto que faria o olho do cisne — merda...
Resmungo, isso foi uma confirmação.
— Huuum. Ficou até nervosa, não é? Não é? — Haru, uma jovem de cabelos brancos e olhos escuros começa a bater seu ombro no meu. Eu começo a sentir vontade de bater o meu punho no nariz dela — Você deve ser caidinha por ele, não é? Afinal, ele é o escolhido do divino para nós... É impossível não achá-lo um homem e tanto.
— Isso diz mais sobre vocês do que ela, suas fofoqueiras — Rin Tosaka, uma moça de cabelos loiros cor de ouro e olhos vermelhos como os de um coelho se aproxima, batendo com uma vassoura nas linguarudas ao meu redor. — Me desculpa por elas.
Rin sorri, faz uma reverência e começa a se afastar.
— Tudo bem... Obrigada — Sorrio um pouco, estava aliviada.
— Tudo bem... Apenas... Tome cuidado, por favor — Isso me deixou com a pulga atrás da orelha. Me fazendo agarrar seu pulso delicadamente.
— Como assim? Do que você está falando, Rin? — Pergunto meio confusa enquanto ela me olha.
— O mestre, ele é um homem agradável e até bem protetor com os seus. Mas também é manipulador e perigoso... Tome cuidado. Eu imploro.
Eu suspirei e concordei com a cabeça. Isso é mais do que uma verdade. O Douma é perigoso.
Por isso eu fui até seu santuário, precisava de respostas dele, entrei cuidadosamente no cômodo que ele dormia e quase tive um infarto, o grito escapou espontaneamente dos meus lábios, rasgando a garganta.
Tinha uma cabeça! Uma cabeça com cabelo em um vaso!
Em seguida algo avançou em um como uma pantera, eu só tive tempo de ver olhos brilhantes e coloridos antes de ser derrubada no chão, sentindo um corpo pesado em cima de mim.
Quando tive coragem de abrir os olhos foi uma surpresa, era o rosto do Douma que estava a um palmo de distância do meu, o rosto dele estava brilhando como se tivesse sido lavado, estava com os cabelos bagunçados, parecia uma fera de tão irado, sem camisa e com o peito arfando.
— O que tá fazendo aqui a essa hora, garota? — ele segura a frente do meu quimono, aproximando nossos rostos ainda mais.
— Sou eu... A Amai! — Foi a única coisa que eu consegui pensar pra dizer. Vai que ele não tá me reconhecendo por causa da escuridão! Eu sei como ele está por seus olhos e a... Minha visão é boa.
— Eu sei que é você — Ouço uma leve risada anasalada enquanto o aperto da minha roupa se solta, ele parecia mais calmo — Nenhuma outra mulher seria estúpida ou despreocupada o bastante pra gritar assim que entra nos meus aposentos.
Logo depois ele me abraça. Eu fiquei imóvel por um bom tempo antes de abraçar ele de volta.

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Cativo - Douma
Fanfiction- Por que você me deixa viva? - Choramingo, desejando a morte mais do que um copo de água. - Porque eu gosto de você... - ele diz com simplicidade, batendo as unhas enormes uma na outra - E você é feia. Ouch!