Shining so Bright, I Knew It Had To Be You, My Light

Luz em meio às sombras

No que o Mago se aproximava Yeon-seon percebeu duas coisas:
O frio que dominou o ambiente vinha dele, como um manto de escuridão da qual  vazava pelas beiradas mal costuradas uma energia perigosa.
  Segunda: As luzes das lanternas refletiam lindamente em sua pele pálida e rosto fechado.
Novamente, esse rosto tão familiar parecia pregar peças em sua mente, como se os olhos agora tão opacos tivessem vestígios de uma luz há muito apagada, mas que o tornava quente e amável, trazendo-lhe uma sensação enervante e curiosa.
   O Herdeiro da Família Jang era tudo e muito mais dos boatos que sobre ele circulavam. Sim, sua presença influenciava todo um recinto, e sim, ele carregava consigo uma aura fria e desconhecida, retratando bem a imagem do Caçador implacável de monstros, o que gerava a confusão generalizada de que ele próprio teria se tornado um. Entretanto, isso ela percebeu, nenhum dos boatos falava sobre a expressão cansada e triste que enfeitava sua face, não tornando-o feio, mas sujeito de compaixão, tornava-o um perfeito exemplar de um personagem principal fantástico de um poema romântico trágico, aquele ser misterioso que carrega consigo mistérios que ninguém seria capaz de advinhar, podendo eles serem extremamente sórdidos e abomináveis, ou os segredos mais tristes e doces que poderiam existir.
   Seu monólogo interior a distanciou do presente real, e quando as cortinas da imaginação e indagação são tiradas de sua frente, Yeon-seon se depara justamente com a Estrela, seu objeto de fascínio mais recente, há poucos passos dela.
- Mestre Jang, o senhor finalmente voltou!- cumprimenta contente seu parceiro de tarefas ao lado.
   Sua gentileza é recebida com pouco reconhecimento, respondida unicamente com um assentir modesto, seguido de palavras baixas e livres de qualquer indícios de sentimentos.
- Onde está a Senhorita Kim?- questiona ao servo.
    Ryu Eun-ho não pareceu abalado pela flagrante falta de cortesia do mago, e lhe respondeu sempre sorrindo- A criada Kim está cuidando de tarefas na cozinha, senhor, mas antes...- o jovem servo olhou-a nesse momento, como que pra tornar sua presença percebida- Antes ela estava instruindo a senhorita Yeon-seon aqui, que agora trabalhará conosco.
    A moça então sentiu aqueles olhos frios e intensos em sua direção, sentindo-se minuciosamente avaliada, separada e remontada.
     Ansiosa para quebrar o silêncio constrangedor que se seguiu, ela se apressou em se introduzir na conversa.
- Muito prazer, senhor, me sinto muito contente em trabalhar aqui- discursou se curvando levemente, em sinal de respeito, e esperou por uma reação.
   - É... está bem, fico feliz em ver sua empolgação, senhorita Yeon.
   Sorrindo com suas palavras, ela estava prestes a agradecer mais uma vez quando foi inesperadamente cortada por uma despedida apressada, justificada por uma suposta emergência pessoal, e logo tudo o que se via era uma figura escura se afastando ao longe, adentrando mais na residência.
   Confortando-a com delicadeza, o criado Ryu Eun-ho dava tapinhas leves em suas costas enquanto se desculpava pelo Mestre.
- Não se sinta mal, Yeon, ele apenas está cansado- então sorri maliciosamente- se ele não a aprovasse, você certamente já estaria do lado de fora, afinal.
   Apesar de não se sentir nem um pouco confortada pela justificativa dada, ela devolveu a gentileza do colega agradecendo pela paciência e gentileza em ensiná-la tudo o que seria necessário para realizar as tarefas da casa e se despediu afirmando que já era tarde e que estava cansada.
    Enquanto se dirigia para seus aposentos, ela não conseguia tirar da cabeça aquele homem que salvou a sua vida, mas que sequer parecia se lembrar disso.
    Chegada a hora de dormir, Yeon-seon se encontrava deitada sob suas cobertas, os olhos fixos no teto acima, sua mente bem distante do pequeno quarto no qual ela estava. Aqueles pensamentos que tão insistentemente ocupavam seus momentos de silêncio, corroendo de curiosidade o seu interior já turbulento. Suas memórias não haviam voltado, e a cada dia mais perguntas lhe eram apresentadas à respeito de sua vida anterior, tornando cheio o deserto antes vazio e intocado de sua mente reiniciada. Quem era ela? E porque sua estadia em Daeho não parecia levá-la a lugar algum em sua busca por respostas sobre sua vida anterior? Ela nunca havia estado no Forte? Se não, ela deveria procurar nas regiões mais rurais? Longe dos ruídos incessantes e da energia caótica do Centro Comercial?
    Mas, ainda assim, havia outra coisa, algo que lhe tirava o sono, exatamente como agora: Ela já viu aqueles olhos antes.