Assassino

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Seus dedos tremiam, seus olhos vacilavam em lágrimas, enquanto a faca lentamente escorregava no cadáver.
Os órgãos expostos eram nojentos, ainda mais por estar com as mãos dentro de seu corpo, precisava achar seu coração, não era um gênio de ciência, biologia ou anatomia humana, mas sabia que o coração deveria ficar ali.

Foi quando ao invés de um coração, achou um objeto metálico.

Seu coração pulou uma batida, a dor atingiu sua alma, vendo o corpo falecido no chão de sua sala, a feição tão tranquila enquanto sabia que ele jamais acordaria.

Seus dedos tremeram mais, a ansiedade lhe atacava, enquanto percebia a merda que havia feito.

Felix usava marcapasso, ele não tinha um coração funcional, não adiantaria, ele precisaria de um coração que ainda pulsasse uma última vez.

Seu grito de dor se fez presente, enquanto abraçava o corpo do Lee a sua frente.
Havia matado seu vizinho que tentou tanto o ajudar e a troco de quê? Foi inútil.

As lágrimas e soluços eram o coro local, enquanto a dor e o sofrimento formavam o hambiente, seu corpo perdeu a força, caindo para trás antes de perceber o estado que estava.

Havia sangue em todo o seu redor, seu corpo estava ensanguentado, ao seu lado havia um cadáver.

O que faria? Enterrar era uma boa opção, o corpo já estava aberto... Mas seria complicado se alguém descobrissem, achar um corpo é fácil, deveria cavar oito palmos ao invés de sete, pois menos que isso o detector acharia.

Se bem que poderia acontecer tanta coisa... Seria melhor só jogar na água depois de botar pedras dentro dele... Mas aí se costurasse errado o corpo retornaria.

Ignorando seus pensamentos, ainda em lágrimas, o Han caminhou para o banheiro, se lavando corretamente antes de queimar suas roupas dentro da banheira seca.

Sem se vestir, Jisung puxou o corpo falecido para a banheira em seguida, deixando o fogo tomar conta daquele corpo.
Pelo menos se algum acidente acontecesse era só botar culpa no chuveiro, ninguém iria descobrir.

A janela se abriu solitariamente, enquanto passos soavam ao seu redor.
As portas se batiam, os espelhos trincavam e o Han se encolheu, apertando a mão decepada do cadáver contra seu corpo.

O chão frio entrou em contato com sua pele nua, o fogo ao lado o esquentava, mas por algum motivo, tudo parecia tão frio.

Ouvia sirenes, ouvia gritos, eram os gritos de Felix, ele implorava por misericórdia, implorava por perdão.

Qual o motivo de pedir perdão? Felix não fez nada de errado... Ele era um bom vizinho.

Jisung engoliu o choro ao sentir alguém tocar seu rosto, o erguendo para cima, a tempo de ver o rosto ensanguentado de Minho.

O rapaz parecia tão bonito, ele estava ali, a sua frente.

O Han sorriu, esticando suas mãos na direção do amado, o puxando para si, o abraçando, enquanto ouvia os gritos de Felix e o fogo consumir o corpo falecido.

Sua cabeça não parecia bem, mas pelo menos Minho estava ali.

Com um abraço frio, Jisung deixou o sono o atingir.
Seus sonhos não existiam, apenas mais gritos, garras nas paredes e giz em quadro negro.

Seus pés tremeram, acordando com um toque gélido em seus dedos do pé.

Não havia notado que dormiu no banheiro, parecia tudo como deixou, por excessão que o corpo estava intacto, como se o fogo nunca tivesse o tocado.

O Han suspirou, o fedor de morte já atingia o cômodo, via larvas querendo surgir da pele do falecido.
Porém o rapaz se movia, parecia respirar.

Suas mãos tremeram, arregalando os olhos antes de se aproximar.
O grito escapou mais uma vez, sua garganta se fechou de pavor, quando a mão do falecido agarrou seu braço, sendo esta a mão que nem deveria estar ali, pois havia sido decepada.

Quando o Han abriu novamente os olhos, seu peito se acalmou.

Estava na sala, o corpo cremando e a casa parecia se incendiar junto ao cadáver.
O Han sorriu, pelo menos estava tudo bem.

Mesmo com a polícia invadindo sua casa devido aos gritos de Felix e aos surtos de Jisung, mesmo sendo preso por assassinato, mesmo que não desse a mínima para as palavras do juiz, estava tudo bem.

Estava tudo ótimo, pois Minho estava ali, sentado ao seu lado.

Mesmo com seu corpo podre e convulsionando espuma e sangue, estava tudo bem, pois era Minho, então não sentia nojo, estava tudo bem.

Quando mais uma vez abriu os olhos, Jisung gritou.

Estava em casa... E Felix batia em sua porta.

– Jisung? Está tudo bem? Ouvi seus gritos! – o Lee gritava, enquanto Jisung novamente gritava apavorado.

Não queria ver ninguém.

Ele era um assassino.

Other side of the Mirror ( MinSung )Onde histórias criam vida. Descubra agora