1. happier than ever.

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Ouço meu telefone vibrar na cama e o nome da minha avó Camila brilha na tela. Eu estava distraída decorando as paredes do quarto com alguns dos meus desenhos e posters impressos, odeio ver tudo tão sem graça. Me levantei da cadeira rapidamente pra atender a ligação.

Desde que eu saí de casa ela me liga quase todos os dias, sempre fomos muito próximas e ela é uma das pessoas que eu mais sinto falta. Atendo e logo ouço sua voz calma.

- Lana, meu amor!

- Oi vóvis! Que saudade - falo triste.

- Princesa, estou morrendo de saudade. Prometo ir te visitar. - fico tão feliz de ouvi-la dizer isso, sinceramente seria muito divertido curtir essa cidade com a vovó Mila. essa mulher é um acontecimento.

- Como estão as coisas por aí? - pergunto curiosa com a resposta - alguma novidade do tinder?

- Por aqui está tudo bem. Ainda estou saindo com o Marcelo, estamos nos gostando... nos conhecendo melhor... - consigo ouvir ela rindo abafado, recentemente minha avó conheceu esse cara num restaurante do Rio de Janeiro, é um homem de negócios e se vê na cara dele que tem muito dinheiro. o que pouco importa pra Mila, já que ela sempre trabalhou duro e hoje vive tranquila com seus milhares na conta. - e como estão as coisas por aí? tudo bem entre você e a Melissa?

- Ah vóvis está tudo bem, mas está meio difícil nosso relacionamento, tem a distância e tem a minha- sou cortada na mesma hora com a voz de Davi do outro lado da linha.

- É a Lana? - sua voz soa amorosa como sempre.

- Sou eu pai!

- Eu te amo, pequena. - só de ouvir sinto um quentinho no coração, meu pai é o único homem que eu amo.

- Te amo mais! - falo alto pra que ele escute.

- Meu amor, tenho que ir. Depois te ligo, eu quero saber tudo - diz minha avó.

- Tudo bem, vóvis, beijão!

Sou brasileira e há um mês que eu me mudei pra Los Angeles completamente sozinha, ainda estou tentando me acostumar com o caos que é viver isso aos 17 anos, mas eu já amo esse lugar. O motivo dessa mudança? meu maior sonho: a faculdade de moda.

De certa forma foi melhor pra mim, estou mais feliz do que nunca. Mesmo que seja difícil, eu garanto que viver naquela casa com a minha mãe, Alissa, reprimindo completamente o meu sentimento por mulheres era bem pior. Ela e meu pai se separaram quando eu tinha 7 anos, ela sempre foi uma mãe presente e cuidadosa, além de ser extremamente protetora.

Alissa, ao contrário do meu pai Davi, nunca me aceitou, ignora o fato de que eu namoro uma garota e já gritou coisas horríveis pra mim sobre minha sexualidade. Essa gay reprimida.
Apesar disso, eu a amo e nós nos dávamos muito bem e sempre riamos muito juntas. Isso quando ela não decidia simplesmente surtar porque eu sou lésbica.

Acontece que eu sentia a pressão da minha namorada pra me assumir e acabei fazendo isso por Melissa, que já é assumida e tem uma família que a aceita muito bem, embora não tenha sido sempre assim.

Eu diria que essa foi provavelmente a pior decisão da minha vida, eu me sentia mal por ter sempre que encontra-la em lugares escondidos. E mais, nosso relacionamento era a distância, ela morava na cidade vizinha, o que fazia com que ela gastasse muito dinheiro indo me ver (escondido), já que eu não podia ir pra cidade dela.

Sim, muito complicado. Mas além disso tudo, eu amo Melissa, ela me faz muito bem e nosso relacionamento é gostoso de viver, só tem esses muitos empecilhos.
Enfim... tenho ignorado alguns pensamentos sobre nossa relação pro bem da minha saúde mental, ainda mais agora que estamos separadas por milhares de quilômetros.

Hoje é meu primeiro dia de aula e eu não poderia estar mais ansiosa, meu sonho desde criança é ser uma fashion designer.
Assim que desliguei a chamada com a vovó, comecei a me arrumar. Talvez até cedo demais, minhas aulas são noturnas e desde as 15:00 horas eu estou me preparando, estou igual criança quando tem passeio da escola.

Tomo um banho quente e gostoso, saio sentindo frio e coloco uma calça jeans que deve ter 5x o meu tamanho, um cropped preto e uma jaqueta jeans (adivinhem... também 5x o meu tamanho), na mesma lavagem clara da calça.

Nos pés coloco meu air force 1, arrumo meus cabelos pretos e ondulados soltos na altura do ombro, deixando um efeito meio bagunçado. Retoquei minhas mechas descoloridas perto da orelha a pouco tempo, então estão bem platinadas como eu gosto, e então finalmente dou uma arrumada na minha franja retinha.

- Na régua!! - pensei alto.

Fiz uma maquiagem leve dando mais atenção pros cílios e sobrancelhas, ajeitei meu piercing do septo, coloquei minhas várias correntes no pescoço, meus mil anéis nos dedos e finalmente estou pronta. Ando relutando em colocar minha aliança de namoro, me sinto mal por não querer usá-la, mas tudo bem, vou colocar pra evitar mais problemas.

Peguei minhas chaves e a mochila azul claro da Gucci na mesa da sala, saí do apartamento e desci correndo nas escadas.

- Devia ter procurado um lugar com elevador. - múrmuro sozinha.

Decidi ir a pé mesmo, assim que saí senti o vento gelado daquela noite soprar no meu rosto, meu nariz sempre fica geladinho nesse tempo. Só espero não me perder com o google maps ou ser roubada, pelo menos a faculdade é perto da minha casa, alguma coisa eu tinha que acertar.

[...]

Combinei de me encontrar com a Olívia, então agora estou sentada sozinha quase morrendo de frio, ou de nervosismo talvez... nem sei mais.

Saio dos meus pensamentos quando escuto uma voz doce soar no pátio do colégio onde haviam algumas pessoas também esperando pela palestra do primeiro dia.

Era Olívia com seu look todo preto e uma pochete de pelinhos, aff como eu amo essa mulher! Ela tem a pele morena e os cabelos morenos um pouco mais longos que os meus, os olhos castanho claro e o sorriso mais cativante do mundo.

- Oi amiga! - disse vindo na minha direção com os cabelos voando pela ventania.
- Oi Liv! - respondi imediatamente abraçando a garota.

Eu conheci Olívia pelo twitter, quando descobri que eu havia conseguido passar pra estudar aqui em LA tive que procurar uma forma de encontrar alguém que pudesse me ajudar, afinal era um lugar novo e completamente desconhecido.

Olívia me respondeu por lá dizendo que estudaria comigo e se ofereceu pra me ajudar, eu a conheci pessoalmente no mesmo dia em que cheguei na cidade, ela me ajudou com a mudança e desde então não nos desgrudamos. Cinemas, cafés, restaurantes e festas do pijama, já fizemos de tudo juntas... já sabemos tudo sobre a outra e ouso dizer que Liv é uma das melhores amigas que já tive, foi impressionante nossa conexão instantânea, apesar da diferença de 6 anos de idade.

Ouvimos uma moça alta, loira e muito bonita, vestida com uma calça rosa e uma camiseta dos Beatles chamar todos os novos alunos para o auditório.

- E lá vamos nós - disse Olívia com um tom irônico, talvez porque já começou três cursos diferentes, mas não se identificou com nenhum.

Mandei uma mensagem para Melissa avisando que já estava indo para a palestra e guardei o celular. Corri um pouco pra alcançar minha amiga que já estava um pouco à frente em direção a porta de madeira do auditório.

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i'll never let you go. | Billie EilishOnde histórias criam vida. Descubra agora