i'll never let you go. | Billie Eilish

9. Miller.

Já era segunda e eu estava me preparando pra mais uma aula. Me peguei pensando em Billie o final de semana todo, o jeito que ela mexia comigo era tão diferente.

Ainda não tinha a visto desde a festa, não sabia como seria agora.

Apesar de querer muito ficar com ela eu tinha medo de que aquilo estragasse a amizade que havíamos criado e poderíamos continuar criando. Nunca tive muitos amigos no Brasil, não queria que uma amizade colorida arruinasse tudo.

Depois de finalmente pronta, peguei minhas chaves e mochila e saí rumo a faculdade.

No caminho liguei pra Camila minha vó e pro meu pai Davi, ainda não havia contado pra eles sobre o término, e visto que eles ficaram do meu lado quando comecei a namorar, senti que mereciam detalhes que viriam da minha boca.

Claro, não fui muito realista sobre a traição, também não queria que eles se sentissem mal por mim. A mudança já foi um processo complicado e sei que também afetava a eles me ver nessa situação chata.

Contei vovó Camila sobre a Billie, a gente troca todos os nossos segredos, ela disse que imaginava ser uma menina linda e que estava ansiosa para conhecê-la.

- Vai com calma vó - ri. - Eu mesma estou conhecendo ela melhor agora.

Vi o carro da Billie no estacionamento do campus então sabia que ela estaria na aula hoje, mas quando passava um pouco mais perto algo me chamou atenção.

Não conseguia ver direito pela luz fraca do lugar e pelas árvores que faziam sombra na luz do poste, mas com certeza tinham duas pessoas atrás do carro.

O lindo cabelo azul era inconfundível, mas de quem seriam os fios loiros?

- Sabrina!! - sussurrei pra mim mesma enquanto caminhava em direção a entrada do prédio.

No banheiro da festa senti uma certa tensão entre elas, Sabrina pareceu incomodada ao notar que estávamos juntas.

Provavelmente já tinham ficado ou estavam ficando, nem sei. Só isso justificaria sua grosseria comigo.

Eu me senti desconfortável ao ver as duas ali, não deu pra saber o que faziam ou sobre o que conversavam, mas neguei qualquer sentimento.
Eu não estou com ciúme, né? A gente só ficou uma vez...

Fui direto pegar algumas coisas no armário, teríamos aula de modelagem hoje e eu precisava de materiais.

Enquanto mexia ali, vi o pontinho azul vir em direção ao corredor, confesso que fiquei um pouco nervosa, mas me controlei.

Billie passou logo atrás de mim, e tudo que ouvi quando a cumprimentei dizendo "Oi, Bill" foi um curto...

- Oi - seguido de um aceno com a mão e um sorriso seco.

Mais nada, nem meu nome ela disse, somente um seco "oi" sem intimidade, e seguiu seu caminho para a sala.

Fiquei parada ali com a cabeça meio baixa me questionando. Seria culpa da Sabrina? Será que eu fiz alguma coisa? Será que o beijo foi péssimo? Será que isso é só coisa da minha cabeça? Talvez ela teve um dia ruim...

Antes que pudesse ir em direção à sala de modelagem que ficava no fim do corredor, senti meu celular vibrar no bolso. Até me iludi achando que poderia ser Billie, mas era Olivia dizendo que não viria na aula hoje.

- Logo hoje. - falei seguindo meu caminho.

Me senti ignorada a aula inteira, Billie parecia nem me conhecer direito mais. Interagimos algumas vezes, mas sem intimidade alguma.

Se não fossem outras amizades, teria ficado sozinha no intervalo. Eu imaginei que o beijo pudesse nos afetar, mas não pensei que ela iria esquecer que me conhece.

Depois do intervalo, que hoje parecia ter durado muito mais tempo, voltei pra sala e me sentei sozinha novamente.

Era estranho, os intervalos quando estou com as meninas parecem voar, 20 minutos passam como se fossem apenas 2.

Não fiquei muito tempo tentando prestar atenção na explicação da professora, que estava muito confusa por sinal. Não queria continuar ali, ainda estava desconfortável com a situação e brava comigo mesma por me importar tanto.

Como eu já disse a gente não tem nada, mas o mínimo que eu esperava essa a consideração de ao menos me cumprimentar direito.

Resolvi ir embora antes de acabar a aula, estava mesmo um pouco cansada, os últimos dias foram meio malucos emocionalmente falando. Não tinha carona hoje, mas também não me importava de ir de pé.

Depois de guardar de volta algumas coisa no armário eu fui até o banheiro, entrei em uma das cabines e quando saí parei de frente ao espelho. Enquanto dava uma ajeitada no cabelo, vi a porta abrir.

Uma menina loira bem alta com o cabelo ondulado preso em um coque despojado e roupas pretas e largas entrou no ambiente, naquele mesmo momento senti seu perfume. Era bem cheirosa.

Ela foi até uma das pias e enquanto lavava a mão disse meio baixinho, mas num tom que eu pudesse ouvir:

- Nem precisa se arrumar muito.

- Ah - ri meio sem graça - Obrigada, mas é que a franja sempre sai do lugar.

Fiquei surpresa com a interação e um pouco sem graça com o elogio repentino, mas relevei. Só me restava uma dúvida, quem era ela? Seu rosto não me era muito estranho.

- Prazer, meu nome é Luísa.

- Luísa... prazer, sou a Lana. - respondi enquanto me preparava pra sair dali.

- Ouvi falar de você, Lana.

Ouviu falar de mim? um pouco curioso.

Só um nome não iria sanar minhas dúvidas, então tive uma ideia, eu não conhecia ninguém aqui em L.A, mas tinha uma pessoa que conhecia qualquer um.

         Liv

- Olivia, você sabe quem é essa?
- disse que se chama Luísa 
* foto*

- É a Luísa Miller
- Ouvi dizer que estava em Las Vegas e voltou pra cá recentemente

Las Vegas... pela fama do lugar eu imaginava o tipo dela.
Eu não me orgulho de ter tirado foto da garota sem ela ver, mas também não iria perguntar quem era logo de cara.

- Você estuda nesse campus? nunca te vi por aqui.

- Estudo aqui sim, faço dança. É que nossas salas são no prédio de cima. No último semestre fui pra Las Vegas fazer um curso de Dj, mas agora estou de volta - me respondeu e sorriu.

Puts, tem coisa mais gay que isso?

- Você tem cara de quem dança - foi a única coisa que respondi.

- Cara de quem dança? - riu meio confusa - E que curso você faz?

- Sim - ri - Eu faço moda.

- Hm, tem cara de estilista.

Não respondi, só ri e balancei a mão no ar me despedindo.

Cheguei em casa e depois de me preparar pra dormir, deitei na cama ainda confusa com a interação (ou a falta dela) entre eu e Billie.

Respirei fundo, e depois de um bom tempo remoendo tudo que aconteceu nessa última semana finalmente consegui adormecer.