3. male fantasy.

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[...]

Uma semana se passou desde a primeira aula do ano. Eu estava tendo dias difíceis e o clima frio dessa época não ajudava.
Nunca fui uma pessoa baixo astral, mas agora não conseguia ter energia pra nada.

Na minha casa sozinha, tentava não comer e me distraia com pornografia. É um péssimo hábito, eu sei, mas só surgia quando eu estava tendo problemas.

No começo eu não sabia o que estava me deixando assim, mas talvez era minha cabeça em negação, porque depois de uns dois dias eu entendi. Até tentei ignorar, mas no fundo eu já sabia que o motivo do meu desânimo tinha nome: Melissa.
Sabe, não é como se o meu relacionamento com ela estivesse péssimo, embora também não estivesse muito bom.
Eu sabia que estava perto do fim e antes mesmo que acabasse eu estava vivendo o luto do nosso término.

Depois desses dias inteiros refletindo, estou vendo as coisas mais claramente. Ela continuaria cobrando que insistisse a aceitação da minha mãe, mas eu não estava confortável com isso. Assim como Alissa não podia me obrigar a ser hétero, eu não podia obrigá-la a aceitar minha sexualidade, pelo menos não por enquanto.
Eu sinto que minha mãe só precisa de tempo, ela cresceu num tipo de fantasia masculina e acredita que eu preciso de um homem pra minha vida. Mas Melissa não tem nenhuma paciência pra esperar, parece não entender que essa decisão tem que ser minha.

Minha namorada sempre foi insegura, o que nos gerava muitas brigas. Seu ciúme é excessivo, não gosta nem que eu seja amiga de outras mulheres, ela mal conhece Olívia e já surtou comigo várias vezes por causa dela. Melissa tem ciúme até de homens (sim, homens).
Eu sabia que ela não se amava e acreditei que ela poderia me amar sem que isso nos atrapalhasse.

Estava confusa, mas não deixaria a garota dos cabelos loiro escuro e olhos cor de mel de lado assim, tenho medo de que ela se sinta sozinha.
Eu sei que deveria, mas eu nunca conseguiria odiá-la. Mesmo sabendo o quão manipuladora ela pode ser.

Aprendi a me cuidar há uns 3 anos, desde então nunca me deixei de lado, eu só tenho a mim e sou muito segura de quem me tornei. Nada no mundo me tiraria o amor próprio, nem mesmo o amor de alguém.

Sobre a Billie, não cheguei a trocar mais palavras com ela, apenas alguns sorrisos de lado e cumprimentos nada íntimos.
Não que eu tivesse deixado de reparar nos seus olhos, até porque isso seria impossível. Só não estava com cabeça pra lidar com o alvoroço que ela causava dentro de mim.
A cada aula ficava mais difícil prestar atenção, eu estava sempre fitando a garota oceano mexer em seus anéis, ela fazia isso, parecia uma mania.

Eu reparei que ela repetia alguns dos meus movimentos involuntariamente, se eu colocasse o pé na cadeira, podia vê-la fazer o mesmo. Billie não parecia ter a menor noção de que fazia isso.
Não consegui entender bem, mas Olívia também reparou e me disse que isso significa que ela estaria se conectando ou prestando atenção em mim, e que com certeza era interesse da parte dela.

Hoje combinei de me encontrar com Liv antes da aula na lanchonete do campus, eu precisava conversar com alguém e sabia que minha amiga poderia me aconselhar melhor que qualquer um.

Mas ela estava atrasada, como sempre...

- Amiga, não me mata por favor! - ouvi seus passos apressados e sua voz alta chegando mais perto.

Eu estava tão avoada que não poderia ficar brava com ela, nem conseguia.

- Tá tudo bem, Liv - suspirei me levantando da cadeira e olhei nos olhos castanhos da garota.

Ela me passava tanta calma, tive sorte por encontrar uma amiga como aquela.

- Vamos nos sentar nas arquibancadas do campo de baseball? Lá fica vazio a noite e... eu preciso de um conselho seu - falei olhando pra baixo ao sentir uma lágrima teimosa escorregar pelo meu rosto.

Olívia parecia saber exatamente o que fazer, assentiu com a cabeça, passou o dedo limpando meu choro e pousou seu braço sobre o meu pescoço, me levando em direção ao imenso campo que não era longe dali. A abracei de lado com minhas mãos na sua cintura e suspirei.
Se Melissa visse isso, seria motivo de briga.

[...]

Já estávamos na última das quatro aulas do dia, minha amiga decidiu ir embora mais cedo quando viu que eu já estava mais calma pra ficar sozinha.
Ela saiu dizendo que Natan, seu ficante, havia a chamado para um jantar de última hora e óbvio que essa cadelinha de macho foi.

Na nossa conversa contei tudo que estava sentindo em relação a Melissa, eu ainda estava um pouco distraída pensando nos conselhos de Olívia, a morena me disse coisas que eu já sabia, mas teimava em não aceitar. É tão esclarecedor quando você ouve de alguém e não de vozes da sua cabeça...

- Lana? - saio dos meus pensamentos encontrando meu olhar com o seu. a garota estava em pé na frente da minha mesa.

- Ah, oi Billie - corei de vergonha - desculpe, eu ando um pouco distraída.

- Eu reparei mesmo - riu - o professora Cher pediu pra formarmos duplas pro trabalho prático, quer fazer comigo?

- Claro, Eilish! Vamos ser uma ótima dupla - sorri sem mostrar os dentes.

Ela se abaixou na minha frente apoiando as mãos no joelho e inclinando o corpo na minha direção. Aquilo era perto o suficiente pra me deixar desnorteada.

- Vamos sim. - sussurrou mordendo o lábio inferior suavemente.

Encarei sua boca imaginando como seria sentir seus lábios tão hidratados nos meus. Como alguém conseguia ser tão atraente?

- Então Laninha, tá tudo bem? Reparei que está meio pra baixo há uns dias. - sorri com o apelido e voltei meu olhar para seus olhos que mostravam certa preocupação. - Sei que não te conheço a muito tempo, mas consegui reparar.

- É...está sim, são só alguns problemas pessoais, Bill.- me arrisquei ao chamá-la assim, espero que não se importe. eu amo apelidos - Mas já estou me sentindo melhor, muito obrigada!

- Qualquer coisa pode falar comigo, tá bem? Sei como pode ser difícil lidar com tudo sozinha. - disse colocando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

Me arrepio toda com o seu toque, espero que ela não tenha notado.
Mulher nenhuma havia me deixado tão nervosa na vida, sempre fui mais atirada.

Percebemos a agitação na sala e todos se levantando, o que significa que a aula chegou ao fim. Billie se virou indo juntar seus materiais e eu fiz o mesmo. Saímos da sala juntas e seguimos pelo corredor barulhento.

- Vi que Olívia foi embora mais cedo hoje, aconteceu alguma coisa? - disse prendendo metade das madeixas azuis em um coque alto.

- Interessada demais na minha amiga, Eilish. Já te adianto que a Liv é hétero, ok? - eu duvido, mas ela diz que é.

- E se eu estiver, hm? - me olhou nos olhos passando a língua entre os dentes e o lábio superior - tá com ciúmes de mim?

Ela parecia saber exatamente o que estava fazendo, fiquei tão sem reação pra sua resposta direta e sua expressão corporal que me engasguei com a água que eu bebia.

- Calma, Lana - riu alto, me ajudando com alguns tapinhas nas costas - eu só estava brincando, não precisa disso.

Coloquei o capuz do moletom largo na cabeça e tampei o rosto com as mãos, depois a olhei com um sorriso de canto.

- Aceita uma carona até em casa? - disse tirando a chave do bolso.

- Acho que eu vou voltar a pé mesmo, fica pra próxima, Bill. - disse me afastando. - mas muito obrigada. - balancei a mão no ar e ela retribuiu o gesto.

Claro que seria ótimo voltar com a Billie, mas havia tanta tensão entre nós que eu achei um pouco arriscado demais me trancar num carro com ela.

Eu nunca trairia Melissa. Jamais. Nem Billie com tanto charme poderia me levar a isso.
Óbvio, não nego que estava interessada, mas era algo que eu não faria. Não antes de me resolver com minha namorada.

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obrigada por lerem, até o próximo capítulo!
beijus 🫶

i'll never let you go. | Billie EilishOnde histórias criam vida. Descubra agora