Sangue e Dor

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Mesmo que Jisung se negasse a sair, o lado de fora o assombrava, assim como se negava a dormir e seus pesadelos consumiam sua consciência de forma assustadora.

Jisung apenas queria fazer um café, estava três dias se negando a comer, quando finalmente conseguiu se levantar para ir fazer ao menos um café, mesmo que não suportasse o gosto de terra que sentia ao invés do sabor que tanto se lembrava.

O Han engoliu suas lágrimas, enquanto a água fervia, suas memórias passeavam no passado.
Suas lembranças doeram sua alma, enquanto sentia as lágrimas não aguentarem mas sendo presas e escorrendo por sua face, até pingar sobre suas mãos.

O soluço soou, ele não queria mais estar ali...

Seus olhos se voltaram para aquela água em ebulição, a pingando lentamente sobre o pó de café no coador.
O cheiro da cafeína o fez tremer, mais lembranças estavam o corrompendo, isso era ruim.

Quando piscou, não se viu em casa, estava numa lanchonete, aonde se lembrava bem até demais da mesma.

As paredes eram em um bege queimado, o chão de porcelanato branco, as mesas redondas de madeira com a base única no centro.
O Han arregalou os olhos, conforme via sua versão mais jovem entrar.

O jovem Han possuía olhos castanhos, coisa que não mudou, porém os fios, ao invés de pretos, eles estavam azuis, um azul petróleo lindo, que na época era algo revolucionário, algo julgado.

Seu peito se apertou, conforme era obrigado a seguir sua versão jovial, sem as olheiras das noites mal dormidas, sem a face descuidada pela perda, sem o cansaço da depressão.

Seus dedos tremiam, conforme via sua imagem se aproximar de uma mesa vazia.
Ele se lembrava daquela mesa.

Quando Jisung estava perto de se sentar, viu uma bolsa bonita de marca sendo colocada sobre a mesma.
Seus olhos seguiram a imagem do rapaz, era um lindo homem, de fios castanhos claros, olhos negros como a noite e ele era tremendamente belo.

O Han mais novo não teve reação e o Han mais velho sabia bem até demais, pois Minho era estonteante, formoso, ele era perfeito.

Seu corpo tremia e o Lee via isso, por esse motivo ele se preocupou, sorriu e pediu para sentarem juntos.

Foi assim que Jisung se apaixonou.

Seus olhos ardiam, vendo aquela imagem desaparecer, enquanto seu quarto estava a sua frente.
O Han já havia se acostumado a andar pela casa enquanto seguia uma memória sua em seu passado.

Seus olhos se encheram de lágrimas, queria que aquela lembrança fosse o momento de agora, pois doía menos do que a visão do Lee deitado sobre a cama, o sangue consumindo o lençol branco e a face tão linda estando pálida e sem um pingo de vida.
O Han gruniu, conforme se aproximava e via os fios castanhos claras espalhados pelo travesseiro de forma tão bagunçada, queria tanto que aquilo fosse só um pesadelo.

Seus dedos tocaram o rosto do falecido, conforme sentia a temperatura fria, passava a acaricia-lo, queria tanto que ele estivesse bem... Mas Jisung já havia se acostumado a ver Minho falecido, ele sempre estava assim, em toda sua casa ele estava assim.

O Han suspirou, percebendo o cheiro de café, quando piscou, percebeu que estava em sua cozinha e o café estava transbordando, sujando toda a pia, o chão e seus pés.

Jisung resmungou, sentindo as mãos frias acariciarem seu rosto, numa tentativa de afagar a dor que sentia.

– Calma, amor... É só um café. – a voz suave sussurrou, conforme o toque frio descia para a sua garganta, até esmagar em seus dedos.

O Han gritou, o ar faltou em sua garganta, se sentia debatendo-se sobre as mãos, a imagem do Lee falecido comia sua alma viva, queria gritar mais, queria pedir perdão, mas o ar não existia ali, não conseguia mais respirar.
Mesmo quando sentiu seu corpo cair fraco quando o homem falecido o soltou, o Han ainda estava sem ar.

Sua visão estava turva, a asma estava atacando com um força prestes a tirar seu pulmão fora, quando sentiu uma pequena mão em sua boca, a obrando a se abrir.
O Han abriu os olhos, mas não via nada, estava agonizando, até sentir a forte pressão de ar vindo da bombinha posta sobre sua boca.

Lentamente seus olhos voltavam a enxergar.
O Han acreditava se tratar de Felix, que havia feito a cópia de sua casa após o surto do Han a três dias atrás.
Porém quando sua visão voltou, apenas havia Minho ali, o Minho bonito e jovial, com um sorriso nos lábios e a bombinha de Berotec em suas mãos.

– Você não tomou suas Aspirinas de novo? Meu amor... – os lábios do mesmo tocaram com os seus, sentindo algo mover em sua boca.

O Han arregalou os olhos, empurrando a imagem a sua frente.

Jisung gritou, não havia nada ali e a bombinha estava caída mais a frente.
O Han queria vomitar, seu corpo se moveu por desespero até a pia, ignorando todo o cenário destorcido, até vomitar.

O sangue escorreu ralo a dentro, junto aos vermes que escorriam com uma quantidade absurda.
Seus olhos se enxergam de lágrimas, voltando a vomitar, desta vez apenas de nojo e ansiedade, notando sair apenas sua bile.

O Han se encolheu em um abraço solitário, olhando o coador, o bule e a caneca.

Ele nem havia colocado a água para ferver...

Other side of the Mirror ( MinSung )Onde histórias criam vida. Descubra agora