Dois

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— Vocês não tem ideia, eu estou falando sério! - Taehyung gritava, gesticulando com dificuldade por ter tantas sacolas em suas mãos - E quando ela foi se vingar, ela foi sozinha, mas levou um facão. Deste tamanho!!! O cara não tinha nem ideia de que ela seria capaz disso. Eu acho que nem ela tinha ideia! Foi muito emocionante, quando ela finalmente chegou lá e...

— Por Deus, Taehyung, a sua mãe sabe que você anda assistindo esse tipo de coisa? - Namjoon interrompeu, rindo do fato de que nenhum de nós dois estávamos realmente acompanhando aquela história.

— Aish, vocês precisavam ver. Hoseok-hyung não ia gostar tanto da parte do sangue, mas foi muito legal.

Eu continuei sorrindo, fingindo que nem me incomodaria com a cena, se a visse.

O céu já tinha vários tons de roxo e rosa quando voltávamos para casa, e estávamos muito felizes por conseguir fazer Namjoon ficar mais um pouco. Não havia sido nem um pouco difícil, na verdade. Nós apenas pretendíamos fazer Namjoon se divertir tanto que esqueceria de olhar as horas. E aquilo funcionou.

Taehyung nos deu um abraço apertado antes de ir embora, e eu resolvi fazer o mesmo ao me despedir de Namjoon. Daquele ponto em diante, seguiríamos três caminhos distintos, cada um para a rua de sua casa. Eu era sempre o último a chegar, mesmo que tentasse passar pelas ruas estreitas entre quarteirões para cortar caminho. Deixei meus passos mais lentos conforme subia a mais íngreme delas, a última antes de virar a esquina de minha casa.

Foi aí que eu ouvi um ruído.

Vários, na verdade. Foram várias pancadas, como se alguém houvesse jogado algo de alguma janela, algo que foi esbarrando em paredes e outras janelas até chegar ao chão, a apenas alguns metros de onde eu estava. Era quase noite. Eu podia simplesmente ignorar aquilo e continuar o meu caminho para casa, para finalmente descansar até que meus pais chegassem, jantar com eles, e me enterrar debaixo dos cobertores.

Bem, era quase noite. Ainda havia um tempinho até que as ruas ficassem realmente escuras.

Entrei no beco de onde o barulho vinha, e foi necessário usar a lanterna do meu celular para conseguir encontrar qualquer coisa naquele monte de sacos de lixo e entulho. Eu estava quase desistindo quando comecei a perceber que eu nem fazia ideia do que estava procurando... até ouvir um miado. Um frio na barriga tomou conta de mim na mesma hora. O que eu ouvia era quase um choro, pois ele parecia estar com dor. Se era algo vivo que caiu por todos esses andares... eu precisava encontrá-lo logo.

Sem o mesmo cuidado de antes, agora eu procurava freneticamente pelo animal, e por sorte a pelagem dele se destacava bastante no lugar escuro em que estávamos. O pobrezinho chorou um pouco mais quando percebeu que foi encontrado, e eu o peguei com cuidado, temendo machucá-lo ainda mais. O gato de pelo claro, porém totalmente encardido, ficou imóvel em minhas mãos, encarando-me com gigantes olhos amarelos.

Ele parecia ter sofrido bastante. Além de estar terrivelmente magro, com suas costelas muito marcadas, ele tinha uma cicatriz em seu rosto, passando verticalmente por um de seus olhos.

— Uau, acho que você deve ter muita sorte de ainda ter esse olho. Está tudo bem, amiguinho! Você está seguro agora!

Eu dizia aquilo ao bichinho como se ele pudesse me entender. E também como se eu pudesse oferecer a ele um lar e comida apropriada. Bem, eu daria o meu jeito. Pelo menos por uma noite.

Foi também muita sorte encontrá-lo já tão perto de casa, afinal não foi muito difícil carregá-lo até lá.

Com o máximo de cuidado que eu poderia ter, eu me apressei em colocá-lo sobre um tapete macio assim que entrei em casa, onde ele poderia se sentir mais confortável. O gato tremia apavoradamente, nunca deixando de me encarar. Suas orelhas estavam abaixadas, e ele seguia miando tristemente.

climb to my roomOnde histórias criam vida. Descubra agora