Capítulo 25

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CAPÍTULO 25 - UM MEMBRO.

A escada, iluminada apenas por archotes, parecia longa o suficiente para fazer até mesmo um invasor desistir de continuar o caminho. Mas Florence não demonstrou seu cansaço ou desconforto a medida que descia cada degrau, porque ninguém mais parecia sentir o mesmo.

Edmund e Alexander ainda riam com a reação de Florence que ia logo atrás da mulher, a qual agora estava silenciosa e parecia não escutar absolutamente nada atrás de si – embora mantivesse um sorriso nos lábios, como se estivesse satisfeita com a situação ao seu redor.

-Sabe – Florence começou a falar, não suportando mais os murmúrios dos dois as suas costas – Eu não perguntei seu nome.

-Realmente – a mulher concordou.

-Bem, então...

-Ah, isso foi um convite para eu dizê-lo a você?

-Acho que sim – respondeu, incerta.

-Os mundanos têm costumes estranhos – comentou, olhando para um ponto qualquer pensativa.

-Mas sou Filha da Noite.

-Sim, só que foi criada como mundana. Me pergunto o porquê deles não simplesmente perguntarem alguma coisa e complicarem tudo... Não se ofenda, por favor, não estou rindo de você ou caçoando, apenas é uma questão – Florence não estava e tampouco pareceu ofendida, fazendo a mulher em sua frente prosseguir, aliviada – Meu nome é Sinia.

-Tenho a impressão de já ter falado ou escutado sobre você – ela pensou um pouco – Trabalha em alguma loja de roupas no final de semana?

-Não que me lembre.

-Ah, sim, Edmund me disse que você possui dons! Que é capaz, na verdade, de mexer com os sonhos.

-Eu não colocaria assim, tipo mexer com os sonhos, sabe? Afinal, são sonhos, os complexos caminhos para chegar a alma – ela riu – Mas fico muito honrada que se lembre de mim... Então, bem, Edmund?

-Sim? – o homem atrás de Florence respondeu.

-Não, não estou falando com você - Sinia puxou Florence para mais perto e sussurrou para a garota – Chama seu pai de Edmund?

-Não é o nome dele? – desceu mais alguns degraus, confusa.

-Sim, é, mas é seu pai.

-Ainda não entendo.

-Chama seu pai pelo nome?

Agora pareceu que os murmúrios entre Edmund e Alexander haviam finalmente cessado. O único barulho vinha do fogo que crepitava ao lado de ambos e dos passos contra a pedra dura de que era feita a escada interminável.

-Eu, sinceramente, não vejo motivo para chama-lo de forma diferente – e com convicção caminhou mais rápido, quase passando de Sinia.

O caminho continuou, embora mais silencioso do que o normal e Florence estava realmente começando a se perguntar se teria sido uma boa escolha ir conhecer a Irmandade, enfrentar tanto para isso. Ela sentia-se envergonhada por ter dado aquela resposta sendo que sabia, perfeitamente, que o pai e Woodley a escutavam bem. Mas, ao mesmo tempo, estava começando a se irritar com toda aquela situação e achou, por fim, que fez bem em deixar as palavras escaparem de sua boca.

Desde que percebeu que seu pai estava exatamente em sua frente – depois de chorar quando criança chamando por ele – ela parecia ter percebido que o vínculo entre eles, como certamente há entre pai e filha, não existia. No começo, gritou para si mesma que não era hora de se lamentar, afinal estava correndo perigo e ignorou o que pensava e até sentia, mas, depois de certo tempo transcorrido, não conseguia dizer a si mesma para parar de sentir o que sabia que não conseguiria.

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