climb to my room

Três

As horas se arrastavam para passar naquela sexta feira. Foi um desafio muito grande para mim conseguir agir normalmente na noite anterior, quando precisei receber meus pais em casa à noite na hora do jantar. Esconder um gato e ao mesmo tempo ter uma vida escolar já estava sendo cansativo no primeiro dia, e eu quase cheguei ao ponto de me arrepender do tamanho do meu comprometimento com toda essa situação.

O que me acalmava era que eu só precisava continuar com isso por mais um fim de semana, quando receberia os resultados dos exames de Seoltangie e poderia começar a preparar minha mãe e meu pai para a notícia. Eu passava horas mentalizando coisas positivas, para que no final das contas ele estivesse totalmente saudável e só precisasse, na verdade, de bons cuidados e um lar.

Meus pais nem passariam o dia em casa, mas eu fiz questão de trancar a porta do meu quarto e levar a chave comigo, para a escola. Lá dentro eu havia deixado a janela bem fechada, uma tigela com água e alguns dos meus moletons sobre a cama, para que Seoltangie pudesse ficar mais confortável.

E assim eu passei todo o meu dia na escola: sem focar apropriadamente em nada, apenas pensando no gatinho mais dócil do país que estava secretamente abrigado no meu quarto. É claro que Taehyung e Namjoon perceberiam algo esquisito em mim, afinal eu mal conseguia me conter. O máximo que eu me permiti dizer a eles foi:

— Hoje nós vamos para a minha casa depois da escola. Eu preciso mostrar algo a vocês antes de meus pais chegarem.

Não foi exatamente a minha intenção, mas meus dois amigos mais próximos enlouqueceram durante todo o período na escola. Eles pensavam inúmeras possibilidades do que poderia ser, algumas incrivelmente absurdas, mas nenhuma correta.

— Hyung, eu juro, se você estiver escondendo algo da gente, e dependendo do que for... eu não garanto qual será a minha reação. Se eu não me sentir confortável e quiser ir embora, eu vou, você está me entendendo? Você é meu amigo, mas eu tenho limites quanto a...

— Namjoon-ah! Relaxe! Você acha mesmo que eu vou fazer vocês serem cúmplices de um crime? É só uma novidade... algo legal demais, e que eu nunca poderia levar à escola.

— Viu só?! Se é algo que não pode entrar em uma escola, boa coisa não é. Hobi-hyung, eu juro, se você estiver me chamando pr...

— Você acha mesmo que o Hoseok-hyung iria fazer algo tão errado assim? - Taehyung interrompeu - Olhe bem pra ele, ele é o segundo melhor garoto da escola. O primeiro é você, Namjoon-hyung, é claro.

Eu sorri um largo sorriso para Namjoon, que grunhiu em resposta.

— Só me diga uma coisa. O que quer que seja isso que você está nos metendo... os seus pais sabem?

Mordi meu lábio inferior, segurando outro grande sorriso, e apenas com isso ele já sabia qual era a minha resposta.

Namjoon escondeu seu rosto com suas duas mãos, mas continuava andando na mesma direção que eu, a caminho de minha casa.

Foi muito difícil conter as minhas reações e limitar toda a minha euforia em alguns pulinhos durante o caminho, sempre seguidos do sorriso de Taehyung e da carranca de Namjoon, ambos ansiosos mas de maneiras totalmente opostas.

Destrancar a porta da frente foi uma tarefa cinco vezes mais difícil, considerando o quanto eu tremia em antecipação, já sentindo falta de Seoltangie (e torcendo para que tudo estivesse bem nesse primeiro dia escondido em meu quarto).

Ajudei meus amigos com suas mochilas e comecei a caçar em meus bolsos a pequena chave que abria a porta do meu quarto.

— Oh Céus, você passou uma tranca no seu quarto... - Namjoon comentou, suando frio.

Eu e Taehyung soltamos a mesma risadinha, e finalmente eu abri a porta.

Ufa. Tudo estava tão bem quanto no momento que eu o deixei sozinho. Lá estava ele, aninhado em minhas blusas de frio sobre a cama, dormindo tão pacificamente...

— Hyung! Um gatinho! Meu Deus, ele é lindo! - Taehyung dizia aos sussurros, temendo acordar o bichinho adormecido.

Chequei a expressão de Namjoon, e finalmente eu pude ver uma reação positiva vindo dele.

— Ele se chama Seoltangie. Eu que escolhi. Combina, vocês não acham? - Comentei, aproximando-me lentamente do gato sobre minhas roupas.

Assim que ouviu minha voz, Seoltangie abriu seus olhos lentamente, movendo-se devagar conforme se espreguiçava, se esticando todo. Sentei ao seu lado, e ele imediatamente veio até mim também, apoiando as duas patas da frente em minha perna.

— Eu... posso? - Namjoon perguntou, provavelmente se segurando muito para não pegar Seoltangie no colo de uma vez.

— Sim! Ele é muito bonzinho. Bom, pelo menos comigo. Acho que ele vai gostar de vocês também.

Namjoon encostou apenas um dedo atrás de uma das orelhas de Seoltangie. Ao perceber interesse do gato, ele passou a coçar seu pescoço. E quando Seoltangie fechou os olhos e começou a ronronar, Namjoon já estava completamente perdido.

— O que é isso no rostinho dele? - Taehyung apontou, ainda sem conseguir acesso ao gato pois Namjoon já o monopolizava.

— Ele tem várias cicatrizes, vocês viram? Jiwoo disse que é por ele brigar na rua, mas um gatinho como ele não me parece do tipo que sai arranjando briga com outros gatos de rua... Olhe só pra ele!

Agora Namjoon já estava completamente deitado no chão, observando cada movimento de Seoltangie sobre ele, com um enorme sorriso em seu rosto.

— Então a Jiwoo-noona já sabe? - Taehyung perguntou, seus olhos ainda grudados na atração principal.

— Sim, ela é a única que sabe. Eu mesmo cuido da limpeza do meu quarto aqui em casa, então não acho que vão suspeitar de algo. A noona está me ajudando bastante com isso... Amanhã um amigo dela vai examinar o Seoltangie de graça para mim! Não é incrível?

Taehyung segurou uma risada antes de dizer qualquer coisa:

— De... de graça? Eu não acho que foi de graça... também não acho que ele é só um "amigo"...

Levei alguns segundos para assimilar o que Taehyung realmente queria dizer, e de repente o meu almoço parecia ter voltado para o lugar de onde veio em meu corpo.

— Taehyung! Por Deus, por que é que você diz essas coisas? - Namjoon tentou me defender com palavras, pois eu só fui capaz de empurrá-lo para o chão.

Ele seguia rindo quando retomei meu ponto:

— Enfim, Seoltangie me parece bem saudável, mas nós estamos pensando em revelar tudo aos meus pais quando tivermos certeza de que ele não possui doença alguma. O que vocês acham?

Taehyung enfim conseguia acariciar Seoltangie, agora que Namjoon se dirigia a mim.

— Eu confesso, achei que seria pior. Você tem sorte de a sua irmã estar estudando para ser uma veterinária, hyung! Eu espero que tudo dê certo, pois eu acho que já amo o seu novo colega de quarto.

Um sorriso bobo tomou conta de meu rosto, e depois de "conversar" mais um pouco com Seoltangie, nós nos organizamos todos no chão, em volta do laptop que Namjoon havia trazido para assistirmos à tão tradicional seleção de filmes de péssimo gosto feita por Taehyung.