Eu tinha chorado.
Bem, eu já chorei antes e não tenho dificuldade pra isso. Só preciso tentar e as lágrimas já aparecem, assim como os sorrisos, totalmente falsas.
O problema foi quando eu tentei parar, eu estava me encarando no espelho, achando que meus olhos tinham dado algum defeito!
As lágrimas não paravam de escorrer, meu coração parecia estar sendo espremido, minha garganta parecia ter fechado... Isso nunca aconteceu antes.Eu parecia reviver com marteladas de fogo os momentos incômodos da minha vida, que agora estavam parecendo mais do que incômodos.
As coisas ruins que eu ouvi, as discussões entre os meus pais que me faziam ficar encolhido em um canto da sala com medo que meu pai quebrasse um de meus braços na tentativa que eu o defendesse das agressões da minha mãe. Que ele particularmente merecia.
Até mesmo aquela fome infernal que eu passava durante certas épocas do ano para "melhorar minha mediunidade". Eu só inventava coisas na esperança de me darem o que comer.Quando meus pais morreram isso melhorou muito, sem as emoções e os problemas que eles me causavam, eu podia mandar em tudo. Nunca mais nada foi difícil, melhorou mais ainda quando eu recebi os meus poderes do Muzan...
Foi nessa parte na linha de raciocínio que eu me joguei na minha cama que tinha sido rasgada, pois em algum ponto eu comecei a arranhar e arremessar as coisas, algo que com certeza vai me envergonhar quando voltar a minha própria cabeça... Eu agi como os meus pais malucos.
Desde que eu virei um oni... Eu nunca vivi com tanta leveza, o Kokushibo que é simplesmente o cara mais chato da terra é o tipo que se irrita bem fácil e isso é... Divertido, o Akaza nem se fala! É por isso que ele é o meu melhor amigo.
Eu estava prestes a pensar na melhor coisa quando ouvi um grito na entrada, usei toda a minha velocidade pra pegar a pessoa. Estava relativamente desajeitado então eu a derrubei no chão, acabando por cair também...
Amai.
Depois de abraçar ela, tudo ficou em silêncio de novo... Calmo.
— O que é... Ou melhor... Quem é? — ela obviamente tava falando da cabeça no vaso...
— Não importa, o pote era feio e eu tinha que enfeitar. Vem — me levanto e saio arrastando ela pra dentro do quarto.
Desculpa Gyoko, seus vasos são lindos e não são potes. Mas ela vai entender melhor assim.
— Enfeitar? — mesmo escuro eu consigo ver os olhos dela arregalados e tremendo
— Já faz tempo aquilo ali. — balanço minha mão
— o que você fez com o seu quarto? — foi só aí que eu comecei a pensar em uma justificativa...
— afiando as unhas — pulou da minha língua
— Aham — ela levanta uma das mantas e faz uma carinha de quem pede explicações, que eu posso ver através do rombo no tecido que ela erguia diante dos meus olhos.
— Deixa disso — arranco isso da mão dela e jogo no chão, batendo palmas.
Nesse momento, o quarto se ilumina com um brilho lilás anormal e o frio toma conta do lugar enquanto uma forma humana parecida com a minha se constrói.
— O que é..? — Amai pareceu bem chocada com o segundo eu no cômodo.
— Preciso da sua ajuda para cuidar dos meus cabelos. Vem cá. Ele arruma o quarto — Puxo sua pequena mão delicada para outro cômodo, não afetado pelo kekkijutsu controladissimo que lancei.
— Eu não quero te ajudar com seu cabelo, folgado de uma ova — ela diz isso com uma escova nas mãos.
— Não minta, é feio — Dou uma risadinha, encarando ela pelo espelho. Observando seus traços finos no reflexo limpo — eu sei que você é louca pra mexer neles como quiser.
Mexo minhas sobrancelhas e logo meus cabelos estão sendo tratados com certa animação.
Eu quis demorar bastante para voltar ao quarto enquanto ele era arrumado, mas apenas me deixei levar, pois a companhia dela me deixou muito confortável.
O cômodo que estávamos era bem quentinho e ela sentiria bastante se mudassemos pro outro quarto logo.
— Meus cabelos nunca estiveram tão bem arrumados — Dou uma risadinha quando ela avisa que terminou e sinalizo pra que se sente entre as minhas pernas.
— Você não é muito de fazer qualquer coisa neles mesmo — Ela boceja e ignora totalmente a minha indicação.
— Aí vem aqui logo — Agarro ela pelos ombros e me levanto, a segurando em meus braços.
Péssima ideia.
Ela ficou vermelha.
Eu fiquei vermelho.Preferia não me lembrar de sensações agora!
— Vamos dormir — Digo a trazendo de volta pro quarto enquanto a mantenho próxima ao meu peito, para que ela continue quente, modifiquei um pouco da minha temperatura corporal para o conforto da minha humana.
Amai estava bem quieta e nem se mexia antes de eu dizer isso.
— Dormir? Com você? — foi aí que ela começou a se retorcer em meus braços.
— Aaah, vamos, eu juro que é só dormir, Amai-chan — Digo sorrindo mas meus lábios se aproximam de uma de suas orelhas — a menos que você queira mais que isso.
Depois de sussurrar tomei um soco no nariz. Mas ela foi pra minha cama mesmo, agarrando meus lençóis na altura do queixo.
Tirei minha camisa e percebi que seus olhos seguiam os meus movimentos, quando parei, ela teve dificuldade real para encontrar os meus olhos de novo.
Isso me satisfaz bastante.— Não precisa me devorar com os olhos, senhorita — Me aproximo dela na cama, me inclinando pra cima dela com apenas os braços apoiados na cama, sentindo seus lábios muito tentadores agora.
— Eu não faço isso — ela sussurra, mesmo que parecesse me apreciar... Ela também estava com medo.
Então me retrai e só deitei na cama com uma distância segura dela.
— Amai... O que fazia antes de eu te encontrar? — perguntei após ficar uns instantes em silêncio, incapaz de relaxar meu corpo ou minha mente.
Encarar o teto me fez pensar a respeito do passado dela, eu mesmo encarei muito o antes... Eu quis saber o antes da pessoa que está perturbando a minha paz.
Percebi que ela relutou muito em contar algo, seus dedos finos e delicados envolveram a minha mão que estava pousada próxima de seu corpo no colchão.
— Eu... Tinha uma outra vida... Tinha um marido e um filho. — quando ela me conta isso não demoro para sentir seu rosto encostando no meu braço, duas lágrimas tocam na minha pele...
Ela está chorando.
Meus dedos afagam seus cabelos, macios e brilhantes.
— o que aconteceu pra eu te encontrar naquela noite, Amai? — viro o rosto dela para mim.
Minha mente estava uma grande confusão. Um marido? Isso já é ruim. Um filho? Céus...
— Ele... Ele era um homem cruel! Ele era horrível — Sua voz tremia enquanto seus dedos apertavam minha pele com mais força — Eu estava juntando dinheiro para fugir com o meu bebê... Ele nos flagrou fugindo... Ele matou o meu filho!
Eu segurei o rosto dela que parecia até convulsionar com o desespero de reviver isso.
— Ele era muito pequeno, Douma — seus olhos verdes e brilhantes fizeram minha alma quebrar em pedaços. Não sou muito bom com sentimentos ainda, mas diria que estou com raiva.
Mas me concentrei nela, em deixá-la calma. A abracei e acalentei até que ela ficasse normal, até quase adormecer.
— Você pode me dizer o seu nome de verdade? Pode ser o de solteira mesmo, querida — Sussurro com uma voz persuasiva próxima ao topo de sua cabeça.
— É Kotoha — Ela murmura bem fracamente — Hashibira Kotoha.

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Cativo - Douma
Fanfiction- Por que você me deixa viva? - Choramingo, desejando a morte mais do que um copo de água. - Porque eu gosto de você... - ele diz com simplicidade, batendo as unhas enormes uma na outra - E você é feia. Ouch!