Reconhecendo um desconhecido

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    O caminho até lá era de fácil acesso, e qualquer outra pessoa provavelmente teria o feito sem problemas. Qualquer outra pessoa que não fosse Yeon-seon.
Não é que ela fosse fraca, claro que não, ela se recusava a admitir tal coisa, até porque, desde que acordou, seu corpo tem se mostrado feliz em se adaptar à suas demandas, mesmo que lentamente. Como no momento em que ela acordou na praia, ela não aguentava seu próprio peso, mas logo superou essa dificuldade. Agora, por exemplo, mesmo que estivesse cansada, ela estava definitivamente menos cansada do que estava no dia anterior, viajando até Chwiseonru. Talvez ela devesse ter mais paciência consigo mesma, ou foi o que aquela mulher misteriosa havia dito.
    Desde que ela apareceu em seu sonho, Yeon-seon tem tentado não se prender muito no que quer que aquilo significasse, sua vida já estava bastante confusa, então não podem a culpar por empurrar as coisas com a barriga.
    Quando suas pernas gritavam por misericórdia, e seu coração parecia socar seu peito, ela avistou a entrada ao longe.
    Era um portão pesado, fechado e inerte, não havia guardas ao lado, e então lhe veio a percepção que ela devia bater para atrair atenção de quem estiver de dentro.
     Aproximando-se temerosa, ansiedade só então beliscando seu subconsciente, as mãos respondendo com suor em excesso.
     Quando ela decidiu tentar a vaga, estava bastante confiante, já que não havia pensando muito no assunto, entretando, agora, de pé em frente à luxuosa resistência, percebeu que não sabia exatamente nada de como trabalhar como criada. Tendo suas memórias fortemente obscurecidas por um motivo ainda por ela desconhecido, Yeon-seon não tinha nenhuma das qualificações necessárias para tal emprego. Cozinhar? Não sei se sei. Costurar? Não faço a menor ideia. Limpar? Provavelmente sim, até por que seria vergonhoso não conseguir realizar uma tarefa tão simples quanto essa.
     Respirando fundo, ela se aproximou, levou a mão direita na altura dos ombros, e deu três batidas rítmicas.
    A princípio, nada aconteceu, e os dez segundos que se passaram mais pareciam uma eternidade, felizmente quebrada pelo abrir das portas à sua frente.
    Um homem pequeno apareceu de dentro, e parecia procurar por algo do lado de fora, até que seus olhos pararam nela, curiosidade clara em sua feição.
- Senhorita, em que posso ajudar?- questionou hesitante.
    Suspirando nervosa, ela filtra as palavras certas para essa situação.
- Estou aqui pela vaga de criada, senhor- respondeu delicadamente, um sorriso educado em sua face.
     Isso pareceu esclarecer tudo para o rapaz, que imediatamente a convidou para entrar, e disse que chamaria sua superior para vê-la, tudo com uma facilidade que só a prática pode criar.
    Do lado de dentro, tudo confirmava o que ela já sabia: a família Jang é realmente rica. Com um jardim bem cuidado enfeitando tudo a sua volta,  a casa mais parecia um complexo bem arquitetado, várias instalações ligando os diversos cômodos que a compunham.  Apesar de lindo, o lugar exalava o frio de um inverno fora de época, como um pequeno refúgio do clima quente e úmido que cobria o Forte Daeho. Um arrepio a atravessou, eriçando os finos fios de cabelo no seu pescoço, tão desconfortável quanto intrigante. Esse lugar se diferenciava tanto do resto da cidade, que ela quase podia imaginar que não estava mais em Daeho.
    Yeon-seon é tirada de seus pensamentos confusos por uma mão em seu ombro.
- A senhorita Kim irá lhe encontrar agora, você deve a esperar aqui- instrui respeitosamente o criado.
    Foi nesse momento, vendo-o se afastar devagar, provavelmente indo chamar a senhorita Kim, que ela percebeu que não estava mais nos jardins, mas sim em uma sala de estar, com uma porta grande e aberta, esclarecendo que ela não estava tão longe de onde pensava. Através da abertura, era possível ver claramente o verdejante bosque doméstico, tão admirável quanto há minutos atrás.
   Ser deixada sozinha nesse momento agiu como um gatilho para alimentar a ansiedade de estar ali, mil pensamentos passavam por sua cabeça, um mais desencorajador que o outro, fermentando uma muda de insegurança  quanto às suas capacitações. Há pouco mais de dois dias ela estava completamente perdida nesse mundo confuso e amedrontador, mesmo assim ela já havia criado raízes tão fortes e confortáveis em Daeho, um sentimento próximo da familiaridade agradável em relação a esse lugar, então as suas expectativas para se estabelecer eram bastante altas, e conseguir um emprego era o primeiro passo para isso.

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  Um pouco curto, mas espero que gostem🦋

Shining so Bright, I Knew It Had To Be You, My LightOnde histórias criam vida. Descubra agora